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Sobre desencontros e novos encontros

Sobre desencontros e novos encontros

Dando um tempo no formato temático de Cine & Séries, mas garantindo a leitura semanal para quem segue a coluna. Toda sexta-feira,  uma nova “Crônica em Quarentena” e, claro, dicas de filmes e séries para amenizar esses tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Fiquem bem!

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Crônicas em quarentena – Sobre desencontros e novos encontros

Lucas já estava arrumando as malas. Ia embarcar em poucos dias para a Espanha onde estudaria na Universidade de Salamanca. Andréia pretendia encontrar Leonardo e Raquel , em Londres, para juntos conhecerem a Grécia. As manas octogenárias, Joana e Mimi, iam passar alguns dias na casa da sobrinha, em Florianópolis. Guilherme planejava ir à rodoviária no dia seguinte comprar passagem para Porto Alegre, onde passaria alguns meses com a família. Deborah ia levar mais um grupo de turistas brasileiros à Toscana. Clarice se preparava para encontrar Nicolás, em Buenos Aires, onde iniciariam uma vida juntos. Eis que veio a roda viva em forma de pandemia e levou os planos de todos prá lá.

Jamais saberemos quantos desencontros a peste causou ao redor do mundo. Foram milhares ( milhões?) de sonhos desfeitos ou adiados. A vida estancou de repente como na brincadeira de criança em que a gente gritava “Mandrake!” e o outro tinha que ficar paralisado até receber um comando pra voltar a se mover.

Enquanto esperamos o comando e repetimos o mantra ” vai passar, vai passar”, achamos estratégias para driblar o isolamento social . Sou uma dessas sortudas que conseguiu novos encontros, sem correr riscos. Conheci pessoas de várias partes do mundo, graças a um prazer em comum: a escrita.

Um concurso de textos para teatro, com o tema Cenas do Confinamento/Escenas del Confinamiento, selecionou 55 autores brasileiros, argentinos, chilenos, e também de Cuba, Portugal, Colômbia, entre outros. Nos encontramos em uma live ( viva a internet, viva a tecnologia !) para as orientações e a foto coletiva que será a capa do e-book com nossos textos.

Ironicamente foi a pandemia que nos uniu. Foi emocionante ver aqueles rostos desconhecidos, cada qual de um lugar, vivendo o mesmo pesadelo do confinamento, mas também compartilhando o sonho de um dia podermos nos abraçar. Quem sabe?

UM REGALO

No dia seguinte ao encontro ainda recebi um lindo presente do diretor argentino, Martin Viaggio, participante da live: acesso livre ao seu filme “Amando Carolina”, rodado em parte no Brasil. A trama se passa em Buenos Aires e nas praias do Pântano do Sul e Armação, em Florianópolis. E adivinhem? Também fala de encontros e desencontros.

“Amando Carolina” traz o selo de qualidade do cinema argentino, é uma pequena jóia, um trabalho que segundo Viaggio ” es una película con sangre argentina pero con mucho corazón brasilero. ” . A fotografia, a trilha sonora, as locações, tudo harmoniza para contar a história do escritor argentino Diego, que ama a brasileira Carolina, que ama o pintor brasileiro Daniel. Não por acaso, A Quadrilha, de Drummond, está presente em um das cenas mais criativas. O filme é narrado por Daniel que está escrevendo um livro, contando a história desses amores desencontrados.

E agora como encerrar esta 13ª Crônica em Quarentena que fala de (des)encontros em tempos de confinamento? Hesito pelo tanto que já foram usados, mas – para além do medo do clichê – não há outros  versos que definam melhor o que quero dizer do que esses do poetinha Vinicius de Moraes : A vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida ! Amém! Boa sorte,  Lucas, Andréia, Joana, Mimi, Guilherme, Deborah, Clarice…

(Brígida De Poli)

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Título original: Amando a Carolina

Direção e roteiro: Martín Viaggio.

Elenco: Guillermo Pfening, Bela Carrijo, Daniel Alvim.

Origem: Argentina.

Duração: 89 Minutos

Disponível : Vimeo

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O que os leitores disseram sobre a crônica A Fogueira das Vaidades

 

Bete Nogueira

A nossa vaidade é muito singela, Brígida. Acho super bacana investir numa máscara diferente, mais alegre. Também estou pensando em diversificar as máscaras. Tuas colunas são top!

 

Celso Vicenzi

Bem sacada a pauta, Brígida. Uma crônica leve e ao mesmo tempo propondo aquela reflexão fundamental sobre o nosso dia a dia em meio à pandemia. Gostei principalmente da gourmetização da pandemia. Excelente!

