
Há no Brasil a certeza de que é grande a carência de pessoal para a área de Tecnologia da Informação e de que esse problema não será resolvido a curto prazo.
Nos Estados Unidos a situação é similar, e agora uma pesquisa da Pegasystems, importante empresa de software que também atua no Brasil, mostra que naquele país há outros fatores que tornam o cenário ainda mais preocupante, sendo muito possível que esses fatores estejam presentes também no Brasil.
A pesquisa ouviu executivos de TI e constatou que 56% deles não tem a certeza de que, nos próximos cinco anos, suas equipes estarão preparadas para trazer mudanças positivas às áreas em que atuam, enquanto 17% têm dúvidas significativas ou nenhuma confiança a respeito dessa capacidade.
A Pegasystems diz acreditar que as constatações não são apenas um reflexo da falta de confiança dos executivos nas habilidades de suas equipes, mas sim resultados das mudanças contínuas de metas e da necessidade de as organizações adotarem novas tecnologias – e com elas, novos conhecimentos – rapidamente.
Esses executivos percebem que não há no horizonte um final para o processo de transformação digital e que esse processo deve ser constante e acelerado, significando que os profissionais da área precisam de diferentes habilidades técnicas e soft skills para terem sucesso a longo prazo.
A pesquisa constatou também que há preocupações com a carência de conhecimentos mais sólidos nas áreas de DevOps, métodos ágeis e computação na nuvem, conhecimentos esses que exigem muito esforço e tempo para serem adquiridos.
Essas preocupações são agravadas por escolhas equivocadas de tecnologia e gastos desnecessários, feitos no afã de se manter a organização no estado da arte, afã este agravado pela pandemia. Quase dois terços (58%) dos entrevistados admitiram ter gerado desperdícios entre US$ 1 milhão e US$ 10 milhões nos últimos cinco anos por terem escolhido mal soluções de TI; ao mesmo tempo, apenas 12% disseram que todos os seus investimentos em TI obtiveram retorno nos últimos cinco anos.
Essa sensação de desperdício foi exacerbada pela pandemia, que levou as empresas a adotarem novas tecnologias rapidamente, sem tempo suficiente para planejamento ou avaliações de impacto. Agora, essas tecnologias estão se mostrando difíceis de escalar e inserir no conjunto de ferramentas utilizado em situações menos turbulentas; algumas delas, como low code e no code, acabaram viabilizando o crescimento do que se chama Shadow IT, soluções desenvolvidas por usuários, que, se resolvem problemas pontuais, podem trazer problemas maiores no longo prazo, usualmente por gerarem software ineficiente e que não atende às necessidades de segurança.
A pesquisa também mostrou que há a crença de que a adoção de novas tecnologias gerará uma reformulação das estruturas das áreas de TI, bem como nos tipos de habilidades exigidas para cargos seniores – em oposição às habilidades técnicas, serão valorizadas habilidades interpessoais, liderança e capacidade de resolução de problemas – soft skills, em resumo.
Sem dúvida para as áreas de TI, seus executivos e demais profissionais, os próximos tempos serão agitados, repletos de desafios.
* Por Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é consultor de empresas.