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A Outra Pele – o filme que tem o Pântano do Sul como cenário

A Outra Pele – o filme que tem o Pântano do Sul como cenário

Quem conhece o Pântano do Sul, conhece o tradicional Bar do Arante e todo seu encantamento. Milhares de bilhetinhos escritos por pessoas de várias partes do mundo, pregados nas paredes e teto desse lugar que existe desde 1958 na beira da praia, em Florianópolis. Ele é parte do cenário da coprodução “A Outra Pele”, filme que estreia dia 12 de agosto, no cinema do MULTI Open Shopping, seguindo todos os protocolos sanitários.

Dirigido pela cineasta argentina Inés de Oliveira Cézar, a obra carrega elementos da cultura açoriana, com destaque para nossa praia exuberante, valorizada pela fotografia.

O Bar do Arante foi uma das locações para esse filme que tem cenas da protagonista, a atriz argentina María Figueras, contracenacenando com nosso estimado Arantinho, filho do fundador do bar (Arante Monteiro).

Essa parceria com o audiovisual da Argentina não é uma novidade para a Plural Filmes – produtora que tem sede no Rio de Janeiro e em Florianópolis. Em 2020, foi lançada na Paramount Channel a série Submersos, que foi rodada em Córdoba e na Capital Catarinense. Outra experiência da Plural em coprodução com a Argentina foi “Lua em Sagitário” (2016), primeiro longa dirigido por Márcia Paraíso e que teve reconhecimento no Brasil e exterior, inclusive com prêmios internacionais. Agora, a Plural lança “A Outra Pele”, com produção executiva no Brasil de Ralf Tambke, que pega emprestado toda a beleza e melancolia das paisagens da Ilha, bem como os elementos afetivos da cultura açoriana, para agregar ao roteiro da produção.

 

A trama

“A Outra Pele” conta a história de Abril (María Figueras), que tenta dar um sentido à sua vida. Ela deixa o teatro do mundo e a representação que a cerca e viaja para se encontrar (ou se perder) impulsionada por um romance de final incerto. Nessa jornada, entre a solidão, bebidas e mergulho profundo na própria existência, ela se depara com elementos do Sul da Ilha em Florianópolis que trazem mais leveza à trama – um dos pontos altos é o encontro com a benzedeira Tia Ilda (que veio a falecer em 2018, aos 104 anos), no famoso bar do Arante, um dos locais mais frequentados pela personagem. 



A diretora

“Depois de pesquisar locações para filmagem em diferentes lugares do Brasil, elegi Florianópolis por vários motivos. Mas o mais importante foi que, quando cheguei ao Pântano do Sul, encontrei meu crush definitivo, a história que desejava contar teria que ser filmada lá, sem dúvida. O povoado de pescadores que, fora da temporada, parece um lugar fora do tempo, desconectado do mundo, profundamente belo e ao mesmo tempo perturbador pelo murmúrio permanente das ondas do mar que se agitam, pelas tormentas, pelo som longínquo das aves que voam em busca do resto da pesca do dia, deixado pelos pescadores no retorno à costa, foi o cenário perfeito para contar essa história a partir do ponto de vista de Abril, a protagonista” conta Inés De Oliveira Cézar, diretora argentina do filme, sobre o motivo da escolha de Florianópolis como cenário predominante da trama.

 

Protagonista

A protagonista da trama, a atriz argentina María Figueras, revela sobre o processo de desenvolvimento do filme: “Anos de gestação do filme com Inés em extensas e inspiradoras conversas, seguindo a trilha da minha personagem Abril. Anos em que fomos trocando peles até que finalmente o filme apareceu em plena ação. De repente, uma filmagem intempestiva em que Abril se apropriava de seu balbucio, distorcendo a trama até que se tornasse insuportavelmente dela.

