Em um momento em que a política nacional é marcada por escândalos e polêmicas, como a recente confusão entre o apresentador Datena e o influenciador Pablo Marçal, muitos catarinenses parecem distraídos do que realmente importa: as eleições municipais que se aproximam. Enquanto conversas sobre candidatos que não concorrem em Santa Catarina dominam as redes sociais, a realidade local exige uma atenção mais crítica dos eleitores.
Essa semana, enquanto fazia compras em um supermercado, ouvi uma conversa que ilustra bem esse fenômeno. Uma cliente falava em alta voz para a operadora do caixa: “Se eu estivesse em São Paulo, votaria no Marçal. Pena que não estou em São Paulo.” Essa afirmação, que poderia ser inofensiva, reflete uma desconexão entre os eleitores e as questões que realmente afetam suas vidas: a escolha de prefeitos e vereadores em suas próprias cidades.
Nos últimos quatro anos, Santa Catarina testemunhou a prisão de pelo menos 28 prefeitos, com acusações variando de corrupção a fraudes em licitações. A prisão mais recente foi a do prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro, em setembro de 2024, que se junta a uma longa lista de figuras públicas desonestas que deveriam servir de alerta para o eleitorado. A Operação Mensageiro, por exemplo, resultou na detenção de 17 prefeitos desde dezembro de 2022, destacando o que “parece um padrão” de corrupção nas administrações municipais.
Além disso, denúncias que envolvem a cidade de Florianópolis revelam que as fraudes não estão restritas a cargos elevados. O ex-secretário de Limpeza e Manutenção Urbana de Florianópolis, João da Luz, é suspeito de integrar um esquema de fraude que envolveu presentes luxuosos, como uma viagem de R$ 6,2 mil e chinelos de R$ 4 mil, supostamente recebidos de empresários ligados a funerárias que operam na capital. Este caso evidencia como a corrupção permeia diversas esferas do governo local.
A Capital ainda vive com os desdobramentos da Operação Presságio que revelou um esquema de desvio de dinheiro público da Prefeitura de Florianópolis. Conforme os processos judiciais, os investigados — Ed Pereira, Cleber Ferreira, Lucas da Rosa Fagundes e Renê Raul Justino — operavam um esquema de empresas fantasmas, emitindo notas fiscais frias de serviços que nunca foram prestados à Prefeitura. A investigação revelou que Cleber José Ferreira, contador do grupo, era o responsável por angariar “laranjas” para a emissão das notas fiscais, essencial para a prestação de contas dos projetos sociais.
A Importância da Participação nas Eleições
É essencial que os eleitores catarinenses se conscientizem de que as eleições municipais têm um impacto direto em suas vidas cotidianas. Prefeitos e vereadores são responsáveis por decisões que afetam a infraestrutura, os serviços públicos e a qualidade de vida em suas comunidades. Portanto, a apatia ou a indiferença em relação a essas eleições pode resultar em consequências desastrosas para a gestão pública e para a confiança nas instituições democráticas.
O GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas) e outras entidades têm trabalhado arduamente para investigar e punir a corrupção. Operações como “Ponto Final”, “Fim da Linha” e “Terra de Ninguém” têm desmantelado redes de corrupção em prefeituras de todo o estado, mas essa luta precisa do apoio da população.
A indiferença dos eleitores pode ser alimentada por narrativas criadas nas redes sociais que, embora divertidas, desviam a atenção das questões sérias que precisam ser discutidas. Em vez de se concentrar em figuras políticas de outros estados, é vital que os cidadãos catarinenses analisem os candidatos que disputam cargos em suas próprias cidades e reflitam sobre as implicações de suas escolhas.
Um Alerta ao Eleitor Desavisado
A expressão “onde há fumaça, há fogo” nunca foi tão pertinente. A corrupção sistêmica que afeta a administração pública em Santa Catarina é um claro sinal de que os eleitores devem estar mais vigilantes. As histórias de prefeitos presos por corrupção não devem ser apenas notícias isoladas, mas sim um chamado à ação para que os cidadãos se engajem no processo eleitoral e busquem candidatos que realmente representem seus interesses e valores.
Enquanto as atenções se dividem entre os debates da mídia nacional, é hora de os eleitores catarinenses olharem para casa. A responsabilidade de mudar a narrativa está nas mãos de quem vota. O futuro da política local e, consequentemente, o futuro da sociedade catarinense dependem da conscientização e da participação ativa de cada cidadão nas eleições municipais.
As eleições municipais por aqui não podem ser ignoradas. Elas são fundamentais para a construção de um governo local mais transparente e responsável. Que os catarinenses não se deixem enganar pelas distrações das redes sociais e que tomem decisões conscientes nas urnas. O que está em jogo é muito maior do que a disputa entre celebridades e influenciadores; é o futuro de cada um dos municípios.