O ano começou tumultuado no setor de bebidas. Dólar ainda em alta, aumento nos preços ou falta de matérias-primas afetam diversos players do mercado.
A Heineken, por exemplo, alertou há duas semanas que deve reajustar preços em escala global. O motivo: aumento nas despesas com energia e transporte, no custo do alumínio e falta de vidro no mercado global. O recente conflito na Ucrânia deve complicar ainda mais este cenário.
A Coluna ouviu três especialistas sobre o cenário de 2022. Além das questões de mercado – eles indicam algumas tendências para os setores de cervejas, vinhos e destilados.
______
VINHOS E ESPUMANTES
Há três tendencias que eu posso destacar para 2022… Primeiramente é a retomada do enoturismo aqui no Brasil. As vinícolas nacionais estão comemorando bastante porque, depois do período mais agudo da pandemia, estão tendo uma demanda muito significativa de visitantes. Isso é muito bom para vinícolas, hotéis, restaurantes e toda uma cadeia produtiva.
A segunda a questão é a embalagem dos vinhos, que pode ficar mais fina. O motivo é que há uma falta de vidro do mundo. Então é provável que as garrafas de vinho sejam repensadas. Ou então o que vai ganhar destaque são as latas e bag in box, as caixinhas de vinho.
Por fim, percebo que vai ser um ano de provas de vinhos diferentes aqui no Brasil. Uma pesquisa recente mostra que 76% dos entrevistados se dizem aptos a conhecer novos estilos e uvas diferenciadas. Isso é muito bom, porque por muito tempo brasileiro só provou vinhos convencionais como o Cabernet Sauvignon e Merlot. Agora está aberto para provar vinhos de lugares e de estilos diferentes. E isso é muito bom.
Heloise Violène Guil Chociai – Sommelier e Wine Influencer. Administra o perfil @ladyinredwines. Com humor, ajuda a desmitificar o mundo do vinho, apresenta empreendedores, rótulos interessantes, e boas vinícolas.
______
DESTILADOS E BEBIDAS MISTAS
No setor de cachaça a gente vai ver um crescimento dos blends. As marcas estão apostando em produtos mais premium. Então a gente vai ver garrafas cada vez mais bonitas, bebidas mais envelhecidas, blends de madeiras brasileiras… Eu acho que neste ano vão despontar algumas madeiras específicas, novas madeiras, e com isso, novos blends. E sempre com foco no mercado de maior valor agregado. Vamos ter cachaças especiais disputando mercado com o whisky. E isso é muito importante para valorizar a bebida.
Quando se fala de fermentados, a gente percebe um destaque crescente para as bebidas mistas. Me refiro a aquelas que são aromatizadas ou saborizadas com ingredientes mais naturais, sabores exóticos ou diferentes.
Aline Bortoletto – Cientista de Alimentos, é Pós-doutora em Ciência e Tecnologia de Alimentos, pela ESALQ-USP com ênfase em Tecnologia de Bebidas. É fundadora e CEO da Inovbev, instituição que presta consultorias e realiza cursos na área de destilados e bebidas mistas.
______
Na minha visão além do retorno em peso do consumo in loco em bares e restaurantes, que foram afetados pela pandemia, em 2022 os serviços de delivery e os clubes de cerveja deverão se manter ou crescer.
As artesanais devem ocupar um espaço ainda maior, principalmente entre as classes mais altas. Este público se convenceu da qualidade das cervejas oferecidas e passou a atribuir a alguns rótulos um status que antes era exclusivo de vinhos, espumantes e destilados premium.
Sobre estilos acredito que a queridinha New England IPA, que agora passa a se chamar oficialmente Hazy IPA, continuará a ganhar espaço no copo dos consumidores. Assim como as lupuladas em geral e as famigeradas Brut IPA, Milkshake IPA e outras cervejas com adição de lactose, frutas, açúcares e insumos inusitados.
Outra tendência que vem com tudo são as Smoothie Sour. É uma cerveja ácida com adição de muita fruta como banana, açaí e lactose. Tem aparência de smoothie, corpo denso, e equilíbrio entre acidez lática com dulçor das frutas e da lactose.
Sal Santos – Cervejeiro caseiro desde 2014, integra a Acerva-SC onde foi diretor de marketing por três anos. Desde 2018 acumula medalhas em concursos cervejeiros caseiros nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e na Copa Acerva Brasil 2021, realizada em Brasília (DF).
