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O poder do bom cinema

O poder do bom cinema
Benedict Cumberbatch, rumo ao Oscar em Ataque dos Cães/divulgação

Existem filmes para todos os gostos neste mundo. Ainda bem. Há quem prefira os com muita ação, luta e correria de carro. Tem a turma da comédia e a dos românticos. Prefiro as histórias densas, profundas, as que me deixam pensando. Não anda muito fácil encontrar filmes assim. Por isso fiquei super contente ao ver a nova produção da neozelandeza, Jane Campion, The Power of the dog.

O poder do cão – ou como a Netflix Brasil preferiu, Ataque dos cães – talvez seja o melhor filme que verei em 2021. Digo “talvez” porque ainda falta ver Madres Paralelas, do Pedro Almodóvar.

Jane Campion foi a primeira mulher a ganhar a Palma de Ouro em Cannes, em 1993, com o maravilhoso O Piano. Ela não dirigia um filme desde 2009, quando lançou O brilho de uma paixão. Agora voltou com tudo neste “western”-suspense-drama, contando a história de Phil e George, dois irmãos rancheiros, muito ricos e diferentes entre si. Phil é brilhante e rude, um cowboy capaz de castrar o gado usando só as mãos; George, é calado e gentil, toma banho e veste-se bem. Apesar da aparente passividade, é ele quem acaba tomando uma decisão capaz de criar conflito com o irmão, ao casar-se com a viúva Rose, mãe de um jovem delicado e inteligente, Peter, o narrador da história. E mais não conto, para manter os necessários segredos da trama.

Os personagens são bem construídos e as atuações dignas de Oscar. Sempre achei Benedict Cumberbatch um bom ator, mas no papel de Phil ele está espetacular! Kirsten Dunst, como Rose, está impecável, assim como o jovem  Kodi Smitt McPhee. Vi em casa, mas no cinema deve ser ainda mais impactante por causa da fotografia e dos cenários de Montana. Enfim, amigos, é um filmaço! Acho que encontrei meu “ filme do ano”.

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Filmes

Pepi, Luci , Bom e outras garotas de montão – direção: Pedro Almodóvar – 1980 -Cine Belas Artes

Este é o primeiro trabalho de Almodóvar na direção. Ele era funcionário da companhia telefônica espanhola quando escreveu o roteiro, em 1976. Começava ali, com uma “vaquinha” dos amigos, uma das carreiras cinematográficas mais ricas e interessantes do cinema europeu. Iniciava também uma parceria com a atriz Carmen Maura, até brigarem e só voltarem a trabalhar juntos dezessete anos depois em Volver (2006).

Almodóvar já mostrava na estreia que não seria o autor das histórias edificantes, das personagens certinhas. As chicas do filme são vingativas e irreverentes. Os conservadores torceram o nariz para o novo cineasta, mas ele não se intimidou. Agora, vinte e dois filmes depois, é disputado por Hollywood, a quem ainda não sucumbiu. O único filme em inglês dirigido por Almodóvar foi o curta-metragem A voz humana, com Tilda Swinton, em plena pandemia.

O artista e a modelo – direção: Fernando Trueba – 2012- Prime

Outro diretor espanhol, mas dirigindo em parceria com a França. O ator francês Jean Rochefort interpreta um importante e velho artista que recupera a inspiração quando sua mulher dá abrigo a uma jovem fugitiva da ditadura franquista. Através da garota, ele consegue se reinventar na arte, sem a qual não tem graça viver.

O filme recebeu várias indicações ao Prêmio Goya, o mais importante da Espanha.

Maré Alta – direção: Verónica Chen – 2021 – Netflix

Sou fã do cinema argentino, quem acompanha a coluna sabe bem. Esse suspense não é uma obra-prima, mas. O eixo é Laura, uma mulher de classe privilegiada, que está administrando a obra da churrasqueira na casa de praia de família. Depois de passar a noite com o chefe dos pedreiros, Weisman, os outros dois operários começam a atravessar a fronteira com a patroa. Weisman some, ela tem que administrar os trabalhadores e começa a ficar irritada com a invasão de seu espaço. A casa fica num lugar isolado, eles a espiam, fazem piadas sexuais e passam a desrespeitá-la. Cria-se um ambiente de insegurança, até o desfecho, mas… meus lábios estão selados.

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Séries

The Great – 1ª temporada –  10 episódios -Prime Vídeo

Enquanto não chega a segunda temporada, com estreia marcada para 31 dezembro, aproveite para ver a primeira. Uma versão livre e debochada da história de Catarina, a Grande. Nesta primeira parte, vemos a chegada da jovem Catherine à Rússia para casar com Peter.  Romântica, logo ela vê que o príncipe, ou melhor, o imperador encantado, não é tão encantado assim. Inteligente e ardilosa, a nova imperatriz vai encontrando formas de lidar com essa monarquia estranha e cruel. Os diálogos são divertidos e a produção um luxo só. Ellen Fanning e Nicholas Hoult estão ótimos nos papeis dos protagonistas.

The Club – 5 episódios – Turquia – Netflix

Acho bom ver séries de outras nacionalidades, principalmente quando já  se está um pouco saturado das mesmas caras de sempre. Ainda não conferi esse drama, ambientado em Istambul nos anos 1950, mas me parece promissor. A protagonista é Matilda, uma mãe com um passado conturbado, que acaba não podendo criar a filha. Mais tarde, ela começa a trabalhar numa boate com a intenção de refazer sua vida e se aproximar da filha, que desconhece sua existência. A conferir.

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Adeus, querida Lina Wertmüller

A coluna já estava pronta quando fiquei sabendo da partida, aos 93 anos, de uma das minhas cineastas favoritas, incluindo aqui homens e mulheres na direção. Gosto tanto de Lina Wertmüller que a incluí no meu livro de crônicas “As mulheres da minha vida” ( Ed. Insular, 2019), ao lado de outras admiráveis.

Ela tinha um cinema irreverente e ousado. Foi também a primeira mulher a ser indicada ao Oscar de Melhor Diretor(a), abrindo caminho para tantas que estão em atividade hoje.

Fiz também uma edição de Cine & Séries só sobre a obra de Lina, onde conto como a conheci pessoalmente. Deixo aqui o link como homenagem a essa artista rara e carismática.

Grazie, Lina, per tutti i film meravigliosi che mi hai regalato!

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THE END

*Fotos reprodução/divulgação

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