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Ciência por um fio

Ciência por um fio

O Ministério da Economia retirou recursos  que seriam destinados ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, afetando as pesquisas em curso no país. Como ficam os cientistas brasileiros?

A ciência está tão incorporada ao dia a dia que pode passar despercebida. O uso corriqueiro e cotidiano fazem da ciência “algo trivial”, porém quanto mais trivial for o uso, maior o impacto na vida das pessoas.  Como seria viver nos dias de hoje sem a lâmpada elétrica James Bowman Lindsay e Thomas Edison? Sem a invenção dos barcos? Sem os carros, trens e aviões? Quantas evoluções cabem entre a invenção da escrita, o papiro, a máquina de datilografar, o computador, a máquina fotográfica e o celular? E não precisa ir tão longe: o que foram as seis horas sem o WhatsApp, Instagram e o Facebook?  O mundo cabe hoje na palma das mãos, mas a ciência continua sendo negligenciada na periferia deste mesmo mundo. Sim na periferia, porque nos países de ponta a ciência puxa o desenvolvimento e é prioridade.

Mesmo a ciência provocando tantas transformações, estando tão incorporada no dia a dia, facilitando tarefas, curando doenças, revolucionando a produção de alimentos, levando o homem ao espaço, etc., e isso de forma cada vez mais acelerada, eis que ressurgiu com força a onda dos negacionistas que duvidam da própria ciência, mesmo usufruindo dela o tempo todo. Quantas doenças foram erradicadas do planeta por causa da invenção das vacinas, mas hoje estão sob ameaça de voltar por conta dessas mesmas pessoas que se enchem de soberba, no alto de sua ignorância científica, para duvidar do avanço da ciência?

Muitos foram os cientistas que transformaram o mundo: Albert Einstein, Marie Curie, Charles Darwin, Stephen Hawking, Max Planck, Isaac Newton, Louis Pasteur, Thomas Edison,  Werner Heisenberg, Nikola Tesla, Galileu Galilei, Daniel Gabriel Fahrenheit. Cientistas grandiosos em sua época e por seus feitos, mas hoje quantos cientistas anônimos aos olhos do cidadão comum seguem sem o seu devido reconhecimento aqui no Brasil?  Neste caso, o devido reconhecimento significa ter verba e estrutura física adequada ao desenvolvimento de sua pesquisa.

Dentre os cientistas citados acima, deve-se somar os nomes dos 165 pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que estão entre os mais influentes da América Latina, segundo o ranking AD Scientific Index 2021, ou mesmo aqueles que ficaram fora dessa lista, mas que seguem contribuindo para a evolução da ciência em suas áreas de atuação e que aqui representam o universo de luta dos pesquisadores brasileiros.

Mesmo sabendo que é praticamente impossível imaginar o que seria do mundo sem a evolução material ou o que seria uma dor de cabeça se não fosse a invenção do analgésico, o Governo brasileiro continua apostando contra a ciência – e não foi só em relação a pandemia. Numa manobra considerada sorrateira pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), o Ministério da Economia retirou recursos  do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) que seriam destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovações, para execução de projetos científicos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O corte no orçamento vai interromper projetos em curso, inviabilizar novas pesquisas e impedir que a ciência evolua nas cores verde e amarela. Um tiro no pé do desvirtuado patriotismo, tão aclamado no discurso, mas ridicularizado nas ações.

A SBPC apurou que os cortes efetuados no orçamento do CNPq impactam diretamente a execução de projetos já anunciados, como a Chamada Universal 2021. A seguir os valores e rubricas divulgados pela INstituição: Chamada Universal (R$200 milhões), R$100 milhões da chamada para instituições do programa Ciência na Escola, R$280 milhões dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), R$24 milhões do Programa Mestrado e Doutorado para Inovação, R$30 milhões dos projetos de Jovens Doutores, R$40 milhões da chamada Pesquisador na Empresa (RHAE), e R$50 milhões do fomento PPP, Pronem e Pronex. Em contrapartida, o governo federal atingiu o maior gasto com cartão corporativo desde 2018. Só nos primeiros nove meses de 2021, o total alcança R$204,8 milhões, 19,9% acima do que foi gasto no ano passado inteiro. Uma questão de prioridade: a verba para o cartão corporativo aumentou, enquanto a verba para a ciência diminuiu de forma brutal.

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