Edna Merola

Tema muito oportuno da coluna: a vaidade. Em tempos em que as diferenças sociais se tornam exuberantes e mais cruéis faltam estudos não só na área da saúde, mas também referentes à Sociologia e Economia. Mais especificamente sobre a distribuição das mortes causadas pela Covid-19 e a renda mensal. Enquanto isso, o baile de máscaras continua na Corte “Brasiliae”!

 

Clara Amélia

Brígida aborda uma questão muito relevante e que dá “panos pra manga” ( ou pra máscara, né?). Sim, expões a doença do sistema que fez adoecer as pessoas que seriam ditas “normais”. Mas é o sistema que está anormal. Grata pela leitura. É como poder dar um suspiro diante de nossas aflições diárias.

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DICAS DE FILMES E SÉRIES DA ARGENTINA

Já que falamos em cinema hermano …

 

NETFLIX

A Argentina também produz boas séries. Infelizmente, o Canal TNT Séries /Now não só não trouxe a 2ª temporada, como ainda tirou  a 1ª temporada  da interessante  Um galo para Esculápio  do acervo. Mas, a Netflix mantém uma bela série argentina no cardápio.

Vientos de Água (série) – direção:Juan José Campanella -2006

Assisti a essa saga há alguns anos sem legendas, como lição de casa dada pelo meu professor de espanhol, um argentino, cinéfilo como eu. Gostei muito.

A direção é de um dos mais prestigiados cineastas daquele país. Vientos de Água narra a trajetória de um imigrante das Astúrias na Argentina, na primeira metade do século passado, e do filho dele, depois, imigrando da Argentina para a Espanha. Como pano de fundo, a história de 70 anos dos dois Países.

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PRIME

O segredo dos seus olhos – direção: Juan José Campanella – 2010

Falamos do Campanella acima ali em cima. Esse drama/suspense é o seu filme mais conhecido e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2010. Antes, o diretor já havia concorrido ao Oscar com o ótimo O Filho da Noivo (2001). Os dois com Ricardo Darín, o funcionário padrão do cinema argentino, sem demérito algum porque é um excelente ator.

Quem não viu, precisa ver. Quem já viu, vai querer rever.

Obs.: Como americano não gosta de ler legenda, Hollywood refilmou O Segredo de seus olhos com Julia Roberts e Nicole Kidman ( no Brasil virou Segredo de Justiça). O resultado não é ruim, mas não precisava mexer em algo que já era perfeito, por supuesto!

 

Tese sobre um homicído – direção: Hernán Golfrid – 2013

Olha o Ricardo Darín aí de novo, gente !  Nesse bom suspense ele é Roberto Bermudez, um especialista em Direito Criminal professor de um prestigiado curso. Uma nova turma está prestes a iniciar as aulas e entre os alunos está Gonzalo  filho de um velho conhecido do professor. Gonzalo trata Roberto como um verdadeiro ídolo, o que incomoda o mestre. Já com as aulas em pleno andamento, um brutal assassinato ocorre perto da universidade. Roberto logo demonstra interesse no caso e, ao investigar os detalhes, passa a crer que Gonzalo seja o autor do crime e esteja desafiando-o a um jogo de inteligência.

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NOW/CLARO

O Anjo – direção:Luis Ortega – 2019

Baseado na história de Carlos Robledo Puch, preso há mais de 45 anos, uma das penas mais longas da justiça argentina. Na adolescência, Carlos invadia casas alheias, apenas por prazer.  Ao conhecer Ramón  em sua nova escola, ele logo é apresentado a um universo mais profissional de crimes, já que o pai do colega é veterano da área. Carlos logo se destaca pela ousadia nos crimes que comete, impulsionado pela atração que sente por Ramón. Com o tempo, a displicência com os demais faz com que cometa onze assassinatos e se torne um dos criminosos mais procurados da Argentina. O codinome Anjo vem de sua aparência na juventude, com cachos loiros e olhar inocente.

Obs: Ricardo Darín não está no elenco, mas seu filho Chino Darín interpreta Ramón.

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CINE BELAS ARTES

Eva não dorme – direção :Pablo Aguero – 2017

Uma lenda como Evita Perón só poderia gerar vários filmes. Esse é o mais recente e fala do que aconteceu após a sua morte, em 1952. A primeira dama argentina morreu de câncer com apenas 33 anos de idade. Seu funeral virou uma comoção nacional e o corpo foi embalsamado. Três anos depois, Perón é deposto da presidência e o corpo de Evita é enviado para a Europa como tentativa de apagar seu legado. Devolvê-lo à terra natal virou uma guerra de poder que durou 25 anos.

Gael Garcia Bernal, o mais bem sucedido ator mexicano da atualidade, interpreta o almirante Emilio Massera, partipante do golpe que derrubou Juan Domingo Perón.


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 (*) Fotos reprodução/divulgação

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