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Segredos mal guardados de Hollywood e os destaques da semana

Hollywood é cheio de histórias não contadas e de segredos mal guardados. Para abrir esta edição, o escritor, tradutor e professor Robertson Frizero escreveu um artigo especialmente para a coluna, contando um desses casos. Ele fala de Marni Nixon, a voz  por trás de grandes estrelas. Que trajetória! Após o artigo, você pode ouvir Marni cantando várias canções de musicais inesquecíveis.

Outra semana sem grandes lançamentos, mas consegui garimpar alguns filmes e séries para o finde de vocês, principalmente para quem está cansado dos jogos olímpicos.

Boa leitura!

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Segredos mal guardados de Hollywood – I

A cantora sem rosto

Ela foi tutora de príncipes, imigrante porto-riquenha, cadeirante, uma sábia senhora chinesa, uma loira voluptuosa, uma freira e até um pinguim e uma pata em alguns dos filmes mais famosos da História do Cinema. Mas seu rosto é quase inteiramente desconhecido do público.

Esta história de injustiça é fruto de um tempo em que Hollywood preferia colocar em seus filmes nomes consagrados, mesmo quando os papéis exigiam que os atores tivessem grande treino vocal. Para suprir essa necessidade, contratavam-se cantores que gravavam as canções que as estrelas dublavam depois nos sets de filmagem.

Marni Nixon era uma jovem soprano californiana que, desde muito cedo, dedicou-se a estudar canto lírico. Para ganhar algum dinheiro, empregou-se como mensageira nos estúdios da Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), onde acabaram descobrindo seu talento como cantora e sua voz de grande extensão – conseguia atingir facilmente quatro oitavas. Contrataram-na como “cantora-fantasma” para dublar a atriz infantil Margaret O’Brien na versão de 1949 de “O Jardim Secreto”. Quatro anos depois, chamaram-na para cobrir as notas mais altas que um grande nome das telas não conseguia alcançar – e assim ela gravou alguns trechos de “Diamonds are a girl’s best friend” para Marylin Monroe em “Os Homens Preferem as Loiras”. Logo estaria assinando um longo contrato com o estúdio para prestar esse serviço em vários outros projetos; no documento, uma cláusula que proibia Nixon de sequer mencionar sua participação nos filmes em que colaboraria com sua voz, sob risco de nunca mais trabalhar em Hollywood.

 

Deborah Kerr não guardou segredo

A voz de Marni Nixon e sua participação em alguns dos maiores musicais das duas décadas seguintes tornou-se o “segredo mais mal guardado de Hollywood”, como depois descreveria o jornal The New York Times. É dela a encantadora voz de Maria em “Amor Sublime Amor” (“West Side Story”), inteiramente creditada a Natalie Wood; a afinação de Audrey Hepburn na Elisa Doolitle de “Minha Querida Dama” (“My Fair Lady”); e a potência vocal de Deborah Kerr em “O Rei e Eu” (“The King and I”) e “Tarde Demais para Esquecer” (“An Affair to Remember”). Kerr, aliás, foi a grande responsável de que o “segredo” de Nixon fosse revelado. Em uma entrevista à época, ela ressaltou que Marni Nixon “é uma mulher admirável, com quem dividi as canções. Eu cantava até um determinado ponto em que minha voz alcançava, e ela assumia a personagem para além das minhas possibilidades”. Grata, Marni Nixon confirmou anos mais tarde a forma respeitosa e cooperativa com que as duas trabalharam; revelou que Deborah Kerr (na foto com Marni) sempre a tratou como uma igual e pedia a Nixon para ficar ao seu lado enquanto gravava, aprendendo os movimentos e expressões para recriar o mais perfeitamente a ilusão, nas telas, de que ela estava a cantar. Ainda assim, a cantora-fantasma não apareceu nos créditos do álbum com a trilha sonora do musical, nem ganhou um centavo a mais do que os US$ 490 contratuais para a gravação. Kerr foi indicada ao Oscar por sua atuação no filme.

A carreira de “cantora-fantasma” começou mesmo a incomodar Marni Nixon em 1961, quando trabalhou no vencedor do Oscar de Melhor Filme “Amor Sublime Amor” (“West Side Story”. Natalie Wood foi enganada pelo estúdio: gravou todas as canções, mas, na edição, sua voz foi substituída inteiramente pela de Marni Nixon, que dublou inclusive alguns diálogos da atriz… Isso só foi revelado quando o filme entrou em cartaz mundialmente. Nixon, que não recebeu os créditos pelo trabalho, relatou ao “The Times” que, ao ver o filme, percebeu o quanto sua voz era essencial para aquela obra.

