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Vida e morte de Alain Delon: é possível separar o homem do artista?

Duas mortes quase simultâneas na semana passada trouxeram à tona um velho dilema: é possível admirar o artista que há por trás de um ser humano de atitudes questionáveis? Sobre o apresentador de televisão, empresário rico e bem sucedido, nem vou especular. Pra ficar na nossa ‘ praia, vamos conversar apenas sobre um dos maiores atores do cinema francês que partiu no último domingo (18/08), aos 88 anos.

Alain Delon foi sem dúvida um dos homens mais belos da história do cinema. Tinha um rosto que enchia a tela e arrancava suspiros. Talvez toda essa beleza impedisse que muita gente percebesse como ele era também um ótimo ator.

Admirado com um dos maiores astros de cinema no mundo, na vida pessoal, Delon deixou a desejar. Nos últimos anos, envolveu-se em polêmicas com declarações racistas, homofóbicas e sua proximidade com a extrema direita francesa rendeu-lhe muitas críticas. Mas, não foi só isso: ele enfrentou denúncias de sua ex-governanta, Hiromi Rollin, que disse ter tido uma relação de trinta e três anos com o ator. Além disso, defendia a volta da pena de morte na França,  teve várias armas apreendidas na sua propriedade, e  recentemente seus três filhos – Alain-Fabien, Anthony e Anouchka – vinham trocando acusações públicas e movendo ações legais, numa feia disputa familiar. Tudo envolvendo a herança, com o advogado de Alain Delon dizer que o ator não agüentava mais a agressividade de Anthony, que costumava dizer que o pai estava senil. Aliás, o francês teve outro filho,  Ari Bolougne, nunca reconhecido por Delon. Sua mãe era a cantora Nico. Ari sofria de uma doença degenerativa, era viciado em drogas e foi encontrado morto em situação de miséria extrema.

Em 2022, depois de um AVC , Alain Delon chegou a anunciar em rede social que estava disposto a recorrer ao suicídio assistido na Suiça, onde a eutanásia é legal, porque envelhecer era ‘ une merde”. Depois, desmentiram a intenção e ele enfrentou um câncer até domingo, quando morreu “em sua casa em Douchy, cercado por seus três filhos e sua família”, segundo declaração da família divulgada à agência de notícias AFP. Tinha 88 anos.

Voltando ao começo: Alain teve uma infância difícil, com a separação dos pais  aos quatro anos, um período num orfanato, expulsão de várias escolas e envolvimento com gangs. Aos 17 anos, alistou-se no exército para atuar na Guerra da Indochina, mas acabou dispensado com desonra, acusado de roubo.

Na vida amorosa,  ele não se comportou muito melhor também.  Em 1968, Delon foi pego em um escândalo de sexo, drogas e assassinato envolvendo a alta sociedade francesa, conhecido como o caso Markovic. Chegou a ser interrogado, mas nunca indiciado. Além de ter sido casado com Nathalie Delon, com quem teve o filho Anthony, Alain foi o grande amor da vida de Romy Schneider ( na foto com o ator). Dizem que a bela atriz nunca se recuperou de ter sido abandonada por ele, levando uma vida triste e trágica até o fim.

Nos anos 60, Delon teve outros relacionamentos: as atrizes Dalida – com quem cantou a famosa “Paroles, Paroles” -, Mireille Darc e Anne Parillaud foram alguns. Teve também uma longa relação com Mireille Darc, que durou até 1982. Depois, ele se envolveu com a modelo holandesa Rosalie van Breemen, com quem teve os outros dois filhos, Anouchka e Alain-Fabien, antes de se separarem em 2001.

 

Mais que um rostinho bonito, Delon soube escolher bons papéis

Além de sua aparência exuberante, Alain Delon teve grandes atuações em filmes dirigidos por cineastas respeitados. Nos anos 60, ele fez “O sol por testemunha”, dirigido por René Clément, onde  interpretou Tom Ripley, um personagem ambíguo baseado no livro “O talentoso Mr. Ripley”, de Patricia Highsmith. Em “Rocco e seus irmãos”,dirigido por Luchino Visconti, Delon interpretou o sensível Rocco, numa história épica sobre uma família do sul de Itália que se muda para Milão. Em “O Leopardo”, de 1963, foi dirigido novamente por Visconti,  deu vida a Tancredi, ao lado de grandes nomes como Burt Lancaster e Claudia Cardinale. Já em “O Samurai”, de 1967, dirigido por Jean-Pierre Melville, Delon interpretou um assassino, criando um dos personagens mais icônicos de sua carreira. No mesmo ano, ele fez “Os aventureiros”, ao lado de Lino Ventura, que fez bastante sucesso de público.