 

Coprodução

 

Ralf Tambke, da Plural Filmes, responsável pela coprodução do longa no Brasil, conta sobre a experiência: “Nós, da Plural Filmes, acreditamos no potencial que Santa Catarina e Florianópolis têm para este tipo de projeto em coprodução, em especial com a América Latina. Estes projetos ampliam o mercado e a possibilidade de público, além de ser uma forma autêntica de difusão da cultura de ambos países coprodutores. Filmar em Florianópolis é uma experiência que sempre traz bons frutos, precisamos investir na preservação das riquezas naturais e culturais da ilha garantindo qualidade de vida para todos e o valor agregado que o audiovisual precisa”. 

 

 O contentamento do Arantinho

 

Arante Monteiro, o Arantinho, que hoje conduz o bar criado pela família, está feliz com a estreia do filme. “Foi uma experiência muito boa participar pela primeira vez de um trabalho de cinema e em que a Ilha foi escolhida. Florianópolis tem uma relação muito grande com os argentinos, porque há muitos anos eles vem passar as férias, passear, o que faz a gente ter uma proximidade com os hermanos e isso é muito bonito. Esse trabalho, mostrando a ilha, nosso jeito, falas e costumes, valorizando pessoas como a Tia Ilda, na época com 101 anos e uma das últimas benzedeiras da região e que sempre recebeu muito bem todos, foi uma valorização pela qual sou muito  grato.”

Dá uma olhada no trailer!

https://www.youtube.com/watch?v=He-TPFacKxM

 

Agora, em primeira mão, um bate papo exclusivo com a diretora Inés de Oliveira Cezar, com o produtor Ralf Tambke, da Plural Filmes, e também com a protagonista de “A outra Pele”, a atriz argentina María Figueras. Tudo traduzido e costurado pela maravilhosa Linete Martins, que sempre mergulha em todo trabalho de assessoria, trazendo à tona a profundidade da obra.

 

Entrevista da diretora Inés de Oliveira Cezar

 

 

Conte como começou a conversa com a Plural Filmes para a produção de “A Outra Pele”…

Conheci o Ralf (Tambke) através da minha sócia, Saula Benavente. Uma noite fomos jantar em um típico restaurante argentino do bairro de La Boca. Saula estava trabalhando com ele na produção dirigida por Marcia Paraíso (diretora do filme “Lua em Sagitário”). Nos entendemos muito bem e, do encontro, surgiu a possibilidade de trabalharmos juntos no meu novo filme, A Outra Pele.

 

Como você avalia a importância das coproduções, principalmente nos países da América Latina?

As coproduções latino-americanas são essenciais para estimular a indústria da região e o impacto cultural proposto pelo intercâmbio entre países irmãos. Existem alguns temas comuns, que são enriquecidos enormemente quando compartilhados, os pontos de vista são ampliados e a empatia abre novos universos que de outra forma não seriam possíveis. 

O problema que temos na Argentina é a diferença com o dólar em relação aos outros países como o Brasil; é complexo montar os orçamentos porque o dólar é muito instável na Argentina e há várias taxas de câmbio. Então, acho que se existissem políticas regionais mais elaboradas a fim de estimular e facilitar coproduções, poderiam fazer crescer a indústria audiovisual regional.

 

Por que você escolheu o Pântano do Sul como locação, no Brasil?

Quando cheguei no Pântano do Sul, e depois de ter feito turismo em outros lugares de Florianópolis, não tive dúvidas, foi uma paixonite. Neste filme a importância do local é fundamental, pois atua como um personagem.

O Pântano no inverno tinha todas as virtudes para se tornar esse personagem. Misterioso, por alguns momentos calmo e bucólico, tempestuoso e perigoso, solitário e amável. E todas essas coisas tiveram que acontecer naquele retiro da protagonista para acompanhar seu processo interno. O Pântano pôde se exteriorizar com suas imagens e sons, o futuro desta mulher em crise.

 

Como tem sido trabalhar com cinema, no momento?

Trabalhar com o cinema autoral é e sempre será uma relação de amor, com fortes tensões, momentos de sofrimento, de paixão, conquistas que se sente como titânicos, não importa o quão pequenos possam parecer aos olhos de alguém, que não está nesse processo.

