Portal Making Of

O clichê nosso de cada dia

Cenas de " Continência ao Amor" (Netflix)/ Divulgação

O clichê nosso de cada dia

Clichê (substantivo masculino) – estilística: frase freq. rebuscada que se banaliza por ser muito repetida; lugar-comum, chavão.

A escritora Taís Oya, autora do romance“Beata” (Amazon) , assistiu a “Continência ao amor” e, mesmo reconhecendo o festival de clichês, adorou o filme (leia em “Outras palavras” a análise que ela enviou para a coluna). Fiquei pensando a respeito. Sou inimiga pública número um de clichês, de situações que se repetem ad eternum, a ponto da gente saber o que o personagem vai falar em seguida. Certos roteiros tem zero originalidade, até parecem saídos de um formulário preenchido burocraticamente. Quantas vezes pensamos “ já vi esse filme antes”, principalmente no cinema hollywoodiano ? Para mim, um tédio, mas há quem sustente a tese de que o público gosta do tema conhecido, seguro.

Prefiro os diretores originais, os que conseguem burlar a fórmula. Nem falo dos grandes mestres como Fellini, Pasolini, Buñuel, Bergman… mas dos contemporâneos mesmo. Lembro da minha satisfação ao descobrir “Oldboy”, de Park Chan-Wook ou o road-movie  australiano,“Priscilla, a rainha do deserto”, por exemplo. Reza a lenda que o clichê já foi defendido por um dos diretores mais criativos da história. Seria de Woody Allen a frase : Algumas vezes, um clichê é a melhor forma de se explicar um ponto de vista.

Está bem, confesso, também tenho meus clichês de estimação. Gosto muito das séries escandinavas de suspense, mesmo sendo todas muito parecidas. Sempre tem uma policial mal humorada ou doidinha, um policial infeliz porque perdeu a mulher e cria a filha sozinho etc… Talvez ouvir um idioma incompreensível – como o finlandês em “Inimigos Secretos” (canal Cindie) ou o islandês em “Trapped” (Netflix)–  e ver  caras de atores desconhecidos torne tudo um pouco diferente. Entendo que é impossível fugir totalmente dos clichês. O que se escreveu de original desde a tragédia grega ou de Shakespeare? Aliás, se a vida se repete como exigir que a ficção seja sempre renovada, né? Ok, chega de filosofar, usando clichês. Vamos ao que interessa, sugestões de filmes e séries para o final de semana.

________________

 

SÉRIES

Respire –  6  episódios – 2022 – Netflix

A minissérie mistura ação e drama. A parte de ação tem praticamente uma única atriz, Melissa Barrera, interpretando Liv, uma jovem advogada que se perde na selva após a queda de um avião particular. Única sobrevivente, ela enfrenta com inteligência e coragem os elementos da natureza. Não fica muito explicado como ela pode ser tão engenhosa, a não ser que foi escoteira quando criança. Enquanto tenta voltar à civilização, Liv vai lembrando traumas de infância e de sua atitude como profissional obcecada pelo sucesso. Não é uma obra-prima, mas dá para passar o tempo. ( Veja o trailer original)

 

 

Inimigos Secretos – 8 episódios – 2019 – Canal Cindie/Net

Já que falei nas séries escandinavas, o Cindie  [canal que pode ser assinado na Net por poucos reais ] traz essa produção finlandesa baseada no livro “Arto Ratamo”, de Taavi Soininvaara. Sim, os nomes e o ritmo do idioma soam estranhos ao nosso ouvido no início, mas nada que a gente não se acostume logo. Ratamo é o nome do agente dos Serviços Secretos de Helsinque que investiga uma terrível manipulação política que pode jogar a Europa em uma guerra mundial. Depois do acidente fatal com o primeiro-ministro finlandês, sucedem-se outras mortes que levantam a suspeita da existência de uma rede de espionagem, liderada por um rico empresário russo.

