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Nem Freud explica o talento de Anthony Hopkins!

Anthony Hopkins em 'A última sessão de Freud' (Foto: Divulgação)

Há uma leva de grandes atores em atividade na faixa dos 80 anos, como Robert De Niro (80) , Al Pacino(84) e  Anthony Hopkins (86). Tenho uma preferência pelo último por algo que considero fundamental: ele não se deixa engolir pela própria persona quando vive um papel. Apesar de eu gostar muito de De Niro e Pacino, sempre vejo eles mesmos por trás do personagem em algum momento do filme, seja um trejeito com a boca, uma interjeição usual, um cacoete. Isso acontece muito com outro dos grandes, Jack Nicholson (87), que anda sumido das telas.

Então, chegamos a Sir Phillipe Anthony Hopkins, o ator galês que fica cada vez melhor à medida que o tempo passa ( não, não vou fazer a analogia do vinho, até porque há discordância sobre se a bebida realmente melhora com o tempo). Acabei de assistir “A última sessão de Freud”, onde Hopkins encarna a  célebre figura de Sigmund Freud, numa conversa fictícia com o escritor irlandês C.S.Lewis, onde o mote é a existência ou não de Deus. Como o filme tem origem na peça escrita por  Mark Saint German, baseada por sua vez no livro de  Armand M. Nicholi, ‘Deus em questão”, quase toda a trama se passa em um único cenário, o consultório do psicanalista. Pode  ser um ritmo enfadonho para quem gosta de ação, mas certamente vai agradar quem curte um cinema mais profundo e, acima de tudo, baba quando vê uma atuação como a de Anthony Hopkins. O melhor de tudo é que a gente esquece dele e vê Sigmund Freud, judeu, ateu, velho e enfermo,  durante a Segunda Guerra Mundial, debatendo a existência de Deus com um intelectual cristão. Aliás, a parceria com  Matthew Good, no papel de C.S.Lewis, deu muito certo. O filme está disponível na Amazon Prime Vídeo.

Outro filme recente de Anthony tem feito muito sucesso nas plataformas: “Uma vida – A vida de Nicholas Winton”. Passada em 1938, durante a Segunda Guerra Mundial, a trama foca no ato humanitário  de Nicholas Winton criador de um grupo de apoio para ajudar famílias judias de Praga, principalmente crianças, a fugirem do Holocausto, levando-as para a Inglaterra antes do fechamento das fronteiras. Entretanto, anos depois, Nicholas Winton continuava atormentado pela culpa, pensando naqueles que ele não conseguiu resgatar. Somente quando ele reencontra com uma sobrevivente que ele socorreu é que consegue se livrar do peso da culpa. O filme está disponível na Amazon Prime Vídeo.

Além desses dois, Hopkins encarnou outros vários personagens reais.Ele já foi Hitler, Nixon, o general Titus, o papa Bento XVI , Picasso e  Alfred Hitchcock . Indicado ao Oscar seis vezes,  venceu duas por “O silêncio dos inocentes” ( 1992) e “Meu Pai” ( 2021),  tornando-se com esse último o ator mais velho a ganhar a ambicionada estatueta dourada.

Mostrando que não tem a soberba de rejeitar trabalhos na TV, Anthony participou da série de ficção científica “ Westworld’. Fez também incursões pela direção com ‘Dylan Thomas: Return Journey” (1990), “Outono de paixões” (1996) e “Um sonho dentro de um sonho” (2006). Como se não bastasse os outros talentos, Anthony Hopkins compôs também a trilha sonora para esses três filmes.

 

Uma vida pessoal conturbada

Hoje, Anthony carrega o título de lord, concedido pela rainha Elizabeth II, mas ele não nasceu em berço nobre. Teve uma infância pobre e sofria bullying na escola em Port Talbot,cidade siderúrgica ao sul de Gales. Era chamado de tonto, se achava o aluno mais burro da classe e não tinha amigos. Passava o tempo desenhando ou tocando piano.

Decidiu seguir a carreira artística depois de ouvir Richard Burton, também originário de Port Talbot, contar que tinha se tornado ator porque não prestava para mais nada. Hopkins fez teatro, interpretou muito Shakespeare, mas queria mudar para os Estados Unidos.

