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O pecado da abstinência

O pecado da abstinência
Anya Taylor-Joy em cena de A Bruxa.

Durante dois anos esta coluna só falou de filmes, séries e tudo que envolvia o Cinema. A cada semana, películas sobre um tema:  futebol, racismo, viagens, medicina, jornalismo, política… (estão todas em arquivo para quem quiser ler). Em março de 2020, com a chegada da Peste senti necessidade de escrever  sobre ela e suas conseqüências. Nasceram as “Crônicas em Quarentena”. Achei que iam durar pouco, mas a pandemia se estendeu.  Hoje, as crônicas falam de tudo e, desconfio, vieram para ficar. Mas, a coluna não perdeu sua essência que é a de falar sobre a Sétima Arte e seus afluentes. Boa leitura!

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O pecado da abstinência

O filme A Bruxa (2015), incluído há pouco na programação da Netflix,  me fez lembrar da ministra da Mulher, da Família e Direitos Humanos, Damares Alves. Calma, não estou chamando-a de bruxa,  vou explicar ! Nessa que é sua película de estreia o diretor Robert Eggers mostra que o fanatismo religioso e a repressão sexual são um caminho direto para a tragédia. Antes é bom avisar: apesar do título não espere feiticeiras horrendas, sacrifícios humanos cobertos de tripas ou afins. O sangue  serve apenas para pontuar a chegada à puberdade dos personagens e o desejo que vem junto. Eggers usa de simbolismos para falar sobre  pecado e culpa. E onde entra a ministra nisso? Damares sugeriu no ano passado fazer uma campanha propondo a abstinência sexual entre jovens como forma de evitar a gravidez precoce.

Muito mais sensato seria reforçar a educação sexual nas escolas e  promover uma campanha inteligente de prevenção da gravidez e de DSTs,  mas agora até isso é visto como incentivo ao pecado. Deixo para os especialistas, terapeutas e psis em geral, explicarem em profundidade os danos causados pela repressão ao impulso sexual. A Igreja Católica conhece bem as conseqüências  na vida de padres e seminaristas. É apenas UM exemplo.

A história de A Bruxa se passa no século XVII, na Nova Inglaterra. O filme segue uma família de puritanos, expulsos de sua comunidade,  que passa a viver isolada e perto de uma floresta. A filha mais velha que  está virando uma mulher é acusada de ser responsável pela morte do irmão, ainda bebê. Para aumentar a tensão, uma força sobrenatural parece habitar a floresta. Reforço: A Bruxa não é um terror convencional . Ninguém é esquartejado com serra elétrica, por exemplo, mas a mente humana é matéria prima suficiente para gerar horror.

Lembrei de outro  filme que me toca muito, o drama Clamor do Sexo (Splendor in the Grass- Elia Kazan, 1961), onde o moralismo impede a felicidade de dois jovens,  interpretados por Warren Beaty e Natalie Wood. A história se passa na conservadora Kansas, em 1928, e a contenção do desejo chega a levar os dois ao descontrole emocional. O final, quando eles se reencontram, já maduros e casados com outras pessoas, é profundamente amargo. Esses filmes podem ser poderosas pedras de toque para outra visão sobre desejo e sexualidade, mas duvido que a ministra esteja disposta a mudar a dela. Se estiver, poderia começar refletindo sobre a famosa frase de Millôr Fernandes: de todas as taras sexuais, não existe nenhuma mais estranha do que a abstinência.

(Brígida De Poli)

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A Bruxa lançou uma atriz  americana-argentina-britânica que é a bola da vez, principalmente depois da minissérie “O gambito da Rainha” : Anya Taylor-Joy. Ela interpreta a filha adolescente e é o centro do drama. Veja o trailler.

