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Deuses e humanos em pé-de-guerra, histórias de Hollywood e as estreias da semana

Foto: Divulgação/Netflix

É o Kaos!

O todo poderoso Zeus em total paranóia por causa da profecia que indica sua derrocada, uma Hera influente e manipuladora , Prometeus a fim de encerrar a eterna tortura de ter o fígado bicado por uma águia, Orfeu indo ao mundo dos mortos buscar sua amada, Dionísio querendo se apaixonar, uma rebelião interna que se avizinha… Entre o Monte Olimpo cheio de cores exuberantes e o submundo escuro de Hades, o deus dos mortos, aproxima-se a instalação do caos.

Toda essa história é trazida para certa contemporaneidade, sem telefone celular ou internet, contada de forma satírica e, muitas vezes, brutal. A série não segue exatamente o que diz a mitologia grega, mas quase todos seus personagens estão no roteiro, incluindo os menos lembrados como Cassandra – a profetisa desacreditada –  e Caeneus – que nasceu menina, mas assumiu uma identidade masculina.

A produção é luxuosa, a fotografia varia de acordo com cada segmento da história e a trilha sonora é incrível, incluindo canções desde ABBA, Dire Straits, Enya, David Bowie a Judy Garland. Acrescente-se a isso ótimos atores, perfeitos em seus papéis, como  Jeff Goldblum, vivendo o ególatra e cruel Zeus, e temos uma das séries mais interessantes do ano. Ah, deixaram ‘ gancho’ no final para uma nova temporada. Vamos aguardar.

‘Kaos’ tem oito episódios e está disponível na Netflix.

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“Ainda estou aqui”, nosso possível representante no Oscar, já tem data de estreia no Brasil

Com zero surpresa, “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, foi escolhido para tentar uma vaga na categoria Filme Internacional do próximo Oscar.

O longa é uma adaptação do livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, onde ele conta suas memórias de infância, o desaparecimento do pai durante a ditadura militar, com destaque para a presença da mãe, Eunice Paiva. O filme de Walter Salles ganhou o prêmio de melhor roteiro no recente Festival de Cinema de Veneza. A atriz Fernanda Torres também é uma grande aposta para o Oscar, no papel de Eunice, mas há uma pedra no caminho dela: Demi Moore em “A Substância”.

A boa notícia:  as primeiras informações davam a estreia no Brasil só em 2025, mas foi antecipada  para o dia 7 de novembro, exclusivamente nos  cinemas.

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Lançamentos da semana

 

Killer Heat – direção : Phillipe Lacôte – 2024 – Prime Vídeo

Esse suspense/drama se passa na isolada ilha grega de Creta, onde dois irmãos gêmeos vivem um perigoso triângulo amoroso que acaba na morte misteriosa de um deles. O detetive particular Nick Bali conhecido por seu passado conturbado, é chamado para investigar o caso. Enquanto explora a intricada rede de relações e segredos da rica família Vardakis, da qual a vítima fazia parte, Bali descobre que o clã  controla muito do que acontece na ilha e que a esposa do gêmeo sobrevivente, suspeita que há uma conspiração para assassinato.

No elenco estão Joseph Gordon-Levitt, Shailene Woodley, Richard Madden

 

A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samudio – documentário – 2024 –Netflix

Para quem curte real crime acaba de chegar o documentário que esmiuça o desaparecimento da modelo Eliza Samudio e de seu filho de quatro meses, em 2010. O caso teve enorme repercussão no Brasil e no mundo, principalmente pelo principal suspeito ser o pai da criança, Bruno, goleiro e capitão do Flamengo, um ídolo para a maior torcida do país. Oito pessoas foram condenadas pelo sequestro e assassinato de Eliza, mas, até hoje, seu corpo não foi encontrado. A narrativa sob a perspectiva da vítima nunca foi compartilhada. Esta investigação segue pistas intrigantes, envolvendo ainda mais o público e desvendando as circunstâncias sombrias que cercam a morte de Eliza.

 

Cidade de Deus – A luta não para – 6º e último episódio –  MAX

Chega ao fim no domingo (29), a série baseada no prestigiado filme de Fernando Meirelles. O episódio anterior, quando a polícia invade a Cidade Deus e é enfrentada pela quadrilha de traficantes e pelos moradores da comunidade, foi uma aula de direção de Ali Muritiba.  Aguardemos agora o desfecho porque a expectativa aumentou muito depois dessa quinta e penúltima parte.

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Destaques na tela grande

A Substância – direção: Coralie Fargeat – 2024

Chega aqui o polêmico filme de terror que pode dar a Demi Moore seu primeiro Oscar. Sim, a bela que nunca foi vista como uma grande intérprete está mais perto da ambicionada estatueta como jamais esteve.   Aqui, ela vive o papel de uma atriz de cinquenta anos que entra em desespero quando é demitida por estar velha. Para ganhar uma imagem rejuvenescida, ela aceita participar de uma experiência radical  para renovar seu corpo. O filme é polêmico e recebeu algumas críticas bem ruins, mas Demi teve sua interpretação elogiada, até por ter aceitado ser uma paródia de si mesma. Quando a história descamba para o terror, li que é preciso ter muita tolerância à visão de sangue. A conferir.