E há os problemas de orçamento, que são complexos. Existem muitas decisões a serem tomadas porque normalmente o orçamento não é suficiente para tudo o que se deseja. É nesse momento que o exercício do cinema obriga a esculpir aquela pedra com as ferramentas que se tem, sejam eles mais ou menos sofisticados, para alcançar o espírito do filme que você se propôs a realizar.

 

Cada vez mais, as mulheres estão expandindo seu papel também no cinema. Como você vê esse movimento?

O movimento de mulheres que lideramos é esplêndido, imparável, produtivo, necessário e bem-vindo. Somos cada vez mais mulheres ocupando papéis no audiovisual; cineastas, editoras, roteiristas, engenheiras de som, produtoras. O cinema feito por mulher cresceu muito nos últimos 15 anos. E, num período mais recente, começou a dar frutos, atrair público porque não podemos esquecer que 50% do o público é composto por mulheres que vemos há muitos anos filmes feitos principalmente por homens e agora temos a  possibilidade de escolher.

 

Bate bola

Uma mania –  Eu gostaria de ter apenas uma!

O que mais admira – Sabedoria

O que não suporta – Preconceito

Um lugar – Istambul

Palavra – Devenir

Saudade – Meu primeiro grande amor

Uma viagem – Música

Uma bebida – Vinho tinto

Um ídolo – Andrei Tarkovski

Felicidade para você é – Amor pela vida, por meus amigos.

Um sonho – Nunca pare de sonhar.

Ralf Tambke, produtor executivo da Plural Filmes

 

 

Como surgiu a parceria para coprodução do “A Outra Pele”?

“A Outra Pele” é fruto de uma parceria internacional que já tinha dado certo com o nosso filme anterior, “Lua em Sagitario”. São projetos em coprodução natural, ou seja, além de compartilhar talentos tanto argentinos como brasileiros, guardam elementos culturais de ambos os países. Nós, da Pluralfilmes, acreditamos no potencial que Santa Catarina e Florianópolis têm para este tipo de projeto em coprodução, o que significa coinvestimento para realizar uma obra cinematográfica. 

 

Qual a importância das coproduções internacionais para o audiovisual independente brasileiro?

Os projetos em coprodução compartilha investimentos, ampliam o mercado e a possibilidade de público, além de serem uma forma autêntica de difusão da cultura de ambos países coprodutores. Sabemos que pela cultura é que se criam oportunidades de negócios de exportação e de turismo.

 

Coproduzir com o Mercosul é uma forma de romper barreiras culturais e fortalecer uma proximidade. Gostaria que você falasse mais sobre isso…

Sem dúvida o Brasil e, em especial Santa Catarina tem muito a ganhar com o Mercosul, imagina o que significa para o turismo de Florianópolis quando o público estrangeiro seleto assiste boas histórias nas salas de cinema da Argentina, Uruguay e demais países latinoamericanos…

Podemos imaginar também que, para esses mercados, uma empresa brasileira exportadora que compete com outra empresa de um país distante com menos afinidade cultural, a brasileira levará vantagem se nossos bens culturais estiverem circulando no Mercosul….

 

Há projetos futuros de coprodução com países latino americanos? 

Sim, a Plural Filmes tem hoje projetos com Argentina, Uruguay, Panamá, Espanha e Portugal…a maioria deles com financiamento parcial garantido. Contudo, além das dificuldades impostas pela pandemia, estamos enfrentando um momento de completa falta de políticas públicas federais para a cultura.

A paralisação do governo federal atrapalha as coproduções, assim como as produções nacionais. Lamentável, pois vínhamos em uma curva crescente na presença e relevância internacional, é muito difícil e demorado conquistar relevância internacional e hoje temo que estejamos perdendo muitas oportunidades para o Brasil.  

Por outro lado, estados como SC, que têm muito potencial com suas paisagens e talentos, pode dar o “pulo do gato” se conseguirmos políticas públicas locais para incentivar as coproduções, em especial com nossos vizinhos Argentina, Uruguay e Paraguay.

 

Essa não é a primeira produção que a Plural Filmes realiza em Santa Catarina, envolvendo profissionais do estado. Como tem sido essa escolha?

