Recentemente, a Associação Catarinense de Tecnologia – Acate, sediou a 4ª edição do edTech Summit 2024, um evento dedicado às “tecnologias e a formação humana para futuros possíveis” que impactam profissionais, empreendedores, interessados pela área da educação, além de estudantes. Esse evento é um exemplo da importância da colaboração e do compartilhamento de conhecimento entre os principais atores do setor de EdTechs, e a possibilidade concreta de promover a inovação e o desenvolvimento da educação no país.
As EdTechs são startups que desenvolvem soluções tecnológicas para a educação e estão impulsionando a revolução na forma como se aprende, permitindo que os alunos acessem conteúdo de alta qualidade, personalizado e interativo, em qualquer lugar e a qualquer hora. Utilizando tecnologias como inteligência artificial, gamificação e plataformas de ensino personalizadas, essas empresas buscam transformar o ensino, tornando-o mais inclusivo e adaptado às necessidades de cada aluno.
A vertical Edtech da Acate é um dos principais hubs de inovação educacional do país, reunindo mais de 70 empresas que desenvolvem e comercializam soluções inovadoras para instituições de ensino, empresas e indústrias. Essas empresas oferecem uma ampla gama de produtos e serviços em áreas como ambientes virtuais de aprendizagem, aplicações de conteúdo para ensino à distância, sistemas de avaliação e gestão acadêmica, aplicativos móveis, soluções de tutoria e outros projetos inovadores.
O mercado global de EdTech deve atingir US$ 92,09 bilhões até 2033, evidenciando o crescimento exponencial desse setor, que é um reflexo da demanda crescente por soluções inovadoras e eficazes para melhorar a educação, especialmente em um contexto pós-pandemia em que a tecnologia se tornou essencial para o ensino e a aprendizagem. No entanto, no Brasil, os desafios educacionais vão além da inovação tecnológica, e questões como a alfabetização ainda são barreiras importantes a serem superadas, especialmente no contexto pós-pandemia.
Cenário Educacional e os efeitos da pandemia
O Censo Escolar de 2024, divulgado pelo IBGE, trouxe à tona dados impactantes: 44% das crianças em idade escolar no Brasil ainda não estão alfabetizadas. Esse número reflete os impactos da pandemia de Covid-19, que interrompeu a educação presencial e prejudicou o desenvolvimento de milhões de estudantes. A queda na taxa de alfabetização entre crianças de 7 a 12 anos foi observada em estados tradicionalmente bem colocados, como São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina.
O mais recente Relatório de Resultados do Indicador Criança Alfabetizada, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) em maio de 2024, revelou que 61% das crianças nas redes públicas de Santa Catarina alcançaram o nível de alfabetização adequado para o 2º ano do ensino fundamental. Esse número, embora superior ao desempenho registrado em 2021, continua 8 pontos percentuais abaixo da taxa de 69% observada em 2019, antes da pandemia, porém, tragicamente, evidencia o seu oposto, ou seja: 39% das crianças catarinenses das redes públicas NÃO alcançaram o nível de alfabetização adequado para o 2º ano do ensino fundamental.
A avaliação em Santa Catarina contou com a participação de 79% dos alunos das redes públicas, utilizando o sistema Alfabetiza SC 2023, alinhado ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Dentre os 293 municípios avaliados, 21 alcançaram mais de 85% de alunos alfabetizados, sendo que nove desses municípios, como Irati, Saltinho e São João do Oeste, registraram mais de 90% de alfabetização no 2º ano do ensino fundamental.
Desigualdades e Tecnologia: o papel das EdTechs no futuro da educação
Enquanto algumas escolas em Santa Catarina demonstram avanços, a desigualdade no acesso à educação de qualidade ainda é um grande desafio. As EdTechs devem desempenhar um papel importante na redução dessas disparidades, oferecendo soluções inovadoras que democratizam o aprendizado. No entanto, o acesso a essas tecnologias de acesso a essa revolução ainda é desigual, com muitas escolas públicas enfrentando limitações de infraestrutura e conectividade.
