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PAVLOV EXPLICA

PAVLOV EXPLICA

Dando um tempo no formato temático de Cine & Séries, mas garantindo a leitura semanal para quem segue a coluna. Toda sexta-feira,  uma nova “Crônica em Quarentena” e, claro, dicas de filmes e séries para amenizar esses tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Fiquem bem!

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Crônicas em quarentena – XV – PAVLOV EXPLICA

Planejei lavar o cabelo hoje pela manhã, mas depois lembrei que tinha encontro marcado com amigos à noite. “Melhor deixar para depois do almoço, assim não chego cheirando a fritura” pensei. Em seguida, me dei conta: hellooo, o encontro é virtual, via Zoom ! Uma amiga está de aniversário e combinamos parabenizá-la em grupo pelo aplicativo, mas no meu cérebro estavam carimbados os preparativos habituais pré-festa.

O bom e velho Pavlov, fisiologista e psicólogo russo, e sua tese do condicionamento clássico ajudam a explicar. Ele fez o experimento de bater um sino cada vez que ia alimentar os cães. Com o passar do tempo, mesmo sem comida por perto, os animais salivavam apenas por ouvir o blém-blém. Simplificando: Pavlov mostrou que algumas respostas comportamentais são reflexos incondicionados, por serem inatas e não aprendidas, mas outras são reflexos condicionados aprendidos por indução ou sugestão.

No cinema, essa tese está presente no impactante A Laranja Mecânica (1972), baseado no livro de Anthony Burgess e dirigido por Stanley Kubrick. Alex, um jovem delinqüente, aceita ser cobaia de um experimento destinado a acabar com sua índole violenta e o espírito destrutivo, em troca da diminuição da pena.

Na quarentena estamos nos descondicionando a fazer certas coisas e nos condicionando a outras. Tenho lido no twitter depoimentos como ” passei a levar a mão à testa a todo instante para conferir a temperatura”, ” abandonei o uso de soutien em casa”, “estou dormindo muito mais tarde”,  ” meu coração quase sai pela boca se alguém tosse perto de mim”…

Quando houver uma vacina contra a peste continuaremos lavando as mãos a todo instante ? O que antes era considerado um TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo)- será o “novo normal”? Isso até seria um ganho, pois nunca é demais higienizar as mãos, seja pela Covid-19 ou por outras doenças. Mas um dia conseguiremos voltar a abraçar e beijar alguém sem medo ? Vamos parar de prender a respiração quando entrarmos no elevador? Continuaremos esfregando álcool nas mãos compulsivamente?

Se não tivesse morrido em 1936, o Dr. Ivan Petrovich Pavlov teria abundante matéria prima para seus estudos de condicionamento. Outros cientistas estão atentos às mudanças e reflexos que a pandemia deixará nos humanos. As pesquisas nos ensinarão a entender melhor nosso cérebro e até que ponto somos facilmente condicionados como ratinhos de laboratório? E, principalmente, como nos descondicionarmos ao que é ruim? Por enquanto, vou deixar para lavar o cabelo depois do almoço. Chegarei perfumada na festa virtual, mesmo que a tecnologia ainda não permita a transmissão de odores via computador. Sabe como é, mania, reflexo condicionado…sei lá!

(Brígida De Poli)

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A laranja mecânica (1972) pode ser visto no canal Looke ou no YouTube. O livro que deu origem ao filme é de Anthony Burgess (Editora Aleph/Amazon).

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O QUE OS LEITORES DISSERAM SOBRE A EDIÇÃO PASSADA E A CRôNICA “O PASSADO VIVE EM NÓS

 

De: Rutilandia Costa

Nesta quarenta tinha certeza de que iria me esbaldar vendo filmes, séries e tudo mais…infelizmente não foi isso que aconteceu, mas continuo amando tuas indicações e esperando o momento em
que poderei fazer uma das coisas que mais me tão prazer: filmes, seriados,, livros,teatro, dancas…arte , aproveitar para me embebedar das tuas matérias e sugestões de filmes e seriados. Amo a sétima arte, faz o mundo ser visto de outras maneiras. Valeu!!!

