Portal Making Of

Alexa, será que o ChatGPT quer matar o jornalismo? – Por Cris Moraes

Por Cris Moraes*

Sim, estão tentando matar o jornalismo. A verdade é que o surgimento de novas tecnologias, principalmente da Inteligência Artificial, aceleraram um processo que já vinha acontecendo há algum tempo nas redações. Comecei a me questionar sobre como as IAs estão afetando as práticas de comunicação depois de observar meus filhos pequenos durante as férias escolares interagindo com a Alexa que temos em casa. “Alexa, qual o som do Tiranossauro Rex?”, “Alexa, onde fica a Lua?”, eram algumas das centenas de perguntas que eram disparadas em um mesmo dia para aquela caixinha mágica falante, e ela, incansável, respondia todas em milésimos de segundos, sem nem parar para respirar ou pensar.

Levei esse questionamento para uma reunião de pauta na agência, buscando entender como esse novo acesso à informação estava afetando o nosso trabalho como jornalistas e comunicadores. A conversa então chegou no ChatGPT, uma inteligência artificial que pode ser acessada por uma página da web que é capaz de escrever textos, poemas, músicas, mensagens e tantas outras coisas que fica até difícil de listar todas aqui, tudo de forma completamente automatizada. O usuário especifica o tema do texto e pronto, magicamente, ele começa a ser escrito na tela em questão de segundos.

E como fica o jornalismo? As redações serão tomadas por computadores capazes de escrever centenas de textos por minuto sem qualquer intervenção humana? Na minha visão, as coisas não funcionam bem assim. Apesar da Inteligência Artificial estar avançando e atingindo novos patamares a cada ano, essa ferramenta não veio para substituir os jornalistas. Não dá para negar que o jornalismo vai mudar, aliás, já está mudando, mas uma máquina nunca será capaz de substituir ou replicar o fator humano que está na essência da comunicação.

Como jornalista, afirmo com certeza: escrever é a forma com a qual eu e meus colegas de profissão melhor transparecemos nossas vulnerabilidades. Transbordamos nossos sentimentos e vivências pelas palavras, e é isso que cria textos únicos e autênticos. Coincidentemente, durante as férias estava relendo o livro “A Coragem de Ser Imperfeito”, da Brené Brown, e me deparei com um trecho que reflete o meu sentimento sobre esse tema: “Seres humanos têm valores, sentimentos, percepções, opiniões, motivações e histórias de vida, ao passo que engrenagens e rodas dentadas não os têm.”

O jornalismo é sobre contar histórias e se conectar com outras pessoas por meio delas. Da mesma forma que uma IA poderia ter escrito esse texto sobre o impacto das novas tecnologias no jornalismo com base em dados e pesquisas, ela nunca seria capaz de colocar as próprias experiências, opiniões e sentimentos da forma que um jornalista consegue fazer. Nessa nova fase, acredito até que os jornalistas terão mais espaço para serem criativos e criarem narrativas cada vez mais humanizadas.

Não é de hoje que as redações se tornaram mais enxutas e o jornalista é obrigado a vestir vários chapéus que antes eram divididos entre inúmeros colegas. A sobrecarga e a demanda infinita por conteúdo se tornou um empecilho na produção de grandes reportagens, crônicas, artigos de opiniões e tantos outros gêneros que foram sendo deixados de lado com o alto volume de tarefas. A Inteligência Artificial pode vir para suprir essa demanda em menos tempo, e dar mais espaço aos jornalistas para fazerem aquilo em que eles realmente são bons, que é envolver o leitor e transportá-lo a um novo lugar. Ao invés de enxergarmos essa nova ferramenta como inimiga, que tal usá-la como aliada?

A narrativa de que uma nova tecnologia irá tomar o lugar de uma profissão já existente não é de hoje. Os processos evoluem e estão em constante mudança, não só no jornalismo, mas como em qualquer outra profissão. A chave está em se reinventar e saber dançar conforme a música. Por fim, quero finalizar acalentando meus colegas de profissão e dizendo que sim, o momento é de mudança, mas está na nossa essência buscar alternativas e encontrarmos nosso espaço nessa nova realidade. Puxando sim a sardinha para nosso lado, desconheço outra profissão que seja tão capaz de reunir características tão importantes para sobreviver às mudanças, como o jornalismo.

*Cris Moraes é jornalista e assessora de imprensa há 20 anos e comanda a Cris Moraes Comunicação Inteligente.

Compartilhe esses posts nas redes sociais:

Destaques da semana no Portal Making Of

Selecionamos aqui os destaques da semana na Making Of. Confira abaixo uma pequena descrição de cada uma e o link para você acessá-la.   Claiton

Leia mais

Destaques da semana no Portal Making Of

Selecionamos aqui os destaques da semana na Making Of. Confira abaixo uma pequena descrição de cada uma e o link para você acessá-la.   Claiton