A Plural Filmes existe desde 1994 no Rio de Janeiro e veio para Florianopolis em 2004. Nossa presença e paixão pelo estado se deve muito a oportunidade que tivemos de produzir documentários para o SC em CENA, um programa da RBS que, na época, tinha uma excelente audiência no estado e valorizava a diversidade catarinense, tenho certeza que a audiência sente falta daquele programa.

Desde então, sempre que temos oportunidade de trazer ou desenvolver projetos em Santa Catarina, o fazemos porque sabemos que aqui há excelentes condições de produção; temos talentos, paisagens preservadas, qualidade de vida e uma infra-estrutura razoável em comparação com os demais estados brasileiros…

O Audiovisual investe mais de 80% dos seus orçamentos de produção em serviços, aluguéis e licenciamentos, ou seja, é um potente indutor econômico, pois faz os recursos circularem na economia local, gerando renda e impostos. Gestores de SC precisam olhar para estas oportunidades com mais atenção! 

 

Bate bola

Uma mania – Podcasts

O que mais admira – Diversidade Cultural

O que não suporta – Fake news

Um lugar – Praia do Matadeiro

Palavra – Luz

Saudade – SET de Ficção (mais de 1 ano longe do SET – devido à pandemia)

Uma viagem – Ilha do Marajó – PA

Uma bebida – Cerveja tipo Helles, tradicional de Munique/Alemanha

Um ídolo – Raul Seixas

Felicidade para você é – Tomar uma Helles depois de um bom dia de SET (10 horas de trabalho)

Um sonho – Sonhar junto para virar realidade

 

 Entrevista com a atriz María Figueras

 

 

Como é o seu personagem em “A Outra Pele”?

Minha personagem Abril em “A Outra Pele” é uma mulher em crise, que decide ou é levada a abandonar o seu cotidiano para se distanciar e ver como se responsabiliza pelos vínculos que estabelece com os outros.

 

E o que significa para você a experiência de estar em uma coprodução Argentina / Brasil, como artista?

Ir filmar no Brasil foi intenso, emocionalmente poderoso e estonteante. Já tinha ido trabalhar fazendo teatro em vários festivais, nunca para filmar. E a forma de trabalhar foi mágica, harmoniosa e muito artesanal. Eu gostei muito.

 

Como foi sua interação com o Pântano do Sul, durante as filmagens?

Conhecer os pescadores, aqueles bares de praia e sua gente com suas histórias foi muito enriquecedor para mim. Eles me trataram com respeito, alegria e cumplicidade.

 

Trabalhar com arte durante uma pandemia … como você avalia o cenário atual?

A pandemia para a nossa profissão significou uma parada existencial. Todos nós tivemos que nos reinventar e canalizar energia de forma criativa e surfar na angústia da incerteza. Aos poucos, tudo está voltando ao seu curso normal. Eu quero ter esperança.

 

Bate bola

Uma mania – Coleciono lápis, borrachas e gosto de ler notícias do meu país e do mundo antes de dormir. Reviso diferentes jornais e meios de comunicação. Não consigo dormir sem saber o que está acontecendo no meu país e em geral.

O que mais admira – Um bom livro, um filme, uma boa atuação. Trabalho artesanal e um olhar pessoal para contar um mundo.

O que não suporta – As generalidades

Um lugar   Em Madrid fui muito feliz

Palavra   Amor

Saudade Noites com amigos, dança e agitação corporal

Uma viagem – Com minha filha em qualquer lugar

Uma bebida – Gim e tônica

Um ídolo – Chekhov

Felicidade é Me sentir bem na minha própria pele

Um sonho –  Me apaixonar novamente

 

 

Lançamento

 

Onde: Cinemulti, no MULTI Open Shopping – Rodovia Dr. Antônio Luiz Moura Gonzaga, 3339 – Rio Tavares, Florianópolis

Quando: de 12 a 18 de agosto

Ingressos: https://bit.ly/ingressoaoutrapele

*Todos os protocolos sanitários serão adotados nas sessões: capacidade de público reduzida, exigência de máscara durante a sessão e disposição de álcool em gel na sala.

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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