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SOB O LUAR DA TOSCANA

SOB O LUAR DA TOSCANA

Durante dois anos esta coluna só falou de filmes, séries e tudo que envolvia o Cinema. A cada semana, películas sobre um tema:  futebol, racismo, viagens, medicina, jornalismo, política… (estão todas em arquivo para quem quiser ler). Em março de 2020, com a chegada da Peste senti necessidade de escrever  sobre ela e suas conseqüências. Nasceram as “Crônicas em Quarentena”. Achei que iam durar pouco, mas a pandemia se estendeu.  Hoje, as crônicas falam de tudo e, desconfio, vieram para ficar. Mas, a coluna não perdeu sua essência que é a de falar sobre a Sétima Arte e seus afluentes. Boa leitura!

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SOB O LUAR DA TOSCANA

Viajar é uma das melhores coisas da vida. Enquanto a vacina não chega para todos os mortais e os brasileiros voltem a ser aceitos em outros países, resta lembrar das viagens feitas antes da Grande Peste. A linda lua dos últimos dias me levou de volta a Loro Ciufenna, uma pequena cidade toscana, onde tive a felicidade de passar alguns dias em companhia do meu companheiro e de três amigas de longa data. Vai fazer cinco anos, mas as lembranças continuam vívidas.

Hospedamo-nos numa daquelas casas de revista de turismo, paredes de pedra, no alto do monte, cercada de ciprestes. Lá do alto se via o mais belo pôr de sol inundar de amarelo a paisagem florida. À noite, o luar iluminava o nosso quarto. Para usar um clichê irresistível: parecia coisa de cinema!

Se eu parasse aqui, vocês diriam: eles estavam no paraíso, vivendo uma experiência perfeita, um sonho para qualquer viajante. Mas não contei que ainda na primeira parte da viagem, em Florença, fomos caindo de cama, um a um, abatidos por uma gripe que nos brindou com quase 40° graus de febre. Alguns de nós ainda estavam no auge da virose ao chegar em Loro Ciufenna, inclusive eu. Graças ao bendito seguro de viagem, conseguimos receber a visita de um médico, mesmo na nossa distante e isolada casa de pedras. Depois de nos auscultar e mandar repetir várias vezes “trentatré”, o simpático Dr.Leonardo nos receitou antibióticos, desejou “auguri” e partiu.

Na medida em que a febre baixava, eu também enfrentava os efeitos colaterais da medicação, entre elas um severo problema intestinal.  Quem já estava recuperado não queria perder tempo de conhecer outros lugares. Resolvi ser estóica e parti com eles na van alugada em direção ao Jardim do Tarô, na distante cidade de Capálbio. Não, essa parte não termina da pior forma, pois não tenho nenhum episódio escatológico para contar. Para não me arriscar a algum imprevisto passei o dia em jejum, enquanto os amigos saboreavam mexilhões à beira do Lago Bolsena. Eu só na água mineral. Valeu o sacrifício, não dei nenhum vexame no meio daquelas paisagens espetaculares. Bendito jejum!

A história acaba assim? Não! Tenho ainda outro caso de “mosquito no paraíso” para contar. Ou melhor, de “escorpião no paraíso”. Sim, queridos leitores, é verdade que as antigas e pitorescas casas toscanas têm escorpiões nas frestas. Para uma pessoa como eu que tem medo até de inocentes lagartixas, dá para imaginar o pavor na hora de dormir? Pois, o mesmo romântico luar que banhava nossa cama, me ajudava a perscrutar as paredes em busca dos scorpiones no meio da noite! Pela manhã a primeira coisa a fazer era “bater” os tênis antes de calçá-los para conferir se nenhum intruso havia se abrigado ali.

Deixo a “moral da história” para cada um que leu essa crônica. A que posso sugerir é que mesmo com gripe, desarranjo e escorpiões, a viagem foi absolutamente maravilhosa. Talvez o provérbio árabe “Ar-rafyq qabla at-taryq” explique. Traduzindo: a companhia antes da viagem!

(Brígida De Poli)

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DICAS

Filmes

Sonhos de uma vida ( The roads not taken)– direção: Sally Potter – 2021 (Starzplay/Prime)

Felicidade é …encontrar -depois de um longo garimpo- um filme com um de seus atores favoritos, dirigido por uma de suas diretoras favoritas!!! Foi o que aconteceu comigo quando dei de cara com esse filme num canal que eu nem sabia que assinava – o Starzplay – junto com o Prime Vídeo! Bardem interpreta um escritor de meia idade que vive num mundo interior só dele, um misto de demência e sonhos. Ele é cuidado amorosamente pela filha que luta para entender o que se passa na cabeça do pai. A diretora Sally Potter conta que cuidou do irmão, portador de demência, durante os dois últimos anos da vida dele. Daí veio a inspiração para o personagem de Javier Bardem, cada vez melhor ator, diga-se de passagem. Merece destaque também a jovem Ellen Fanning, para mim, no seu melhor papel. Também no elenco, a estelar Salma Hayek. O título original é algo como “Caminhos não percorridos”, mais coerente com as histórias na cabeça do escritor, ora escrevendo um livro na Grécia, ora com a mulher no México. No mais, é um filme sensível que segue um ritmo que pode desagradar a quem só curte ação na tela.

