A história do cinema brasileiro é cheia de altos e baixos. Fazer filmes no país é uma atividade de eterna inconstância, pois depende da importância que cada governo dá à Cultura. Há momentos em que parece que a produção cinematográfica nacional acabou ou que só respira por aparelhos, mas ela consegue ressurgir das cinzas. Foi o que aconteceu nos últimos dois anos no Brasil.
“Ainda estou aqui”, de Walter Salles, vem fazendo uma carreira poucas vezes vista por aqui. Várias coisas contribuíram para isso, além da qualidade irrefutável da obra, baseada no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, onde ele conta o drama familiar de ter seu pai preso, torturado e morto durante a ditadura militar. Uma película por melhor que seja precisa também de salas para ser exibida e de divulgação para chamar a atenção do público, coisas que o longa-metragem de Salles conseguiu como poucos. Graças a esse conjunto de fatores, “Ainda estou aqui”, com Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Torres, atraiu 1,5 milhão de telespectadores e faturou R$ 31 milhões em duas semanas. Trata-se da 4ª maior bilheteria de um filme nacional pós-pandemia, de acordo com dados do Comscore, especializado em rankings do setor.
Se o filme vai ser selecionado para concorrer ao Oscar, se Fernanda Torres será realmente indicada para disputar a estatueta de Melhor Atriz, como é a expectativa geral, ainda é cedo para dizer. Mas, no mínimo, uma coisa esse fenômeno já fez de bom: jogou luz sobre outras produções nacionais de qualidade. Talvez, os exibidores sejam menos reticentes na hora de programar filmes brasileiros, além do que é exigido por lei, e – principalmente – o público nativo aprenda que há muita qualidade no cinema feito aqui. Que assim seja!
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Outros novos filmes brasileiros que você vai gostar de ver
Retrato de um certo oriente – direção: Marcelo Gomes
Baseado no livro “Relato de um certo oriente”, de Milton Hatoum, o filme conta uma história de amor em meio à guerra. Emilie e seu irmão Emir embarcam para o Brasil fugindo de uma iminente guerra no Líbano no final dos anos 1940. Durante a viagem, Emilie se apaixona pelo comerciante muçulmano Omar. O ciúme incontrolável vai ditar o destino, de Emir e as diferenças religiosas são parte importante da história. O filme é falado em árabe, francês, português e línguas indígenas, além de ‘ depoimentos’ de personagens italianos, poloneses, palestinos e de outras origens, que imigraram em busca de uma vida melhor no Brasil.
- Em cartaz nos cinemas.
A flor do Buriti – direção: Renée Messora, João Salaviza
Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram na escuridão da floresta um boi perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um brutal massacre, perpetrado pelos fazendeiros da região. Em 1969, os filhos dos sobreviventes são coagidos a integrar uma unidade militar, durante a ditadura brasileira. Hoje, diante de velhas e novas ameaças, os Krahô continuam a caminhar sobre a sua terra sangrada, reinventando a cada dia infinitas formas de resistência.“A flor de buriti” recebeu o prêmio de Melhor Equipe na mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes, em 2023.
- Disponível na Netflix
Malu – direção: Pedro Freire
Exibido no importante Festival de Sundance e vencedor do prêmio de melhor longa-metragem de ficção no Festival do Rio, “Malu” conta a história de uma mulher instável que vive com sua mãe conservadora, em uma favela no Rio de Janeiro, enquanto tenta lidar com o relacionamento tenso com sua própria filha adulta. Isso acontece em meio às lembranças de seu glorioso passado artístico.
Além do prêmio de melhor longa-metragem no Festival do Rio, o diretor Pedro Freire levou o prêmio de melhor roteiro, Yara de Novaes (Malu) o de melhor atriz e Carol Duarte e Juliana Carneiro da Cunha dividiram o prêmio de melhor atriz coadjuvante ( filha e mãe de Malu).
- Em cartaz nos cinemas.