Sua carreira deslanchou, mas talvez por culpa da bebida, ganhou fama de ser um ator difícil de trabalhar, encrenqueiro e raivoso. Sua única filha tinha quatro meses, quando ele decidiu abandonar a mãe da criança. Há poucos anos tentou pedir perdão e se aproximar da filha, mas foi rejeitado por ela. Agora, Anthony comemora os quase cinquenta anos sóbrio e se diverte postando videozinhos simpáticos nas redes sociais. Continua filmando, recebendo reconhecimento como um dos melhores atores em atividade  e parece em paz consigo mesmo.

 

Meus filmes favoritos de Anthony Hopkins

Todo cinéfilo tem seus filmes favoritos de Hopkins, um intérprete que transita por vários gêneros. Os meus- disponíveis em streaming – são esses:

  • O homem elefante ( David Lynch- 1980)
  • Nunca te vi, sempre te amei ( David Hugh Jones-1987)
  • O silêncio dos inocentes (Jonathan Demme – 1991)
  • Retorno a Howards End (James Ivory – 1992)
  • Vestígios do dia (James Ivory – 1993)
  • Dois Papas (Fernando Meirelles – 2019)

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SUGESTÕES EM CANAIS  ALTERNATIVOS

Sou assinante das principais plataformas de streaming ( Netflix, Max, Disney+, HBO, Telecine, Paramount etc..) e mesmo assim, há semanas em que tenho dificuldade de encontrar filmes ou séries interessantes para indicar aos leitores, como agora. Então as sugestões dessa edição eu garimpei nos canais menores e alternativos, incluindo os gratuitos. Espero que gostem.

 

CINDIE –  Canal britânico de filmes independentes

O acervo é pequeno, mas de certa qualidade. Você pode fazer um teste gratuito de uma semana, assistir algumas produções e depois decidir se vale a pena assinar mensalmente (o valor é irrisório perto das plataformas mais famosas).  Deixo um filme e uma série como sugestões.

 

Longe desse insensato mundo – direção : Thomas Vinterberg – 2015

Esse remake não deixa nada a desejar à bela adaptação de John Schlesinger , de 1967, para o romance ‘Far from de Madding Crowd’, escrito por Tom Hardy em 1871. Nesta versão, o elenco traz Carey Mulligan, Matthias Schoenaerts, Michael Shee e Tom Sturridge.

Sinopse: Dorset, Inglaterra, 1827. Bathsheba Everdene  é uma jovem em dificuldades financeiras que não deseja se casar, mesmo que seja para garantir seu sustento. Pouco após recusar o pedido de casamento de Gabriel Oak , um criador de ovelhas local, ela herda uma fazenda do tio. Bathsheba decide ela mesma coordenar a fazenda, algo impensado para uma mulher na época. Logo ela contrata Gabriel como seu capataz, após ele perder todo o rebanho, e passa a ser assediada por William Boldwood, um rico fazendo. Entretanto, quem a conquista de fato é o sargento Troy , um militar que carrega consigo um trauma amoroso do passado.

 

Limbo – Éramos amigas –  episódios – 2023 – Suécia

Essa série sueca é baseada em fatos e retrata os conflitos  que surgem entre três amigas, após um acidente de carro com os filhos delas. A boa relação é ameaçada quando a maternidade fala mais alto.

 

NETMOVIES – Filmes grátis

Esta é uma plataforma gratuita com um acervo de clássicos e também de filmes mais atuais. Escolhi um título de cada. Um aviso: o canal inclui anúncios.

 

Amarcord – direção: Federico Fellini –  1973

Tem vários clássicos disponíveis, mas não resisti a selecionar este que é o meu filme favorito na vida. Sei que a crítica considera outros como obra-prima de Fellini, mas para mim ‘Amarcord’ ( neologismo romanesco para ‘ eu me lembro’) reúne tudo o que o cinema tem para oferecer de maravilhoso. Há muito de memórias reais do diretor nessa história que se passa em uma pequena cidade italiana [ homenagem a sua terra natal, Rímini]. Seus variados personagens nos fazem rir, chorar, enternecer, imaginar… Há uma coleção de cenas antológicas, mas se eu fosse obrigada a escolher apenas uma, seria a população aguardando a passagem do Transatlântico Rex, com o cego da cidade pedindo para que descrevam o que se passa.