 

De: Zuleide Besen

Também compartilho dessa ideia Brígida. Acho que viver do passado, nos prende às circunstâncias. É limitador. Mas, quando aproveitamos nossas lembranças para nos impulsionar, seja pelas alegrias vividas nos bons momentos, ou pelo aprendizado nas situações difíceis, penso que a vida pode se tornar mais leve.

 

De: Clara Amélia

Esta frase “eu não vivo no passado, mas o passado vive em mim” é linda e profunda. Estou vivendo esta fase da vida que é a gratidão por tudo que foi e por eu ainda estar aqui podendo desfrutar. Tua crônica despertou todos esses sentimentos bons que dormitam por aí, nas dobrinhas do tempo e da memória!

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NETFLIX

Trilogia Baztán – 3 episódios – Espanha

As três histórias que se interligam foram retiradas da trilogia best seller da escritora espanhola, Dolores Redondo. Não li os livros, mas a série é recheada de clichês de tramas de mistério e suspense, com toques sobrenaturais. Mesmo assim, a trilogia se converteu num mega sucesso. Filmado na cidade de Baztán, o clima sombrio, a chuva incessante, o rio que transborda, criam uma ambientação envolvente e assustadora. Outro trunfo é a ótima atriz principal, Marta Etura, que interpreta a inspetora Amaia. Além de investigar, ela também é parte do mistério que envolve sua mãe e os assassinatos de vários bebês no Vale do Baztán. Outro ponto interessante é a presença do ator argentino, Leonardo Sbaraglia, como o magistrado e antigo amor de Amaia. Ele já trabalhou com Antonio Banderas em Dor e Glória, de Pedro Almodóvar, iniciando uma carreira internacional.

Os episódios são: O Guardião Invisível , Legado dos Ossos e Oferenda à Tempestade (trailer).

 

Com amor, Van Gogh – animação

Até hoje não entendo como essa incrível animação não ganhou o Oscar na categoria. Perdeu para uma produção da poderosa Pixar. A história de Van Gogh é contada usando seus quadros. Para cada segundo foram necessárias nada menos do que 12 pinturas para que a montagem pudesse ser feita. Ao todo, foram necessários 860 quadros pintados, além de terem sido realizados 1.026 desenhos.

A trama: 1891. Um ano após o suicídio de Vincent Van Gogh, Armand Roulin encontra uma carta por ele enviada ao irmão Theo, que jamais chegou ao seu destino. Após conversar com o pai, carteiro que era amigo pessoal de Van Gogh, Armand é incentivado a entregar ele mesmo a correspondência. Desta forma, ele parte para a cidade francesa de Arles na esperança de encontrar algum contato com a família do pintor falecido. Lá, inicia uma investigação junto às pessoas que conheceram Van Gogh, no intuito de decifrar se ele realmente se matou.

 

O desaparecimento de Madeleine McCann – série documental

O caso da menina inglesa desaparecida no balneário português da Luz, Algarve, voltou à tona depois de 13 anos porque hoje a polícia trabalha com a hipótese de haver encontrado o seqüestrador, um homem de 43 anos preso na Alemanha. A menina sumiu sem deixar rastros em uma noite em que os pais saíram para jantar e deixaram os filhos no resort alugado para as férias. Os pais chegaram a ser considerados suspeitos, mas sempre negaram as acusações.

Curiosamente, o alemão que hoje é o principal suspeito, aparece na série documental da Netflix, mas teve as suspeitas descartadas pela polícia portuguesa no início das investigações há 13 anos.

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PRIME VÍDEO

A vida dos outros – direção: Florian Henckel von Donnersmarck – 2007

Graças ao Prime Vídeo é possível ver ou rever esse filmaço, ganhador do Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira. Nos anos 80, o Ministro da Cultura da Alemanha Oriental se interessa por uma atriz que namora um famoso dramaturgo. Suspeitos de infidelidade ao comunismo eles são vigiados por um capitão do serviço secreto, a terrível Stasi, que acaba fascinado pela vida do casal.

 

No portal da eternidade – direção:Julian Schnabel –

Olha o Van Gogh aí de novo! Um gênio com uma história de vida tão dramática, só podia render muitos filmes mesmo. Aqui, Willem Dafoe é o pintor holandês que vai para Arles, no sul da França, a conselho de seu mentor Paul Gauguin, interpretado por Oscar Isaac. Rejeitado nas galerias de arte, Van Gogh enfrenta nessa fase o avanço da loucura e depressão, mas também da criatividade artística. (Trailer)

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NOW/NET

Quentin Tarantino : Os 8 primeiros – documentário

Quem é muito fã de Quentin Tarantino ( não é o meu caso, só gosto de alguns filmes dele)vai curtir esse documentário sobre os oito primeiros filmes do diretor. Foram 21 anos de produções como Cães de Aluguel, Pulp Fiction e Os oito odiados. Atores como Tim Roth, Samuel L. Jackson e Christoph Waltz falam sobre como foi trabalhar sob as ordens de Tarantino. Há histórias de bastidores interessantes como a briga com Uma Thurman, a atriz de Kill Bill, depois que ela se acidentou fazendo uma cena sem dublê, a pedido do diretor.

 

Estaremos sempre juntos – direção: Guillaime Canet-2019

Esse filme vai interessar principalmente para quem viu Até a eternidade (2012), com a mesma turma que se reencontra agora nessa continuação. Dessa vez, os amigos resolvem fazer uma surpresa de aniversário para Max , interpretado pelo “funcionário padrão do cinema francês”, François Cluzet. Depois de um certo mal estar pela recepção pouco amistosa do aniversariante, as histórias de cada um começam a vir à tona. Além de Cluzet, o elenco traz Marion Cottilard, Gilles Lelouch e outros astros franceses de primeira grandeza.

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PEQUENA HOMENAGEM A UM GRANDE DIRETOR

(Alan Parker – 1944 – 2020)

Procurei na memória algum filme de Alan Parker que eu não gostasse e não achei. Ao contrário, encontrei vários que gosto MUITO! Apesar de seu incrível talento, Parker nunca foi incensado como outros de seus pares que nem têm uma filmografia tão consistente. Britânico, o diretor carregava o título de Sir Alan William Parker. Foi indicado ao Oscar de Melhor Direção duas vezes por O Expresso da Meia Noite ( 1979) e Mississipi em Chamas ( 1989). No primeiro, perdeu para  Michael Cimino e seu O Franco Atirador (ok, também um grande filme) e no segundo para Barry Levinson com Rain Man.

Além de O Expresso da Meia Noite e Mississipi em Chamas -que tratavam de assuntos fortes como prisão por tráfico de drogas e crimes raciais – Parker dirigiu um dos thrillers que mais gosto na vida: Coração Satânico( 1987), onde Robert De Niro faz um impressionante “Lúcifer” e o então promissor Mickey Rourke interpreta o detetive Angel.

A música teve um espaço importante na filmografia de Alan Parker e é aí que ele me encantou diversas vezes: Fama (1980), Pink Floyd-The Wall ( 1982), Evita( 1995- com Madonna e Antonio Banderas, um filme injustiçado pela crítica) e  o meu favorito : The Commitments (1991).

Já confessei aqui na coluna que para nós, cinéfilos, quando morre algum dos nossos favoritos e como se partisse alguém muito próximo, um companheiro a quem somos muito agradecidos pelos bons momentos no “escurinho do cinema”. E Parker partiu justamente nesse ano que está levando tanta gente importante para o cinema. Tinha 76 anos e, segundo a família, enfrentava uma longa doença. É reconfortante saber que ele fez o que queria: “Eu vivi uma vida encantada”, disse. “Tive controle absoluto do meu trabalho, mesmo trabalhando em uma área muito difícil de expressar qualquer individualidade, como em Hollywood. Eles não interferiram no que eu fiz e, portanto, se meus filmes agradaram ou não, não é culpa de ninguém, apenas minha”.

A mim, seus filmes agradaram e muito, portanto o mérito é todo seu, Sir Alan Parker. Muito obrigada!

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THE END

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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