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Cowboys, espiões, nudez e os mistérios do tempo

Cena de "Outer Range" [Prime Vídeo/Divulgação]

O faroeste é um gênero com DNA norte-americano e segue um padrão desde o pioneiro “ O grande roubo de trem”, de 1903. O “bang bang” chegou a ser renovado pelo diretor italiano Sérgio Leone, nos anos 60/70, no chamado spaghetti western em “Era uma vez no oeste” e “Três em conflito”, mas a base é sempre mocinho versus bandido, a mocinha indefesa, índios cruéis, colonizadores sofrendo e lutando no oeste bravio. Já tivemos também um misto de faroeste-comédia, como o divertidíssimo “ Banzé no Oeste”, de Mel Brooks.

Agora, a Prime Vídeo traz a nova série “Além da margem”, misturando cowboys modernos do Wyoming, com suspense e ficção científica. O principal nome do elenco é Josh Brolin (“Duna”, “Onde os fracos não têm vez”). Ele é o patriarca da família Abbot e dono de terras cobiçadas pelo vizinho rico, o enlouquecido Tillerson. Quando os dois filhos de Abbot brigam com um dos três filhos de Tillerson e ele desaparece, as coisas ficam tensas. O maior mistério da história, porém, é a cratera negra – um enorme buraco, vazio e sem fim – existente na parte oeste das terras de Abbot. O que é aquele buraco negro? Algo sobrenatural, extraterrestre? Um túnel do tempo? O sumiço de alguns moradores tem a ver com ele? O que cai lá dentro vai para onde? A série vai mexendo com a curiosidade do telespectador a cada episódio, ou melhor, a cada dois episódios por semana. Ainda não dá para saber para onde a história nos leva.

Em rigor, esta não é a primeira vez que alguém mistura western e ficção científica. Em 1973, o escritor e diretor, Michael Crichton, fez “ Westworld- Onde ninguém tem alma”, em que dois amigos resolvem passar férias num ultramoderno centro de diversões que simula eras passadas para pessoas ricas. Eles escolhem viver a experiência do Velho Oeste, onde se imaginam duelando e conquistando belas mulheres. O que eles não esperavam era a rebelião liderada por um dos andróides pistoleiros, interpretado por Yul Brinner.

Uma curiosidade: Josh Brolin de “ Além da Margem” é filho de James Brolin, que interpreta um dos amigos perseguidos em “Westworld- Onde ninguém tem alma”.

O filme de Michael Crichton inspirou a série produzida pela HBO, a partir de 2016. “Westworld” traz uma produção sofisticada e conta com Anthony Hopkins na primeira e melhor parte. Rodrigo Santoro também está no elenco, ao lado de Ed Harris, Eva Rachel Wood e Vincent Cassel. As três temporadas estão disponíveis na HBO.

Apesar da semelhança na mistura de gêneros, “Além da Margem” conta uma história bem diferente de “Westworld”. (Veja o trailer)

Ficha técnica

Além da Margem ( Outer Range)

Criador : Brian Atkins

Episódios – 08

Ano : 2022

Prime Vídeo/Amazon

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Viola Davis: uma história dilacerante

Fiquei profundamente impactada com a entrevista de Viola Davis à apresentadora Oprah Winfrey, disponível na Netflix. O gancho para a conversa de quarenta minutos foi o livro “Finding me- A memoir” (Me encontrando – Um livro de memórias), lançado pela atriz.

Não me passava pela cabeça que atrás da figura poderosa e firme de Viola, vencedora de um Oscar, um Emmy e dois Tony Awards – a chamada tríplice coroa que todo artista sonha em ter na vida – existisse uma história de vida tão dramática.

A própria Oprah confessou que, depois de ler “ Finding me”, passou a achar que sua triste infância foi leve diante da miséria, fome, violência doméstica, buylling na escola, abusos, sofridos por Viola até a adolescência. A atriz revela que atuar foi a sua salvação em todos os sentidos e que, diante de uma recente crise existencial, decidiu colocar no papel todos seus demônios. Revisitar o passado foi o jeito que ela encontrou de seguir em frente. Uma entrevista imperdível!