A culpa, é bom que se registre, não era das atrizes. Audrey Hepburn queria gravar todas as canções de “Minha Querida Dama” e tinha a consciência de que sua voz não era suficiente para o papel, demonstrando gratidão a Marni Nixon. Marni conta também que teve receio de encontrar Julie Andrews no set de “Mary Poppins”, por ter gravado as canções do musical que “lhe pertencia”, mas Julie recebeu-a de braços abertos e declarou abertamente ser fã de sua voz. O que Marni fazia nos estúdios Walt Disney? Diversas vozes no filme, de pinguins a patas que interagiram com Mary Poppins e as crianças na cena do passeio no parque de giz-de-cera…

 

Enfim, a bela voz ganhou um rosto

 

Sua carreira “fantasmagórica” teve um fim quando ela foi contratada para viver uma das freiras do convento onde se refugiava a Maria de “A Noviça Rebelde” (“The Sound of Music”) – há rumores de que Julie Andrews teria sugerido seu nome. E muitos se surpreenderam com o quanto a cantora escondida por trás de tantos sucessos musicais era não só uma bela voz, mas também uma linda e talentosa atriz, capaz de ter brilhado por conta própria há muito tempo.  Mas ela acabou dedicando sua carreira aos concertos e ao ensino, tornando-se professora universitária de canto lírico, bem como ao mercado fonográfico – mas já com seu nome e rosto nas capas dos “long-plays” e a devida remuneração para a grande artista que era.

Como uma homenagem, já no fim da vida, Marni Nixon foi convidada pelos estúdios Disney para ser a voz da Avó Fa, personagem do filme “Mulan” (1998) – e com os devidos créditos!

Em 25 de julho de 2016, Marni Nixon calou-se para sempre, aos oitenta e seis anos. Mas continua cantando em algum dos nossos filmes favoritos. [ Robertson Frizero, escritor]

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Destaques  da semana nas plataformas

 

NETFLIX

Casamentos às cegas – 1ª temporada – México – 2024

Para quem curte o formato desse reality, chegou a hora de conhecer o comportamento dos mexicanos quando o assunto é encontro às cegas em busca do grande amor. Depois dos americanos, brasileiros, japoneses e suecos, será que os casais do México apresentarão alguma novidade? A ver.

 

20 dias em Mariupol – direção: Mstyslav Chernov- documentário – 2023

O vencedor do Oscar de Melhor Documentário chega ao streaming. Ele acompanha um grupo de jornalistas ucranianos que não conseguiu escapar da cidade costeira de Mariupol ,documentando os horrores da guerra durante a invasão russa no início de 2022. Praticamente os únicos jornalistas na região, eles foram capazes de capturar imagens da destruição causada pela guerra entre a Rússia e a Ucrânia. O documentário se baseia nos informes jornalísticos diários, além do arquivo pessoal produzido pelo diretor que escreveu sobre seu próprio país em guerra.

 

Apple TV +

Alice não mora mais aqui – direção: Martin Scorsese – 1974

Tão bom quando as plataformas resgatam filmes interessantes de outras épocas ! Esse é um filme meio fora da curva dentro da obra de Martin Scorsese, mas muito pertinente na época em que foi lançado. Ele retrata o recomeço de Alice, viúva de um caminhoneiro, que luta para sobreviver junto com o filho Tommy. Ela tinha começado a trabalhar como cantora, mas precisou fugir da cidade por causa de uma relação abusiva. Escondida no interior, Alice começa a trabalhar como garçonete e faz amizade com outra mulher, bem diferente dela, além de conhecer um fazendeiro divorciado. O filme deu o Oscar a Ellen Burstyn, como Alice. Seus parceiros de elenco foram Harvey Keitel, Chris Kristofferson e Diane Ladd, premiada como Bafta de Melhor Atriz Coadjuvante, no papel de amiga da protagonista.

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DESTAQUE NA TELA GRANDE

Tuesday: O Último Abraço-direção: Daina Oniunas-Pusic -2024

Zora (Julia Louis-Dreyfus) e sua filha adolescente, Tuesday (Lola Petticrew), recebem a visita inesperada da Morte quando ela chega na forma de um surpreendente pássaro falante! A partir daí, terão de enfrentar juntas uma jornada de reflexão sobre a vida. Com elementos fantásticos, o longa apresenta uma comovente história sobre como lidamos com as perdas de entes queridos.

 

Caminhos Cruzados – direção: Levan Akim – 2024

Lia, professora aposentada, prometeu encontrar sua sobrinha Tekla, há muito perdida. Sua busca a leva a Istambul, onde ela conhece Evrim, advogada que luta pelos direitos das pessoas trans, e Tekla passa a se sentir mais próxima que nunca.

*Em cartaz no Cine Paradigma – SC-401 – Florianópolis

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THE END

 

*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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