Reprodução/Divulgação

________________

 

Filmes

A criança no tempo – direção: Julian Farino – 2017 – Canal Europa+

Esse filme foge dos clichês, o nosso assunto em destaque. Exatamente por isso pode causar algum descontentamento em quem gosta de histórias lineares e explícitas. Aqui, é preciso comprar a ideia original do romance de Ian McEwan, publicado em 1987, que acompanha Stephen Lewis, um autor infantil de sucesso que tem seu casamento e vida arruinados pelo estranho sumiço de sua filha. Benedict Cumberbatch, ainda não tão famoso mas já provando que é um atorzaço, vive o pai torturado pela culpa de forma comovente. Não é um dramalhão no sentido comum, apenas triste e surpreendente em sua tese central.

Reprodução/Divulgação

 

Georgetown – direção: Christoph Waltz – 2021 – Prime Vídeo

Sou suspeita para analisar um filme que traz dois dos meus atores favoritos no elenco, Vanessa Redgrave e Christoph Waltz. A cereja do bolo é tratar-se da estreia do próprio Waltz na direção. Baseado em um artigo do The New York Times, “Georgetown” conta a história de uma socialite germano-americana que se casa um homem mais jovem, alpinista social e mentiroso crônico, interessado em seus contatos políticos. O tom é satírico, mas o fundo é de drama e vira mistério policial quando a socialite aparece morta. A ótima Annete Bening completa o elenco,  interpretando a filha da milionária.

Reprodução/Divulgação

 

A pura verdade – direção: Kenneth Branagh – 2019 – Netflix

Kenneth Branagh não esconde sua paixão por William Shakespeare, tendo adaptado seis obras do bardo para o cinema. Desta vez, é uma ficção sobre a vida do próprio Shakespeare, não só interpretada como dirigida por Branagh. A trama mostra o dramaturgo, aos 52 anos de idade, tendo escrito todas as suas peças e perdido o filho pequeno. Vemos um Shakespeare  melancólico, enfrentando o duplo luto familiar e profissional. No elenco ainda há outros dois nomes de peso e bem shakesperianos, Judi Dench e Ian McKellen.

Reprodução/Divulgação

________________

 

Outras palavras

A análise de Taís Oya sobre “ Continência ao Amor” (Netflix)

O que temos no filme ”Continência ao amor”? Preciso dizer de boca cheia, ou seja, em negrito e itálico, com maiúsculas VÁRIOS CLICHÊS.

Tem quem diga que os clichês estão fora de moda, mas o que eu acabei de assistir foi uma história encantadora, e digo mais, deixou o meu o coração palpitando de emoção.

A história é uma mistura de gata-borralheira, com aqueles relacionamentos de amor e ódio entre casais. Pode parecer um tema batido, mas colocaram aquela pitada a mais: um militar fardado e uma cantora. Detalhe, as letras das músicas dizem sobre o que ela está sentindo, e nada como a música para despertar a sensibilidade e empatia pelos personagens Cassie (Sofia Carson) e Luke (Nicholas Galitzine). Ela quer seguir seus sonhos, mas precisa de um plano de saúde e remédios, ele tem uma dívida com traficantes (outro clichê do rapaz rebelde que quer mudar de vida).

Estou tão empolgada que estava esquecendo de dizer o outro. Eles se casam por conveniência. Assim ela tem o plano de saúde do exército e ele consegue benefícios para saldar suas dívidas. O problema é que terão que fingir que o casamento é real, porque podem sofrer punições caso alguém descubra. Não posso nem comentar o final, lá está o mais poderoso e fatal de todos os clichês de histórias de amor.

Eu não poderia deixar de comentar sobre a química entre o casal, quando se olham e se tocam é bom de ver. Para mim, o tema central de toda trama é superação, tanto de obstáculos quanto de diferenças entre o casal.

Então ainda defendendo a minha tese que os clichês rendem boas histórias sugiro que assista, sinta e se emocione com esse clichê incrível.

(Taís Oya)

________________

 

VEM CHEGANDO OS DRAGÕES!

Os órfãos de Game of Thrones estão em contagem regressiva! Chega dia 21 de agosto, o spin off de GoT : A Casa do Dragão. Com base nos livros Fogo & Sangue e O Mundo de Gelo & Fogo, ambos de autoria de George R. R. Martin, a série conta a trama da família Targaryen trezentos anos antes dos eventos de Game of Thrones. A primeira temporada contará com dez episódios, centrados nos eventos que levaram ao fim da dinastia Targaryen em Westeros, citado como a Dança dos Dragões.

Reprodução/Divulgação

________________

THE END

cronica

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais: