
O tom messiânico dos discursos do presidente Jair Bolsonaro, tanto em Brasília quanto em São Paulo, onde acentuou o agradecimento divino pela vida e pela missão de comandar o país, foi feito em um ambiente ideal, cercado por milhares de apoiadores e simpatizantes, o retrato que o Palácio do Planalto buscava em meio à grave crise institucional entre os poderes.
A frase mais usada por Bolsonaro foi “cumprir e respeitar a Constituição”, enquanto os participantes na Esplanada dos Ministérios, na Avenida Paulista e país afora traziam inúmeras faixas em que pregavam justamente o contrário, com ataques à Carta Magna por pedidos de intervenção militar, destituição dos ministros do Supremo e o fechamento do Congresso.
O presidente da República mostrou força nas mobilizações, repetiu o mantra dos ataques diários difundidos nas redes sociais – principalmente aos ministros Alexandre de Moraes, a quem acusa de cercear o direito à liberdade de expressão e prender aliados e seguidores, e Luís Roberto Barroso, presidente do TSE -, com questionamento ao sistema de votação eleitoral, pelo qual foi eleito seis vezes (cinco a deputado federal e uma à Presidência), e entrou, portanto, em uma espiral que o forçará a cumprir o que apregoa, a parte que ele diz que não quer fazer.
Ameaças têm prazo de validade, tampouco devem satisfazer os mais exaltados seguidores do presidente caso não saiam do papel, o que inverteria inevitavelmente o ponto de pressão.
Day after
Nesta quarta (8), Bolsonaro promete fazer uma reunião com os ministros para avaliar os eventos do Dia da Independência sem convocar, por ora, o Conselho da República, criado em 1988 e regulamentado em 1991, órgão apenas consultivo que se pronuncia sobre intervenção federal, estado de defesa, estado de sítio e questões relevantes para a estabilidade das instituições democráticas, que necessita de chamamento pelo Diário Oficial.
O fato deve aumentar a temperatura no Congresso, com expectativa da posição do Centrão, principalmente depois que MDB, PSB, Solidariedade e PSDB já se pronunciaram contra os discursos do presidente e o ministro Luiz Fux promete fazer uma declaração.
O risco é o presidente ficar isolado politicamente, pois muitos manifestantes que o apoiam também dispararam contra o Congresso com a metralhadora giratória.
Aliás
O ex-presidente da República e hoje senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) esteve presente às solenidades no Palácio da Alvorada.
Foi no governo dele que o Conselho da República, ativado apenas uma vez em 2018 pelo ex-presidente Michel Temer, foi regulamentado.
De fato
O silêncio dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), depois dos discursos de Bolsonaro, dizem mais do que mil palavras.
O Congresso terá que avaliar muito bem as consequências de uma eventual proposta de ruptura democrática e constitucional.
Os mais próximos
Catarinenses ilustres e pré-candidatos em 2022 ficaram mais próximos o possível de Jair Bolsonaro.
IMAGENS/REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
A vice-governadora Daniela Reinehr (sem partido) postou fotos e vídeos desde à noite anterior e durante a solenidade de comemoração dos 199 anos da Independência, no Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente da República:
O senador Jorginho Mello (PL) estava em todos os eventos e subiu no palanque na Esplanada dos Ministérios, com direito à saudação aos conterrâneos presentes:
A advogada e jornalista Julia Zanatta, coordenadora sul da Embratur, ainda no PL, já estava na Capital Federal na véspera e, ao lado da pequena Helen, se divertiu na manifestação do lado do cercado reservado aos convidados do presidente. Devidamente vestida com a camisa do Criciúma Esporte Clube.
LEO SANTOS/TVBV
MUITA GENTE
Dos 34 municípios em Santa Catarina onde ocorreram manifestações pró-Bolsonaro, os 40 mil presentes no ato na Capital, segundo a Polícia Militar, foram marcantes no maior evento. Bandeirão do Brasil desfilou pela Beira-Mar Norte, que terminou com uma passeata até a Polícia Federal, ao lado da Casa d’Agronômica.
REINALDO DOI/TVBV
NO SEU PAPEL
Os partidos e entidades de esquerda se reuniram em menor número no Largo da Alfândega e tiveram que se abrigar da chuva no Terminal Cidade de Florianópolis. Pediram mais vacina e comida na mesa, além do impeachment de Bolsonaro, no papel de opositores do atual governo.
Elogiável
Todos os atos registrados no Estado, a favor e contra Bolsonaro foram marcados pela tranquilidade.
Os participantes deram uma lição a baderneiros que costumam tumultuar em situações semelhantes. Vale os cumprimentos a todos!