 

Sob o domínio do mal – direção:Jonathan Demme – 2004

Essas teorias absurdas que andam circulando sobre a “vacina chinesa” servir para implantar um chip na pessoa e transformar todo mundo em comunista, me fez lembrar do filme “Sob o domínio do mal”. Há duas versões. O remake, de 2004, está disponível na Netflix. O elenco é encabeçado por Denzel Washington. Ele é Ben, um soldado que volta da Guerra do Golfo e começa a perceber  através de pesadleos que sofreu lavagem cerebral. Liev Schreiber ( já viram a série “Ray Donovan” com ele?) é um companheiro de tropa que concorre a alto cargo no governo americano. Estaria ele também sob o domínio do mal?

Obs: Prefiro o original, claro, com Frank Sinatra e Laurence Harvey,de 1962, dirigido por John Frankenheimer. No caso, os vilões são os comunistas da Guerra da Coréia. O filme estreou no auge da Guerra Fria, então imaginem as mil teorias da conspiração que surgiram nos Estados Unidos!

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Séries

Gente, está difícil encontrar séries novas que mereçam destaque. Melhor sugerir  algumas clássicas para quem está recém começando na mania das histórias seriadas. Meu top 03.

Os Sopranos – 6 temporadas – HBO

Ela já fez 20 anos e continua sendo a minha série favorita. Foi a história do chefe mafioso Tony Soprano que deu o selo de qualidade à HBO ( ultimamente em decadência…). Tudo começa quando Tony sofre um ataque de pânico e precisa começar sessões com uma psicanalista, escondido dos seus subordinados e chefes de outras “famílias”, claro! Afinal, isso pareceria sinal de fraqueza. A relação de Tony com a mulher , Carmela, e os filhos, com as amantes e a peso de ser o “capo” sobre seus ombros rendeu episódios inesquecíveis. Um trunfo para tanto sucesso foi a escolha de James Gandolfini ( que Deus o tenha!) como Tony Soprano. A série se tornou um marco na história do gênero e não por acaso ganhou 21 Emmys e cinco Globo de Ouro.

 

Mad Men – 7 temporadas –

Essa reconstituição perfeita do ambiente das agências de publicidade da Avenida Madison, em Nova York, nos anos 60, tem um fato histórico importante a cada episódio. A luta racial, a morte de JFK, a corrida espacial…mas não pense que é chata, muito antes pelo contrário. O protagonista é Don Drapper, vivido por Jon Hamm   , que tem o físico ideal para o papel do bonitão da época. Ele tem um passado misterioso, não é quem parece ser, mas é um publicitário brilhante. Muita bebida, cigarro, sexo e machismo são a tônica na grande agência, onde só o cargo de secretária (e amante) é  reservado às mulheres. Uma delas sofre para romper isso. É Peggy Olsen, vivida por Elizabeth Moss, famosa depois de “Mad Men” e mais ainda da perversa “O Conto de Aia”. O elenco todo é ótimo, além de figurinos e direção de arte.

 

Em terapia – 5 temporadas –

Pode uma série com duas pessoas em cena ser interessante? Poooode!  A cada dia/episódio, o psicoterapeuta Paul Weston atende um de seus pacientes. Vamos conhecendo o drama de cada um: a atriz decadente, o soldado com trauma de guerra, um casal em crise e…a própria sessão do Dr.Weston, cuja vida está em frangalhos, com sua terapeuta.

A história original é israelense. Vi as versões americana, a argentina e a brasileira e acho que ninguém vive melhor o papel do angustiado Weston que David Byrne, na produção americana.  Infelizmente, a série dos EUA está fora de acervo do Now ( a brasileira está disponível na GloboPlay).

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Bônus

Literatura Mínima: é possível narrar uma boa história em poucas palavras?

Para quem curte textos criativos, o site Literatura Mínima é um achado. Não porque eu também esteja lá….tsc,tsc…mas porque tem autores incríveis escrevendo com poucas palavras. A cada semana um desafio: temas diferentes para um microconto de terror, uma crônica em 30 palavras, um nanoconto…

Deixo um texto do professor e escritor Robertson Frizero – que faz a mentoria dessa experiência literária- outro da minha amiga Dedé Ribeiro e um do colega português Lourenço Moura para vocês terem uma ideia do quanto a microliteratura pode ser interessante.

Dá para seguir o Literatura Mínima no Instagram: @literaturaminima

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THE END

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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