Apesar de escolas particulares adotarem rapidamente as novas ferramentas digitais, muitas instituições públicas não possuem os recursos necessários para acompanhar essa transformação. A inclusão digital é, portanto, um ponto central para garantir que as EdTechs possam, de fato, ajudar a construir uma educação mais justa e equitativa, mas ainda é um discurso utópico para quem está na ponta do processo e nas escolas públicas, o gestor dessas escolas, mas, principalmente para o corpo docente. Não por acaso, a síndrome de Burnout afeta aproximadamente um em cada três professores da educação básica, segundo um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), dados que abrangem também a realidade de muitos professores catarinenses. Uma realidade que tem como principais fatores contribuintes os salários defasados, a violência nas escolas, a pressão por resultados, além da falta de estrutura e valorização profissional.
Iniciativas para o Futuro: O Compromisso Nacional Criança Alfabetizada
O Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, lançado pelo MEC em 2023, tem como meta garantir que todas as crianças brasileiras estejam alfabetizadas até o final do 2º ano do ensino fundamental. Em Santa Catarina, 99,3% dos municípios aderiram a essa política, que já recebeu R$ 33 milhões em investimentos do governo federal. Além disso, o estado está trabalhando na formação de professores e gestores, com R$ 13,5 milhões destinados à capacitação de 18.857 profissionais, em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Outro destaque é o investimento de R$ 5,8 milhões na criação de 4.763 “Cantinhos da Leitura” em salas de aula do 1º e 2º ano, além de R$ 9 milhões para a distribuição de materiais complementares de apoio à alfabetização.
Metas e Desafios para 2030
O MEC estabeleceu metas progressivas para garantir que, até 2030, mais de 80% das crianças da rede pública estejam alfabetizadas. O padrão de desempenho é medido por meio de uma pontuação mínima de 743 pontos no Saeb, conforme definido pela Pesquisa Alfabetiza Brasil, conduzida pelo Inep em 2023. Para atingir essas metas, Santa Catarina precisará continuar investindo em políticas educacionais que combinem inovação tecnológica com formação de qualidade para professores, infraestrutura adequada e inclusão digital.
A combinação entre as inovações trazidas pelas EdTechs e as políticas públicas focadas na alfabetização infantil pode ser o caminho para melhorar os índices educacionais em Santa Catarina e em todo o Brasil. No entanto, é essencial que essas soluções tecnológicas sejam acompanhadas por investimentos em infraestrutura e formação para garantir que todas as crianças tenham acesso às mesmas oportunidades de aprendizado. Enquanto parte dos alunos tem acesso a equipamentos de ponta na própria escola e ainda tem em suas mochilas celulares, tablets ou notebooks de última geração, outros ainda enfrentam dificuldades em obter o material escolar básico e uma alimentação adequada, revelando uma disparidade que vai levar tempo para ser superada.
Alguns grupos políticos, quando no exercício de um mandado executivo (Presidente, Governador ou Prefeito), investem na educação por força da lei, mas fazem pouco para apoiar o desenvolvimento e a inclusão efetiva dessas crianças na educação e no futuro mercado de trabalho. A diferença entre um e outro não está apenas no discurso, mas também nas ações. O talento humano deve ser desenvolvido, e perder esse potencial imenso, por falta de investimento na educação e nos profissionais condutores desta possível revolução – os professores, resulta em um prejuízo incalculável para o país.
Educação não é gasto, mas investimento de forma sistêmica na qualidade de vida das pessoas e no desenvolvimento econômico do país. O investimento em educação tem um impacto profundo e multifacetado em diversos aspectos da sociedade, incluindo indicadores econômicos, saúde e segurança, uma prioridade que deveria ser de todos, mas não é.
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*A síndrome de Burnout é um distúrbio emocional causado pelo acúmulo de estresse relacionado ao trabalho, especialmente em situações de pressão constante e excessiva. Ela é caracterizada por três principais dimensões: exaustão emocional, onde o indivíduo se sente completamente esgotado física e mentalmente; despersonalização, que é uma atitude de distanciamento ou insensibilidade em relação ao trabalho e às pessoas; e redução da realização pessoal, quando a pessoa sente que seu desempenho é insuficiente e perde o sentido de realização no que faz. É comum em profissões que exigem muita interação e responsabilidade, como ensino, saúde e atendimento ao público. Sintomas podem incluir cansaço extremo, falta de motivação, baixa autoestima, irritabilidade e, em casos graves, depressão.
A síndrome de Burnout é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional e exige diagnóstico e tratamento adequados para prevenir complicações mais graves.