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No mundo de 2070

No mundo de 2070
Cena de Soylent Green (1973)

Já contei para vocês que participo do coletivo Literatura Mínima, onde um grupo de autores escreve muito com pouco. Fomos desafiados pelo escritor e professor Robertson Frizero, mentor do projeto, a produzir um miniconto de cinquenta palavras, tratando da vida na Terra daqui a 50 anos. Bah! Escrever ficção científica não é fácil sem limites de palavras, imaginem com. Já estava desistindo quando lembrei de um filme que me marcou muito, chamado “ Soylent Green” ( biscoito verde).

A história se passava no futuro. Superpopulação, falta de água , de energia elétrica, de moradia e de comida para a maioria dos habitantes. O calor – sim, o cinema já apontava o aquecimento global há 40 anos – era insuportável. As pessoas viviam em condições sub-humanas e se alimentavam de biscoitos verdes ou vermelhos, feitos de soja, ou do novo soylent verde, de proteína. Só a elite tinha acesso a alimentos frescos e carne. O povo precisava entrar em fila para receber sua ração diretamente da empresa que produzia os biscoitos. Nessa escassez de tudo, os velhos podiam pedir para morrer e o governo cuidava que fosse de maneira confortável.

O meio desse caos, o detetive Robert Thorn, interpretado por Charlton Heston, é chamado para investigar o assassinato de um funcionário da fábrica de biscoitos. Puxando o fio da meada, ele chega a uma descoberta terrível: o soylent green , justamente o mais vendido, é feito de restos humanos. Me permiti dar spoiler porque o filme não está disponível.

O leitor mais atento pode estar se perguntando: “se a história se passa no futuro por que a cronista está escrevendo no passado”? Porque o filme é de 1973, e o futuro sombrio retratado ali é o da década de 2020. No Brasil, aliás, a película se chamou “No mundo de 2020”. Sim, o ano fatídico em que aprendemos o quanto somos ínfimos e frágeis nesse planeta do qual cuidamos tão mal.

Como estamos quarenta e oito anos depois que o filme de Richard Fleischer trouxe essa visão trágica do mundo ? Ainda não chegamos no

grau de miséria de Soylent Green, mas estamos a caminho. Há fome, gente morando debaixo de viadutos, escassez de água e apagões. Os grandes conglomerados dominam preços e acesso a produtos de primeira necessidade. O aquecimento global cresce, as florestas queimam e as geleiras derretem. A Peste avança.

Lembram que o desafio do Literatura Mínima pedia uma antevisão do mundo daqui a  50 anos ? Escrevi um miniconto baseado numa das cenas mais impactantes do filme. Mais que isso não consegui. Deixo a tarefa para  muitos de vocês que ainda estarão aqui em 2070. Eu já terei partido. Não é morbidez, não é pessimismo. É matemática. Aguardo suas previsões.

(Brígida De Poli)

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DICAS DA COLUNA

SÉRIES

Peaky Blinders – Sangue, apostas e navalhas – 6 temporadas – Netflix

Os fãs de Peaky Blinders, como eu, estão torcendo para que a 6ª temporada chegue mesmo no segundo semestre. Que demora! Quem ainda não viu, não sabe o que está perdendo. Se você gosta de uma produção esmerada e uma trama com ritmo e bons diálogos, parabéns, você achou a série certa. Mas, não pode temer cenas de violência porque têm muitas…

Os Peaky Blinders formam uma organização criminosa surgida na Inglaterra após o fim da 1ª Guerra Mundial, em 1919. Mesmo não sendo o mais velho, quem lidera a gang dos irmãos Shelby é Thomas. Saindo de uma vida miserável é ele que vai comandar a cidade de Birmingham. Além das brigas entre gangues pelo domínio de território, a série mostra os conflitos pessoais de personagens muito bem construídos. Nada disso teria um resultado de tanta qualidade se não fossem os atores. O elenco é ótimo a começar por Cillian Murphy que vive o torturado chefão. Ah, sim, os Peaky Blinders ( que carregavam uma navalha no chapéu para cegar seus inimigos) realmente existiram. Espia o trailer da 5ª temporada.

 

Your  Honor – 10 episódios – Paramount/Now/Net

Mais uma boa série dramática da Showtime exibida pelo novo canal Paramount. Bryan Cranston, famoso como Mr. White da série Breaking Bad, interpreta um juiz ético e justo. Seu único filho se envolve num acidente de carro e ele se vê diante de um dilema moral terrível. Um fator pesa muito para que ele não proceda como seria de se esperar de um homem tão digno. Ok,não vou me alongar pra não cometer spoiler e tirar as surpresas da trama.

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FILMES

A balada de Narayama – Shohei Imamura – 1983 – Belas Artes

Falar sobre a velhice me fez lembrar desse clássico japonês, disponível no Cine Belas Artes à la carte. Sinopse: Em Narayama, uma pequena cidade japonesa, há uma tradição: aquele que completa setenta anos deve deixar a vila e ir até o topo de uma montanha para encontrar a morte. Quem se recusa a cumprir a regra traz desgraça para sua família. Orin tem sessenta e nove anos e no inverno chegará sua vez de subir o monte. Mas sua maior preocupação no momento é encontrar uma esposa para seu filho mais velho Tatsuhei.

 

Cabras da peste – direção:Vitor Brandt – 2021

Então, pra aliviar a tristeza uma comédia brasileira! Já vimos tantas duplas de policiais incompatíveis no cinema, mas essa traz o sabor local ao juntar um cearense, interpretado por Edmilson Filhos e o paulista Matheus Natchrgaele, excelente ator tanto em comédia quanto em dramas. Os dois se reúnem para resgatar a cabra Celestina, considerada patrimônio do estado. Eles acabam descobrindo que o sumiço do animal está ligado a um grande traficante. Entre correrias, tapas e beijos acabam melhorando a imagem como policiais. Humor ingênuo, alguns clichês, mas ajuda a relaxar um pouco.

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Bônus

Uma bela novidade é o canal online “Ponte nórdica no ar”, uma parceria entre Secretaria de Cultura de São Paulo e o Instituto Cultural da Dinamarca, disponibilizando gratuitamente  filmes da Noruega, Suécia e Dinamarca. Dê uma olhada na programação e se jogue!

https://pontenordica.com.br/

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Até a próxima. Cuidem-se!

The end

(*) Fotos reprodução/divulgação

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