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Jesus Cristo e o filho de Bruce Lee

Jesus Cristo e o filho de Bruce Lee
Freud – a série

Nunca se viu tantas histórias de loucura relatadas na mídia como agora, seja no sentido figurado ou literal. A pandemia, o confinamento e o medo são aditivos para explosões de casos atualmente. Mas vou falar do passado, quando eu ainda trabalhava em televisão. É impressionante o quanto esse meio de comunicação atrai pessoas mentalmente perturbadas. Quero contar alguns casos para vocês, sem qualquer pretensão de explicar cientificamente onde cada um se encaixa no leque de problemas psiquiátricos.

Mal acabava o telejornal, o telefone tocava na redação. Era o Max, dizendo que ouvira o motor do ônibus falando com ele. Sempre relatava esses diálogos estranhos até com a antena de TV. Passamos a chamá-lo de “Max das Vozes”. Pela assiduidade, tornou-se quase nosso amigo.

Acho que o mais “criativo” foi o homem que pediu para fazer uma denúncia. Contou-nos que era filho de Bruce Lee, raptado quando bebê e trazido para o Brasil. Como tinha traços ocidentais, ele mostrava cicatrizes inexistentes no rosto, alegando ter sido submetidos a cirurgias plásticas para esconderem que era filho do grande  lutador de artes marciais, famoso no cinema como ator e roteirista. Por que em sua fantasia o denunciante “escolheu” ser filho de Bruce Lee? Jamais saberemos.

Daria para escrever um livro com tantas histórias ocorridas na TV, mas vou contar só mais uma, envolvendo um personagem indefectível. Vocês já vão entender. Eu e a chefe de reportagem na época, minha amiga Giovanna Flores, sentávamos frente a frente. Um homem entrou na redação sem ser anunciado e disse que queria falar com algum jornalista. Vinha para dar uma entrevista e falar de coisas importantes. Giovanna perguntou – qual é o assunto? Quem é o senhor?. E o homem: Eu? Eu sou Jesus Cristo! Pareceu meio irritado por não ter sido reconhecido e o tom foi ficando perigoso. Enquanto ela mantinha uma conversa do tipo “se o senhor subir o morro mais um pouco, há outro canal de televisão lá de linha religiosa, programas de pastores etc…”, eu ligava para a guarita e murmurava para o guarda vir até a redação. O segurança chegou e pediu que ele se retirasse.

Mal o homem virou as costas, Giovanna me olha e diz: Bri, e se ele era mesmo Jesus Cristo?. Gelei com a ideia: agora é tarde, minha amiga. Ele já foi dar entrevista lá na Record.

 

(Brígida De Poli)

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Bem a propósito…

Três Cristos – direção: John Avnet – 2020 – Telecine

Em 1959, quando pacientes com doenças mentais eram submetidos a tratamentos quase medievais (eletrochoque, lobotomia, medicação entorpecente…), o psiquiatra Alan Stone – baseado no médico real Milton Rokeach – iniciou um estudo inédito em um hospital de Michigan. Ele juntou três pacientes que afirmavam categoricamente serem …Jesus Cristo. O médico queria entender o que levou três homens diferentes entre si – que mantinham uma parcela mínima de suas personalidades originais – a viverem a mesma fantasia dentro do quadro de esquizofrenia e paranoia.

O primeiro, Joseph, vivido por Peter Dinklage (The Game of Thrones) ama a música e a literatura; Clyde sente cheiros desconhecidos e é obcecado por banhos e Leo, o terceiro, se mostra o mais revoltado e potencialmente perigoso.

O Dr. Alan Stone, interpretado por Richard Gere, investe em sessões de terapia de grupo, numa tentativa de abandonar os tratamentos tradicionais. Um caso tão extraordinário acaba mexendo com a mente do próprio médico e sua auxiliar. (O trailer é dublado, mas o filme pode ser visto com legendas, felizmente.)

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OUTROS FILMES E SÉRIES

Séries

Em Terapia (In Treatment) –  EUA – HBO

Ainda no tema, fiquei contente ao ver que uma das minhas séries favoritas voltou à programação da HBO.  Vi as versões argentina e brasileira – falta ver a original que é israelense e a italiana- mas minha preferida continua sendo a americana com Gabriel Byrne no papel do psicanalista Paul Weston. A trama se divide em cinco sessões, a cada dia Paul atende um paciente e, no último, é o próprio que se consulta com sua terapeuta. E ele precisa muito, pois tem grandes complicações na vida pessoal. São 43 episódios em três temporadas, premidos com um Globo de Ouro e dois Emmys. Falta a HBO disponibilizar todos no Now.

O que fez a HBO trazer “In Treatmet” de volta depois de dez anos? É que a série retornará em breve com nova protagonista. Sai Gabriel Byrne, entra Uso Aduba (atriz da famosa Orange is the new Black) como a Dra. Broke Taylor. A nova temporada insere temas bem atuais, como a pandemia. Não imagino como alguém possa superar Byrne/ Weston, mas vou torcer para que seja boa como a original. A ver.

 

Freud – 8 episódios – Netflix

Passada em Viena, no século 19, esta produção austríaca mistura ficção e realidade, reunindo o psicanalista Sigmund Freud, o inspetor da polícia Alfred Kiss e a médium Fleur Salomé. O trio se dedica a caçar um serial killer. Suspense e mistério de boa qualidade.

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Filmes

Um método perigoso –  direção: David Cronenberg – 2012 –Prime Vídeo

Um elenco famoso conta como do embate entre Carl Jung e Sigmund Freud surgiu a psicanálise. Michael Fassbender é Jung e Vigo Mottersen interpreta o Dr. Freud.  Entre eles se encontra Sabina Spilrein, a paciente russa de 19 anos, curada por Jung. Ela acaba se tornando psiquiatra e amante do médico. O papel ficou com atriz inglesa Keira Knightley.

 

Volta ao mundo- Suiça – Belas Artes à la carte – até 19/05 Àfilmes

O Belas Artes – aquele streaming que faz a alegria de quem gosta de clássicos e cinema europeu por uma mensalidade bem em conta- está disponibilizando filmes da Suiça. Uma boa chance de conhecer mais sobre produções de uma nacionalidade pouco divulgada no Brasil.

Há títulos novos, como “Medo de Voar”, “Sturm” e “Escapate”, de 2020, e também “ O Último a rir”, de 1969, e “Na cidade Branca”, de 1983, os dois dirigidos por Alain Tanner, um dos nomes mais importantes do cinema europeu.

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BÔNUS

Uma dica para quem curte cinema, TV e games: CultLab podcast (https://www.facebook.com/Cultlab-podcast-106063104196759/)

O choque de gerações entre millenials e oitocentistas resultou em bate papos semanais descontraídos e informativos sobre cinema, TV, streaming, games e cultura em geral. O trio formado pelo apresentador Yago Gonçalvez e pelos participantes Leonardo Chaves e Lauro Jorge Amorim recebe convidados para falar sobre temas atuais e analisar filmes e séries clássicos e contemporâneos.  O CineLab presenta também dossiês completos sobre a carreira de cineastas e realizadores.

Já são mais de sessenta episódios, reunindo um cuidadoso conteúdo de análise cultural da internet, através do Facebook, Instagram e Spotify. O mais recente (nº 64) é sobre o diretor mexicano, Guillermo Del Toro, diretor de filmes como Hellboy, O Labirinto do Fauno e vencedor do Oscar por A Forma da Água.

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THE END

(*) Fotos reprodução/divulgação

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