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Apostas online e crise familiar: como as bets estão redefinindo o consumo

Foto: Joédson Alves/Agência Brasil

As apostas online, popularmente conhecidas como “bets”, estão se tornando um fenômeno crescente no Brasil, influenciando a economia doméstica e alterando os hábitos de consumo dos brasileiros. A expansão desse mercado está mexendo com setores tradicionais da economia e levantando questões importantes sobre o impacto das apostas online nas finanças pessoais e na saúde pública.

 

O Crescimento Acelerado das Apostas

O mercado de apostas online no Brasil tem mostrado um crescimento exponencial nos últimos anos. Estampadas nas camisas de times de futebol e promovidas em campanhas publicitárias massivas, essas plataformas têm capturado a atenção de milhões de brasileiros. Dados recentes revelam que os gastos com apostas online já movimentam cerca de 1% do PIB nacional e comprometem até 20% do orçamento livre das famílias mais pobres. Em 2023, estimativas indicam que brasileiros gastaram entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões com jogos, incluindo apostas esportivas e loterias de acordo com estudo realizado pela XP Investimento.

 

Foto: Reprodução/Freepik

O Efeito das “Bets” no Consumo e na Renda

A popularidade das apostas online tem gerado mudanças no consumo das famílias. De acordo com a XP Investimentos, 64% dos apostadores utilizam sua principal fonte de renda para apostar, e 63% já comprometeram parte de sua renda com apostas online. Isso tem levado a um impacto grande no consumo, com 23% dos apostadores se abstendo de comprar vestuário, 19% reduzindo a aquisição de alimentos e 14% sacrificando produtos de higiene pessoal.

A pesquisa da Associação Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) confirma essas descobertas, revelando que o efeito das apostas é mais pronunciado entre os jovens, com mais da metade apostando pelo menos uma vez por semana. O estudo ainda mostrou que o gasto médio com apostas pode chegar a 5,5% do valor destinado à alimentação nas classes D e E, afetando diretamente o orçamento familiar dessas classes.

 

O Vício em Jogos e Seus Riscos

O vício em apostas é um problema emergente no Brasil, com implicações severas para a saúde financeira e mental dos indivíduos, e ainda, desestrutura as finanças da famílias. Estima-se que 86% dos apostadores estejam endividados, e muitos confundem apostas com investimentos, o que agrava ainda mais a situação financeira. O vício em jogos está associado a diversos problemas psicológicos, como ansiedade, depressão e até mesmo pensamentos suicidas. Em casos extremos, a compulsão pode levar à perda de bens materiais e ao cometimento de crimes para financiar o vício. Os especialistas afirmam que o vício em apostas é uma doença tratável, e existem opções como terapia comportamental, grupos de apoio e medicamentos para ajudar na recuperação.

 

Foto: Divulgação/EBC

A Necessidade de Ação e Regulamentação

O cenário econômico e social gerado pelo crescimento das apostas online destaca a necessidade urgente de regulamentação mais rigorosa e de medidas de proteção para os consumidores. A facilidade com que se pode acessar essas plataformas e a sua crescente popularidade demandam uma resposta eficaz para mitigar os impactos negativos.

O Banco Central já está monitorando os gastos com apostas online devido ao potencial de afetar a renda disponível para consumo e pagamento de dívidas. A preocupação é que o aumento descontrolado desses gastos possa interromper a queda dos níveis de endividamento e levar a uma maior seletividade na concessão de crédito pelos bancos.

Além disso, as autoridades e a sociedade devem reconhecer o impacto das apostas na saúde pública e na economia. A associação de apostas com esportes e entretenimento deve ser reavaliada, e é crucial que se crie uma base sólida para proteger os consumidores, especialmente os mais vulneráveis.

O fenômeno das “bets” no Brasil traz à tona questões complexas que envolvem desde a alteração dos padrões de consumo até a saúde pública. A necessidade de regulamentação e de conscientização sobre os riscos associados a essas plataformas é mais urgente do que nunca. A resposta a essa crise exigirá um esforço coordenado entre autoridades, empresas e a sociedade para garantir um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção dos cidadãos.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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