 

A Grande Guerra – direção: Steven Looke – 2020

Sinopse: Inspirado pela história real da 92ª Divisão de Infantaria do Exército dos EUA, o filme narra a nada fácil tarefa do general John J. Pershing, apelidado de – Black Jack -, quando ele ordena o resgate de um pelotão de soldados negros presos atrás das linhas inimigas no nordeste da França e o relógio está correndo para o fim do cessar-fogo: às 11 horas da manhã de 11 de novembro de 1918, o território que eles capturaram irá para os alemães, deixando os soldados vulneráveis a serem mortos. Então, o Gen. Pershing encarrega o Capt. Will Rivers de montar uma equipe e adentrar o território inimigo para trazer os rapazes de volta. O problema de Rivers, além de ter um choque ao receber a missão quase impossível, é a aversão de alguns de seus soldados abertamente racistas em arriscar suas vidas salvando  os negros. A situação fica ainda mais tensa quando o jovem recruta negro Caim passa a integrar a equipe de resgate.

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EM CARTAZ NAS SALAS DE CINEMA

Testamento – direção: Denis Arcand – 2024

O diretor canadense Denis Arcand foi o ganhador de Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em 2003, com “ Invasões Bárbaras”. Ele volta à ativa nessa comédia-dramática em que ironiza o moralismo dos jovens, a ira das feministas, o oportunismo da imprensa e o reacionarismo nacionalista.

Sinopse: Jean-Michel, um solteirão de 73 anos, reside em uma casa de repouso administrada por Suzanne. Seu mundo é abalado pela chegada repentina de manifestantes que fazem campanha para a remoção de uma antiga obra que foi considerada um insulto às Primeiras Nações. Enquanto Jean-Michel perde progressivamente a fé em um mundo dominado pelo politicamente correto, ele descobre um amor inesperado por Suzanne.

 

O mal não existe – direção: Hyusuke Hamaguchi – 2023

O diretor e roteirista japonês ficou conhecido por “Drive my Car”, concorrente ao Oscar de Melhor Filme e vencedor na categoria Melhor Filme Internacional em 2020.

Sinopse: Nesse drama, Takumi e sua filha Hana moram na vila de Mizubiki, perto de Tóquio. Um dia, os habitantes da aldeia tomam conhecimento de um plano para construir um retiro perto da casa de Takumi, oferecendo aos moradores da cidade uma fuga confortável para a natureza.

  • Em cartaz no Cine Paradigma- SC-401 – Florianópolis

 

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Adeus a Gena Rowlands

Coluna prontinha para ser postada, mas eu não poderia deixar de registrar a morte da atriz Gena Rowlands, uma daquelas estrelas não tão badaladas, mas admiradíssima por quem ama cinema. Incluo-me entre seus fãs.

Conheci o trabalho de Gena através dos filmes dirigidos por seu marido, John Cassavetes, considerado o ‘ pai dos filmes independentes’. Acho que o primeiro que vi foi “Faces’, de 1968, que eles filmaram praticamente sem dinheiro, pois o cineasta estava ‘ queimado’ em Hollywood. Enquanto esteve desempregado, foi Gena quem segurou as contas da casa.  No mesmo ano, Cassavetes trabalhou como ator em “O bebê de Rosemary”, de Roman Polanski, o que deve ter rendido alguns recursos.

Em 1975, ela foi indicada ao Oscar por “Uma Mulher sob Influência” ,  vivendo uma mulher insegura e desesperada internada pelo marido. Em 1981, recebeu outra indicação ao Oscar por “Glória”, interpretando uma prostituta fugindo de um gângster com um garoto órfão. Os dois  filmes foram dirigidos por Cassavetes. O papel em “Uma Mulher sob Influência” rendeu à artista um Globo de Ouro.  A atriz deu um tempo na carreira depois da morte do marido, em 1989. Um ano antes, ela tinha feito um de seus trabalhos que mais gosto, “ A Outra”, de Woody Allen.

Gena ficou mais conhecida das novas gerações pelo papel de Allie, no filme “Diário de uma Paixão”, de 2004. Nele, ela vive uma mulher com Alzheimer, amada e cuidada por James Gardner. Por ironia do destino, a atriz passou seus últimos anos de vida convivendo com a mesma doença da ficção. Ela tinha 94 anos e a notícia de sua morte foi transmitida por Nick Cassevetes, seu filho com John, que segue a mesma profissão dos pais.

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

THE END

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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