Reprodução/Divulgação

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Outras dicas:

Filmes

Tempo – direção: M. Night Shyamalan – 2021 – Telecine/Now

Desde o mega sucesso “ O sétimo sentido”, os filmes de Shyamalan são esperados com grande expectativa. O problema de se ter um filme como esse no currículo é que sempre gera certa decepção com os demais. “Tempo” dividiu a crítica. Alguns acham a premissa mais interessante que o resultado final, outros que é seu melhor filme desde “O sexto sentido”. A trama mostra um casal que vai passar férias num confortável resort com os dois filhos. Quando eles e outros hóspedes vão conhecer uma pequena praia paradisíaca, sugerida pelo gerente, eles se deparam com coisas muito estranhas. Contém spoiler: lá o tempo parece passa de modo diferente, fazendo com que eles envelheçam anos em poucos minutos. O principal nome do elenco é Gael Garcia Bernal.

P.S.: Pode-se dizer tudo de Night Shyamalan, inclusive não gostar de alguns de seus filmes, mas o cara é sempre mega criativo, lembrando que ele escreve seus próprios roteiros.

Reprodução/Divulgação

 

Um jantar entre espiões – direção: Janus Metz – Prime Vídeo – 2022

Uma bela pedida para quem curte histórias de espionagem, esse drama é baseado no romance de Olen Steinhauer, um dos autores atuais mais populares no gênero. Chris Pine e Thandiwe Newton interpretam dois ex-espiões da CIA que se encontram para jantar seis anos depois de terem vivido um romance e uma tragédia profissional. Há suspeitas de ambos os lados sobre quem foi o responsável pelo vazamento de informações a um grupo terrorista que seqüestrou um avião. Não é um filme de ação, o suspense é mais psicológico. A trama do presente se passa toda dentro do restaurante, mas há as cenas do passado, explicando o que aconteceu para chegarem até ali. O elenco conta também com o ótimo Jonathan Price e com Laurence Fishburne, nos papéis de chefes do casal protagonista na CIA.

Reprodução/Divulgação

 

O mistério de Marilyn Monroe – direção: Emma Cooper – 2022- Netflix

Se existe alguém que já teve a vida vasculhada de todas as formas, desde seu desaparecimento precoce aos 36 anos, foi Marilyn Monroe. Quando a gente pensa que já sabe tudo sobre a estrela, surge esse documentário com gravações inéditas, jogando nova luz sobre as circunstâncias de sua morte. Não é a primeira teoria da conspiração que surge sobre o caso, mas desta vez é fundamentada em depoimentos inéditos de pessoas próximas de MM. O documentário mantém vivo um dos maiores mitos da história do cinema, revolvendo em sua trágica e brilhante existência.

Reprodução/Divulgação

 

Séries

Black Earth Rising – 8 episódios – 2018 –Netflix

Esta minissérie da BBC já esteve aqui, mas agora ela voltou num streaming mais acessível, a Netflix. Como é ótima, merece uma nova chance de ser descoberta. A história é centrada em Kate Ashby, uma jovem sobrevivente do genocídio em Ruanda, resgatada ainda criança por uma promotora britânica. Adulta, Kate trabalha como investigadora jurídica no Reino unido. Ao enfrentar o líder da milícia africana no tribunal, ela sente-se instigada a ir à Ruanda atrás de sua própria identidade para entender traumas que carrega. A atriz Michaela Coel é conhecida pelas séries “Black Mirror “ e “I may destroy you”, roteirista premiada por essa última. Outro nome importante do elenco é John Goodman, que faz o chefe de Kate. De quebra, ainda tem a trilha sonora de Leonard Cohen.

