O multifacetado Rico Mendonça é o convidado de hoje da coluna, que em janeiro está trazendo nomes que estão em constante reinvenção e deixando legados com suas histórias de vida, trabalho e talento. Rico é plural desde sempre, mistura tantas fases que é impossível separá-las, mas compreendê-las como um processo contínuo e mesclado de ideias para dar vazão a sua mente absurdamente inquieta. Portanto, não espere dele um criador focado apenas em um projeto por vez, pelo contrário, consegue trafegar por várias frentes ao mesmo tempo, sem perder a identidade de cada uma delas e a forma como definem a sua efervescência pessoal e profissional. Falar desse manezinho é dizer que ele tem um currículo tão extenso quanto a velocidade dos seus pensamentos, dono de uma capacidade criativa que o levou a incursões em áreas como o design, arquitetura, cenografia, pintura e escultura, entre outras habilidades, sempre unindo o antigo e o contemporâneo, preservando os ensinamentos do tempo e deixando sua marca para o futuro. Rico Mendonça já fez trabalhos na arquitetura em diversas áreas, participou de muitas mostras, exposições e eventos, recebendo inúmeros prêmios e menções honrosas que tornam sua carreira cheia de conquistas dentro e fora do país.
Criações no design de Rico Mendonça (@rico_mendonca_artes)
A carreira começou como designer de interiores e logo depois veio a arquitetura, com atuação contínua nestas áreas. Durante um tempo morou na França para buscar mais aprimoramento ao seu trabalho. São mais de 20 anos se aperfeiçoando, e nesse processo um longo hiato até fazer das artes plásticas um canal de vazão para trazer ao público sua arte em desenhos e pinturas. Rico Mendonça foi desenhando e guardando as suas criações enquanto se dedicava à carreira de arquiteto. Depois de um longo processo de questionamentos sobre o caminho a ser tomado, chegou o momento em que tudo se uniu, fez sentido e hoje o arquiteto e o artista plástico se fundiram e Rico segue sua jornada criando ambientes e arte que são beleza e questionamentos sobre a Terra e a humanidade.
Do design/arquitetura às artes plásticas. Obras de Rico Mendonça.
A fase mais recente de Rico Mendonça nas artes plásticas está intimamente ligada à influência dos laços familiares, principalmente a morte da mãe e a convivência mais próxima com os irmãos e mais intimamente ainda com o pai, com quem divide hoje a casa e boa parte da sua rotina. Nesta fase da vida, ambos ficaram mais conscientes da existência um do outro, estabelecendo uma conexão que não existia e um novo sentido de vida entre pai e filho, conta Rico.
A nova etapa abre espaço para uma grande diversidade de temas que estão presentes em suas obras. Uma das séries em andamento é resultado da coleta de madeira nas praias de Florianópolis, restos de natureza que ganham ressignificado, o que segundo Rico Mendonça nada mais é do que “dar à natureza uma nova possibilidade de vida ao que já teve utilidade e acabou descartado”. E na relação com o mar e a madeira, ele recolhe pedaços de proas de embarcações, remos, janelas, portas e tudo se transforma, de forma mais original possível, em registros do tempo.
Em seus desenhos, cria sinergia entre o veio natural de cada madeira e suas cores, buscando unidade entre as peças e criando o que chama de “desenhos rudimentares e tatuagens na madeira”.
”Tatuagem na madeira”
A tônica da tatuagem deixou o artista tão interessado pelo tema que acabou criando uma nova série de trabalhos, desenhos de signos em nanquim, que além do papel, acabaram se transformando em tatuagens de verdade, num processo complementar do ciclo da criação e perpetuação dos traços cravados na pele.
Arte do papel para a pele
Uma outra série, chamada de Senhora Z, inspirada em Zenite (do grego, ponto mais alto) revela as várias facetas das mulheres: românticas, mágicas, empreendedoras,sedutoras, mães, visionárias e tudo mais que possa representar o universo feminino. Essencialmente, tudo se traduz em mulheres de luz, trabalhos que vão compor uma exposição a ser aberta ao público ainda este ano.
Da série “Senhora Z”
Lembram quando falei lá no começo que a mente de Rico Mendonça se expande sem parar, num processo de retroalimentação existencial cheio de arte, mais uma razão para isso ser percebido. Quando eu estava praticamente fechando o material, ele me enviou mais uma das fotos da série de obras que está criando nesse momento, CASTELA, mulheres com castelo na cabeça, sonhadoras, ” os sonhos de infância, numa conexão com minha ancestralidade”, resume Rico Mendonça.
Da série em criação “Castela”
Rico Mendonça é acima de tudo um pensador, que traduz em arquitetura e arte a profusão de ideias incessantes, como se dentro da sua cabeça existisse um permanente tambor reverberando a necessidade de criar para vibrar mundo afora. E com uma boa dose de autoquestionamento sobre sua existência, Rico se pergunta, muitas vezes, se está no lugar certo. Por mim, respondo que sim, porque sua inquietude faz a gente pensar sobre o lugar que ocupamos no mundo.
Até a próxima semana.
@anselmoprada