 

Golpe de sorte em Paris – direção: Woody Allen – 2024

Entra em sua segunda semana o mais recente filme de Woody Allen. Apesar do seu ‘ cancelamento’ pelos escândalos pessoais já conhecidos, o diretor continua atraindo um público fiel mesmo para um longa considerado ‘ menor’ na sua filmografia. E convenhamos: WA nunca erra a mão, não lembro de algum filme dele que eu tenha pensado ‘ horrível’. Bem, dessa vez

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Artigo

Histórias que Hollywood não contou

 

A mais famosa diva do cinema não queria  esse papel

 O cinema teve inúmeras divas, mas não contaremos aqui a história de nenhuma famosíssima atriz dos áureos tempos de Hollywood, nem mesmo de uma das estrelas da atualidade. A Diva a qual nos referimos é uma personagem que, mesmo com uma brevíssima aparição nas telas, tornou-se uma das mais recordadas no universo da Ficção Científica: Diva, a cantora que deixa fascinado a Korben Dallas, o personagem de Bruce Willis em O Quinto Elemento, de Luc Besson – e também aos cinéfilos mundo afora.

Luc Besson é um cineasta francês que tem, em sua cinematografia, títulos como Imensidão Azul (1988), Joana D’Arc (1999) e Lucy (2014), seu último grande sucesso. Mas o diretor costuma ser mais recordado por O Quinto Elemento (1997), sua intrincada incursão pelo universo sci-fi. Com elementos fantásticos, a história do filme gira em torno da missão inesperada que Dallas, um ex-major das Forças Especiais, assume ao levar em seu táxi a uma misteriosa jovem, vivida por uma das musas de Besson, Mila Jovovich. Juntos, eles partem em busca de quatro pedras místicas das quais depende o destino do planeta. A história, escrita por Besson quando ele tinha apenas dezesseis anos, ganhou uma produção sofisticada, contando até mesmo com o estilista francês Jean-Paul Gautier na assinatura do figurino. À época, o filme ostentou o título de europeu mais caro realizado até então – mas a visão de Luc Besson compensou, pois O Quinto Elemento se tornou também o filme francês de maior bilheteria e rendimento, perdendo apenas muitos anos depois para Intocáveis (2011).

No filme, as quatro pedras místicas que, unidas à personagem de Jovovich, formariam uma arma divina perfeita, são confiadas a uma cantora de ópera, Diva Plavalaguna. A única aparição da personagem é justamente durante uma apresentação da cantora em um cruzeiro, ocasião em que ela entregará ao herói as tais pedras. Besson imaginou uma cena de imenso impacto, não só para o público, como para os personagens que estariam presentes na récita da cantora. E muito procurou pela mulher perfeita para encarnar a personagem tão impactante. Sua primeira escolha foi Maïwenn, atriz francesa que era sua noiva à época. Ela recusou o convite, alegando não querer trabalhar com ele pelo risco de que isso interferisse na relação dos dois… Ele aceitou, mas continuou mostrando à noiva todos os testes de elenco e desenhos de produção do filme. Ele eventualmente escolheu sua Diva – uma top model alemã cujo nome não é revelado pelo diretor –, mas, dois dias antes dos testes de maquiagem e figurino em Londres, a atriz contratada desapareceu. Vendo-o desesperado com o calendário de produção apertado, Maïwenn propôs a Besson que ela faria o papel caso a modelo alemã não aparecesse. E assim, ganhou o papel que nunca, em verdade, desejara.

Foram três meses de intensa preparação vocal – mesmo não sendo sua a voz que se ouve no filme, Besson queria que ela cantasse em cena e, assim, passasse mais realismo em sua dublagem; Maïwenn gostou da exigência e, efetivamente, aprendeu a cantar ópera para o papel. A ária apresentada na famosa cena da Diva – a tristíssima “Il dulce sono”, da ópera “Lucia Di Lammermoor”, de Gaetano Donizetti –, contudo, foi cantada pela soprano albanesa Inva Mula. Além do canto, a preparação da atriz para a filmagem envolveu diversos testes de maquiagem, que tomavam três horas da atriz, além de todos os cuidados com figurino e próteses cênicas; para isso, Besson providenciou uma equipe exclusiva para atender a atriz, a qual era proibida de passar quaisquer detalhes da personagem para o resto da produção e para os demais atores. Ninguém, além dessa equipe fechada, sabia qual seria a aparência da Diva. Por isso,  o impacto de atores e figurantes na cena do recital da cantora é real – a personagem azul e feminina fora estudada detalhadamente, da coreografia à respiração, da anatomia alienígena ao vestuário quase líquido. A cena foi filmada apenas duas vezes – uma, com chroma key, e outra, em um teatro em Londres. Para esta última, o diretor apenas avisou à audiência de atores e figurantes que eles iriam “assistir um concerto especial de uma cantora de ópera; ela é um pouco exótica; eu espero de vocês apenas que reajam naturalmente ao que verão, sem qualquer atuação”. O rosto fascinado de Korben Dallas é, de fato, a reação de Bruce Willis ao ver pela primeira vez a Diva – uma reação compartilhada por audiências em todo o mundo, tornando-se a personagem a imagem mais icônica do filme

Maïween, contudo, ficou desapontada ao assistir a cena no filme. Besson intercala cenas da cantora no palco com cenas de lutas que ocorrem paralelamente nos bastidores do teatro, que estava sendo invadido por tropas alienígenas interessadas nas pedras mágicas em poder da Diva. Toda a bela performance da atriz, que empregou na personagem um caráter triste e sensível, mal aparece na tela. Mas foi o bastante para torná-la eterna nas recordações dos fãs do filme e transformá-la em um verdadeiro ícone pop.

Maïween tinha apenas quinze anos à época – casou-se com Besson no ano seguinte, aos dezesseis. Hoje, a atriz é também roteirista e diretora de cinema, além de mãe de uma filha, fruto daquele casamento.

[Robertson Frizero, escritor, professor e cinéfilo]

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

THE END

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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