Discursos não são melhores que a vacina

O governador João Doria Júnior (PSDB), de São Paulo, deveria se dar por satisfeito ao vencer o primeiro round e conseguir, após a aprovação da Anvisa, fazer a primeira vacinação no país contra a Covid-19 com a Coronavac, que conta com a participação técnica do Instituto Butantan, mas não se conteve ao debater, quase que simultaneamente – um em São Paulo, outro no Rio de Janeiro -, com o ministro Eduardo Pazuello (Saúde) questões que só esquentam um ângulo que pouco interessa à sociedade.
No momento em que o cidadão estiver por receber a vacina, não perguntará se foi Doria, Bolsonaro ou Pazuello que comprou o produto, tampouco se fez certo ou errado na busca da imunização, depois de Sinovac e Astrazeneca passarem pela aprovação emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O fator político, a briguinha entre “facínora” e “moleque”, insultos trocados nos últimos dias, é um jogo eleitoral, uma antecipação do debate para 2022, desgastante e nada produtivo para quem aguarda a verdadeira solução do problema, um alento para a população com a imunização.
O argumento
Doria disse que Pazuello se equivoca ao afirmar que recursos federais foram usados para pagar o lote da Coronavac que chegou a São Paulo, desenvolvido em parceria com o Butatan.
É uma daquelas coisas que o ministro nem deveria insistir.
Quase um comício
Esta tônica de misturar política duvidosa com coisa séria ficou evidente no lançamento simbólico da distribuição da vacina para os estados, quando Pazuello reuniu dezenas de governadores em um galpão do Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo.
Foi para tirar fotos e mostrar chefes de governo questionados muitas vezes em função das ações contra a pandemia ao lado das bandeiras, prova de que a presença deles não agiliza nada, porém afoitos por darem uma cavalgada na onda histórica, garantiram um jeito de aparecer.
Paulada
De fato, a grande paulada nesta história veio da Anvisa que, ao votar pela autorização emergencial das vacinas, bateu forte em conceitos difundidos e defendidos pelo Palácio do Planalto.
“Não existe tratamento precoce com comprovação científica para a Covid-19”, relatado mais de uma vez pelos diretores da agência, mais o contraponto de que “não cabe a discussão política sobre o assunto”.
Menos mal
Carlos Moisés não foi a São Paulo, enviou quem de fato precisa: o secretário André Motta Ribeiro (Saúde).
Aliás, Motta Ribeiro disse em entrevista ao vivo no Band Cidade, da TVBV, na última sexta (15), que não teme qualquer substituição na reforma do secretariado de Moisés. “Trabalhamos todos os dias pela saúde, a decisão é de governo”, declarou o secretário que é médico por formação e servidor público estadual.
Trocou
Depois da chegadas das vacinas na Base Aérea de Florianópolis, o governo do Estado anunciou o início oficial da campanha de imunização, às 17h, nesta segunda (18).
E trocou de local: passou da Defesa Civil, na Avenida Ivo Silveira, para o auditório do Instituto de Cardiologia, junto ao Complexo Hospitalar de São José, em São José, devido a agenda do governador.
Ansiedade
Prefeitos de todas as regiões do Estado estão na expectativa de quantas doses da Coronavac chegarão às cidades.
Ansiedade que se justifica até porque a alternativa anterior era mergulhar no improvável sonho de ter a vacina direto do Butatan, quando se sabe que é o governo federal que deve centralizar estas compras, não só pelo poder de barganha junto aos laboratórios, mas pelos valores necessários para a compra em quantidade para atender a população.