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Filmes de acervo sobre os anos de chumbo
Zuzu Angel – direção: Sérgio Rezende (2006)
Uma das histórias reais mais tocantes desse período levadas às telas é a de Zuzu Angel, estilista brasileira famosa, que passou anos buscando o corpo do filho, Stuart Angel, sequestrado, torturado e morto durante a ditadura. Stuart era participante do MR-8 e sua mulher, Sônia Angel Jones, também foi torturada e morta em 1973, tendo sido enterrada como indigente. Zuzu denunciou o desaparecimento do filho ao governo dos Estados Unidos (ele era filho de pai norte-americano e tinha dupla cidadania) e passou os últimos cinco anos de sua vida exigindo uma resposta do regime. Ela morreu em 1976, num acidente de automóvel , suspeito de haver sido provocado pelas forças da repressão.Chico Buarque, compôs em sua homenagem a canção “Angélica”: “Quem é essa mulher / que canta sempre esse estribilho / ‘só queria embalar meu filho / que mora na escuridão do mar’.” Patrícia Pilar interpreta Zuzu no filme de Sérgio Rezende.
- Disponível no Prime Vídeo
Batismo de sangue – direção : Helvécio Raton ( 2007)
No final dos anos 60, o convento dos frades dominicanos , em São Paulo, tornou-se uma trincheira de resistência à ditadura militar. Movidos por ideais cristãos, os freis Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antônio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon Esteves) decidem apoiar o grupo guerrilheiro Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella (Marku Ribas). Eles logo passam a ser vigiados pela polícia e posteriormente são presos, sofrendo terríveis torturas.
- Disponível no Globoplay e Looke
Hoje – direção: Tata Amaral ( 2013)
O filme acompanha Vera, uma ex-militante política, que recebe uma indenização do governo, em decorrência do desaparecimento do marido, vítima da repressão provocada pela ditadura militar. Com o dinheiro ela consegue comprar um apartamento próprio, além de enfim poder ser reconhecida como viúva. Só que, quando está prestes a se mudar, recebe uma visita que altera sua vida. Denise Fraga é Vera, ao lado do argentino César Trancoso, duas interpretações excelentes.
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Lançamentos da semana com outros temas
Senna – minissérie – 06 episódios – Netflix – 2024
Ainda falando em produções brasileiroas, uma das estreias mais esperadas da semana é a minissérie sobre Ayrton Senna. É grande a expectativa em torno dessa produção planejada por mais de uma década e gravada durante seis meses no Brasil, Argentina, Reino Unido, Uruguai e Mônaco. Uma das preocupações era a de reproduzir com precisão os anos 80 e também corridas famosas entre os fãs de Fórmula 1. Há cenas em autódromos famosos, como Mônaco, usando carros icônicos, como a Lotus, a McLaren e a Williams da época. O investimento da Netflix na série prevê uma audiência significativa no mundo inteiro. Gabriel Leone foi o ator escolhido para representar o piloto que é um dos grandes heróis do público brasileiro.
Irracional – minissérie – episódios – Netflix – 2024
O premiado Colman Domingo ( Rustin e Euphoria) interpreta o ex-consultor político e apresentador de TV ,Muncie Daniels, que precisa lutar pela inocência e pela própria vida depois de ver um assassinato na floresta de Poconos. Com o cerco se fechando, Muncie faz de tudo para se reconciliar com a família e com seus ideais perdidos na tentativa de sobreviver. Esse suspense promete.
Beatles 64 – documentário – Disney + (Star)- 2024
O documentário captura a eletrizante estreia dos Beatles nos EUA em 1964, durante o auge da “Beatlemania”. Com filmagens raras de bastidores, o filme relata a ascensão meteórica da banda ao estrelato global após sua histórica apresentação no The Ed Sullivan Show para 73 milhões de espectadores. Produzido por Martin Scorsese e dirigido por David Tedeschi, o filme oferece uma visão exclusiva da primeira visita dos Beatles aos Estados Unidos em fevereiro de 1964. O documentário é uma jornada fascinante pela história da música, mostrando como os Beatles conquistaram o coração dos fãs americanos e mudaram o curso da música popular para sempre.
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*Fotos: Divulgação/Reprodução
FIM