Reprodução/Divulgação

 

Gentelman Jack – 2 temporadas de 8 episódios – HBO

Com a segunda temporada chegando depois de um longo período de pandemia, dá tempo de ver a primeira temporada dessa série baseada na história real de Anne Lister, uma mulher à frente dos costumes da West Yorkshire de 1832. Empreendedora e inteligente, Anne chocava a comunidade local com seu modo masculino de vestir e sua firmeza para restaurar as minas da família, cobiçadas por empresários locais. Para aumentar o disse-que-disse, ela tem um romance com uma jovem prometida a um viúvo. A atriz britânica Suranne Jones está ótima no papel de Anne Lister.

Reprodução/Divulgação

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OUTRAS PALAVRAS

Estou resgatando uma seção que me dava muito prazer nas primeiras edições da coluna Cine & Séries. O monopólio da opinião é uma coisa muito chata e trazer outras palavras é sempre enriquecedor. Hoje, o escritor, tradutor e dramaturgo, Robertson Frizero, também cinéfilo de carteirinha, escreve sobre “ Minx”, série disponível na HBO Max, que ainda não tive a chance de ver.

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UMA REVISTA PARA ELAS

Em uma feira de editoras na Califórnia, em 1971, auge da chamada Segunda Onda do Feminismo, uma jovem editora tenta vender seu projeto de revista: voltada para mulheres, com matérias densas sobre temas de importância para um mundo em transição, a revista “O Despertar do Patriarcado” é o projeto de vida de Joyce, então empregada como atendente na redação de uma revista para meninas adolescentes. Mas o único que se interessa pelo seu projeto é Doug, dono de uma das maiores editoras de revistas pornográficas da Califórnia. Ele vislumbra algo revolucionário: uma publicação erótica voltada para as mulheres, trazendo o que antes nenhuma revista ousara mostrar – nu masculino frontal.

Este é o início de Minx, série da HBOMax que estreou em março de 2022 na plataforma de streaming causando um imenso alvoroço. Houve quem contasse: no primeiro episódio, o espectador é exposto a trinta e oito nus frontais masculinos – e isso é divertidíssimo. Que se afaste da televisão quem for pudico demais, mas o mérito da série é justamente fazer o telespectador sentir o que teria sido espantoso também para as próprias personagens. A cena é engraçada – a série, aliás, é recheada de bons momentos de humor inteligente, sobretudo para quem conhece sobre os bastidores daquele início dos anos 1970, revividos com riqueza de detalhes pela ótima direção de arte. Mas não há, em toda a série, nenhuma nudez gratuita, nem o nu é usado para excitar ou chocar. Minx é uma série de humor firmemente baseada em um roteiro muito bem escrito e atuações que fazem qualquer um sentir empatia pelas personagens. Das feministas mais radicais à máfia, da indústria da pornografia à hipocrisia dos conservadores, nada fica impune nesta série, cuja primeira temporada completa, de dez episódios, já está disponível.

Ophelia Lovibond e Jake Johnson são um achado como a jovem editora e seu patrão pornógrafo. Mas o elenco todo funciona muito bem: como não se apaixonar pela dumb blonde Bambi, vivida por Jessica Lowe, uma célebre ex-modelo das revistas de Doug que vira o braço direito da Minx; ou pela segura Idara Victor, que faz a secretária e única pessoa razoavelmente equilibrada em toda a editora? Ao assistir a série completa – e é fácil maratonar quando cada episódio tem não mais que trinta minutos –, a pergunta que fica no ar é: onde estavam esses atores talentosos, esses roteiristas, essa direção? A série promete uma segunda temporada – sobretudo com o índice de aprovação que está mantendo em sites como o Rotten Tomatoes – 97%! E, acredite, depois do primeiro impacto, embalados por uma história tão bem contada, os espectadores nem se darão conta mais dos eventuais personagens com seus pênis (enormes, por sinal) à mostra na tela de sua sala de estar.

Reprodução/Divulgação

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THE END

cronica

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