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A ‘glamorosa’ vida de repórter – parte II

A 'glamorosa' vida de repórter – parte II
Lagoinha do Leste,Florianópolis – foto: site Uma turista nas nuvens

Está difícil de falar sobre coisas amenas. Um número não sai da cabeça da gente: 500.000. Quinhentas mil!

Mas, promessa é dívida e prometi que iria contar mais algumas histórias, mostrando que vida de repórter não é só “glamour”. Depois do frio e das abelhas, qual o problema de uma pauta numa linda praia? Ou entrevistar um galã e modelo num lugar parasidíaco? E que ofensa pode cometer uma repórter tão educada? Pois é…

 

3° episódio – A estreia

Juro que não foi maldade daquelas que chefes costumam fazer com os novatos. Lá pelo final dos anos 90, recebi um jovem jornalista vindo de Santa Maria, Rio Grande do Sul, candidato à vaga de repórter. Combinamos dele começar no dia seguinte. Fabian chegou todo bonito, gel no cabelo, blazer verde e gravata. Na hora de distribuir as pautas eu disse que ia dar um presente de boas vindas para ele:

Vais conhecer um dos lugares mais bonitos da Ilha, disse eu, piscando o olho.

Era a Lagoinha do Leste, uma praia isolada, área de preservação ambiental, onde só se chega a pé. E lá se foi o bravo repórter, fazer a famosa trilha e enterrar seu melhor par de sapatos na areia. Voltou horas depois, suado e cansado, mas não reclamou. Fabian fechou uma bela matéria. Foi inesquecível para nós dois.

Hoje, Fabian Londero é editor-chefe de um dos principais telejornais de Santa Catarina. Gosto de contar essa história para quem está começando. Acho um belo aprendizado para novos repórteres que não querem sujar os sapatos na lama, como aquela que contei na edição passada.

 

4° episódio – A praga

Um dia o editor a chama e diz: você vai entrevistar o Paulo Zulu. Alegria total da repórter que se prepara para embarcar para Florianópolis. Mas, nem sempre tudo sai como o desejado. Esta história aconteceu com uma importante repórter nacional. Na afiliada teríamos que providenciar cinegrafista e motorista para levá-la à Guarda do Embaú, onde o modelo morava.

Ela me liga no dia marcado, avisando que havia chegado na noite anterior, mas acordara com o rosto inchado depois de um tratamento de canal iniciado no Rio. Pediu mais um dia para se medicar e recuperar. Na manhã seguinte, me ligou perguntando se eu podia ir até o hotel olhar o rosto dela para avaliar (ainda não existia mensagem de vídeo, gente). Saí da TV e chegando lá concordei que a face estava mesmo muito inchada. Fui sincera e ela, chateada, disse que  jamais tinha voltado para a redação sem uma matéria. Acabou decidindo ir assim mesmo. O cinegrafista faria imagens dela de costas ou só do outro lado. Pegou suas coisas, se olhou no espelho pela última vez antes de sair e disse:

– Foi praga do meu namorado quando soube que eu ia entrevistar o homem mais bonito do Brasil!

 

4° episódio – O casal

Quem a conhece sabe, a jornalista Márcia Dutra é uma lady. É também uma daquelas repórteres que sempre dá um jeito de salvar a pauta. Havia dois exemplos marcados para a matéria que ela saiu para fazer: um casal e mais uma pessoa em outro endereço. Chegando primeiro na casa da dupla, ela recebeu um telefonema da produção avisando que o segundo personagem desmarcara a entrevista. Márcia apresentou uma solução para a produtora:

– Então vou separar o casal e gravo com cada um deles separadamente. Assim, ficamos com dois depoimentos.

Acontece que a mãe da entrevistada ouviu e, sabe-se lá porque tipo de trauma, entendeu outra coisa. Começou a gritar com a Márcia que aquilo era um absurdo, que estava cheio de gente ruim no mundo separando as famílias.  Quem a repórter pensava que era para entrar na casa dela e separar um casal? Nada conseguiu acalmar a senhora. Ela continuou achando que a Márcia era uma femme fatale perversa e pediu para a equipe ir embora. Não lembro mais o destino da reportagem, mas garanto que ela deu um jeito.

(Brígida De Poli)

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DICAS

SÉRIES

Sweet Tooth – 8 episódios – Netflix

Sugestão e texto da minha amiga, a produtora cultural e escritora, Dedé Ribeiro

Foi cheia de dedos e com um pé atrás (quase uma contorcionista) que assisti Sweet Tooth, apesar de ver muitos conhecidos empolgados nas redes, até com focinhos pintados! 

Explico: não sou fã de fantasia, de super heróis e ficção científica padrão.

Mas essa obra baseada na HQ de Jeff Lemire não é nada disso, afinal, se passa num tempo quase presente, em que um vírus se espalha de forma descontrolada, matando muitas pessoas.  Ou seja, normal.  O que muda é que, ao mesmo tempo, começam a nascer crianças híbridas. Meio humanas, meio animais (bichos aleatórios, fofíssimos), que os humanos entendem como perigo. Fake news! 

A série é a saga do protagonista Gus, um menino-cervo pra lá de mimoso que procura sobreviver.  Emocionante e rápida, a história tem momentos de suspense e medo, mas são rapidamente desfeitos.

Talvez não seja recomendada para quem não está vendo luz no fim do túnel covid, mas é uma bela diversão em família. Produção de Robert Downey Jr e Susan Downey para a Netflix.

 

 

Departamento Q –  Dinamarca -2013 a 2020

Esta minissérie dinamarquesa, em quatro episódios, tem todos os elementos para agradar os fãs do gênero policial/suspense. Um detetive em decadência por suas esquisitices ganha um parceiro árabe no Departamento Q. Instalados no porão da delegacia são incumbidos de ler relatórios e arquivar casos antigos. Mas, claro, eles percebem que um desses casos não deveria ter sido encerrado. Recomeçam a investigar, contrariando as ordens do chefe. Assim, continuarão a cada episódio, investigando um crime dado como encerrado. O último, “Em busca de vingança”, é um catálogo de cenas de violência: assassinato, estupro, experiências ilegais com pacientes, tem de tudo. Acabou sendo uma das produções de maior sucesso da história da Dinamarca.

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FILMES

Coletânea Balcãs – Belas Artes à la carte

Esta é uma coletânea de produções de uma região que possui uma filmografia interessante, mas pouco conhecida: os Balcãs! São nove filmes dos seguintes países: Bulgária, Croácia, Turquia e Macedônia do Norte. Inclui também “Quando papai saiu em viagem de negócios” (1985), um filme da ex-Iugoslávia, filmado na Bósnia e Herzegovina. Este foi o segundo filme do diretor Emir Kusturika que assisti, depois de descobri-lo com “ Você se lembra de Dolly Bell?”.

Um dos filmes disponíveis é Os filhos do padre, dirigido pelo croata Vinko Bresan.

Em uma pitoresca vila na Dalmácia, há mais funerais do que nascimentos. Fabian (Kresimir Mikic) é um jovem padre indicado para ser o novo pároco desse lugar. Ao ouvir a confissão de um dos fiéis, ele descobre que a baixa natalidade é culpa da alta venda de preservativos. Horrorizado e querendo modificar essa situação, ele tem uma brilhante e drástica ideia: perfurar todas as camisinhas antes que elas sejam vendidas. Para isso, se junta ao jornaleiro Petar (Niksa Butijer) e ao farmacêutico Marin (Marija Skaricic). Só que o “milagroso” “boom” de bebês causa consequências inesperadas. (Sinopse: Adoro Cinema)

 

Almodóvar no Prime Vídeo

O Prime traz uma alegria para os corações almodovarianos como o meu e uma oportunidade para quem não conhece o trabalho do grande diretor espanhol. São cinco títulos importantes, mas senti falta de “Tudo sobre minha mãe”, meu favorito.

“De saltos altos”, “Mulheres à beira de um ataque de nervos”,  “Carne Trêmula”, “A flor do meu segredo” e o mais recente longa de Almodóvar, o maravilhoso “Dor e Glória”.  Bom para fazer uma maratona enquanto a gente aguarda “Madres Paralelas” que ele acabou de filmar.

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BÔNUS

Duas opções gratuitas:

Festa do Cinema Italiano – Canal Looke

Peço desculpas por indicar o festival, faltando dois dias para encerrar. Mas, ainda dá tempo de ver alguns títulos do cinema italiano. A programação muda sempre às 18horas e fica disponível durante 24 horas. Não dá pra perder.

 

Itaú Cultural Play

Uma plataforma de streaming dedicada ao cinema brasileiro é uma ótima notícia!  Já tem mais de cem títulos. São filmes, séries, programas de TV, festivais e mostras temáticas e competitivas, além de produções audiovisuais de instituições culturais parceiras. Basta se cadastrar.

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THE END

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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