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FILMES

A Escavação – direção: Simon Stone  – 2021 – Netflix

A história é tão interessante que o resultado final poderia ser ainda melhor, mas isso não significa que o filme não seja bom. Ralph Fiennes interpreta  Basil Brown, um escavador autodidata que descobre um dos maiores tesouros arqueológicos do mundo nas terras de Edith Pretty , uma aristocrata inglesa que o chama para investigar as estranhas formações em sua propriedade na localidade de Sutton Hoo. Quando se dão conta do achado extraordinário, um cemitério anglo-saxão dos tempos do Império Bizantino, entra em campo o arqueólogo oficial da Coroa Britânica. Com a arrogância acadêmica, ele logo escanteia Basil. O papel de Edith seria de Nicole Kidman, mas ela desistiu quando o filme passou para o streaming (Netflix).


Amando a Carolina – direção: Martin Viaggio –  2018 -Prime e Looke

Quem acompanha a coluna sabe do meu apreço pelo cinema argentino. “Amando a Carolina” já esteve aqui, mas volta agora porque está disponível no Prime Vídeo e no canal Looke, portanto bem mais acessível. Essa pequena jóia conta a história de Diego    que ama Carolina que ama Daniel. Não por acaso “A Quadrilha”, do Drummond, aparece no filme. Diego está escrevendo um livro onde vai contando o desenrolar desse imbróglio amoroso. O que também torna o filme especialmente atraente é ter sido filmado em Buenos Aires e nas praias  da Armação e Pântano do sul, em Florianópolis. No elenco, Bela Carrijo, Daniel Alvim, Guillermo Pfening e Helena Ranaldi.

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SÉRIES

O último magnata – 1 temporada – 9 episódios- Prime Vídeo

Adaptado do livro inacabado de F.Scott Fitzgerald, O último magnata já virou filme com Robert DeNiro (1976   ) e essa versão em série não faz feio. Produção sofisticada e atores que combinam com seus personagens contam a história de Monroe Sthar ( inspirado no ícone de Hollywood, Irving Thalberg) e sua carreira na indústria cinematográfica. Seu chefe e mentor é Pat Brady, com quem ele vive em queda de braço.

Apesar o alto investimento e do elenco conhecido- Matt Bomer é Monroe,  Kelsey Grammer, Brady e Lily Collins, a filha do chefe – a Prime não renovou para uma segunda temporada.

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FALA, LEITOR

Edna Domênica comenta a crônica “A Fera na Selva” da semana passada:

Se a metáfora da “fera” na crônica de Brígida Poli, em sua coluna do Portal Mankingof de 29/01/2021, for entendida como a situação vivida durante a pandemia 2019/2021 no que concerne à espera de tratamento e prevenção do “Covid 19” e de suas sequelas (de ordem: psicoafetivas, psicossociais, sociopolíticas, tecnopolíticas, humano econômicas, afetivo religiosas, psico religiosas, e tantos outros embricamentos imagináveis a que o assunto submete…), a fera é a compreensão da morte para uma geração latino americana inserida na geração dos que foram jovens universitários na década de setenta.

Falo da vivência de abrir caminhos de libertação em meio a repressões institucionalizadas no passado e de viver, no presente, algo que se assemelha ao sintoma psicótico denominado de “dejà vu”, mas que se torna sadio ao ser redimensionado como vetor de humanização.

Só encarando os problemas reais em suas dimensões reais é que a sanidade pode voltar às urnas, às redes sociais, às interações humanas, às decorrências das práticas religiosas.

Lembram da palavra reflexão?

– Ih! A “fera” ouviu e fugiu! Ah,ah, ah!

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Nara Guichon escreveu agradecendo a indicação do SPCine Play feita pela coluna.

Olá Brígida, dizer que suas preciosas indicações, me levaram a conhecer e usufruir, prla primeira vez da plataforma spcineplay.

A diversidade de opções de bom cinema francês, africano, festivais, curtas, longas, infantis…. é puro deleite. Grata por compartilhar entretenimento de alta qualidade, cultura !!

Sobre a coluna de hoje dia 22 janeiro, sim vivemos o horror, horror e eu mesmo não sendo pessoa de religião, costumo citar que um só mandamento nos bastaria: Faça ao outro ( seja gente, animal, planta), o que você gostaria que fizerem para você…. Simples e abrangente. Vamos começar?

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THE END

(*) Fotos reprodução/divulgação

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