Outro filme que, para mim, poderia estar na lista dos melhores trabalhos de Delon é “A primeira noite de tranquilidade”, de 1972, do italiano Valério Zurlini. Nele, o ator francês interpreta à perfeição o angustiado professor de literatura, Daniele Dominici, com o casamento em crise, que tem um caso com uma jovem aluna. Delon consegue transmitir toda a melancolia da história, um sentimento comum aos filmes de Zurlini.

No Festival de Cannes de 2019,  Alain recebeu uma Palma de Ouro honorária, com direito a retrospectiva dos seus filmes. A homenagem gerou polêmica por causa dos comentários que o ator fez sobre o tratamento das mulheres na sua carreira e na vida pessoal.

Sobre a pergunta do título desta coluna: é possível admirar o artista, independente do que ele é como ser humano? Deixo a resposta a cada leitor.

Nota-pé: vários filmes de Alain Delon estão disponíveis em streaming, como os canais MUBI, Cine Belas Artes, Prime Vídeo

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Novidades em destaque nas plataformas

 

Furiosa – Uma saga Mad Max – direção: George Miller – 2024 – MAX

Para quem curte Mad Max  chegou o derivado do original, contando os primeiros anos da heroína apresentada em “Estrada da Fúria” (2015).Dois queridinhos de Hollywood estão nos papéis principais:  Anya Taylor-Joy (o gambito da rainha) e Chris Hemsworth (Thor), irreconhecível como Dr.Dementus. De quebra tem um ator que gosto muito: Tom Burke, como Praetorian Jack. Apesar de ter decepcionado nos cinemas, esse arrasa-quarteirão já é o mais visto na programação do canal Max. (Veja o trailer)

 

 

Mais que amigos – direção:  Nicholas Stoller  – 2022 – Prime Vídeo

Essa comédia romântica acompanha o início da relação entre Bob e Aaron. A dupla se conhece num clube gay, mas no início não se sentem atraídos um pelo outro. Bob é um advogado que vive fora da bolha LGBTQIA+ e, no início, Aaron chega a duvidar que ele seja realmente gay. Com o tempo, a amizade vai virando outro sentimento. Mesmo com dois atores pouco conhecidos, o filme foi conquistando grande audiência em streaming.

 

Wyatt Earp and the Cowboy War  – 6 episódios – 2024 – Netflix

Todo mundo que curte western sabe quem foi Wyatt Earp. Aqui é retratada a lendária disputa entre o xerife Earp e Ike Clanton , através de reconstituições sobre o tiroteio que definiu uma era.

No elenco estão o ótimo Ed Harris, Tim Fellingham e Edward Frankli

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Destaques na tela grande

 

O Último Pub – direção: Ken Loach – 2024 – Cine Paradigma/Flops

O longa do diretor britânico Ken Loach, que costuma abordar as questões sociais do século XXI em seus filmes e já recebeu duas Palmas de Ouro em Cannes,  conta a história de TJ Ballantyne (Dave Turner) o proprietário de um pub que luta para manter seu negócio vivo em um vilarejo do nordeste da Inglaterra, onde as pessoas estão deixando a terra porque as minas estão fechadas Após a chegada de refugiados sírios em seu vilarejo, seu negócio fica ameaçado de fechar. Entre esses refugiados, TJ conhece uma jovem síria, Yara (Ebla Mari). Uma amizade inesperada nasce entre os dois personagens, apesar das tensões e preconceitos que pesam sobre a vila.

 

 

Motel Destino – direção:Karim Ainouz – 2024 – Cine Paradigma/Flops

O filme que representou o Brasil no Festival de Cannes dividiu opiniões, chocando parte da crítica pelo temática ousada e o erotismo. O longa é o primeiro da anunciada “Trilogia do Motel” do diretor de “A vida invisível” e “ Madame Satã”. No elenco de “ Motel Destino”, estão Fábio Assunção, comprovando que é um ótimo ator, e o jovem Iago Xavier.

Sinopse: sob o céu em chamas numa beira de estrada do litoral cearense, o Motel Destino é palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Uma noite, a chegada do jovem Heraldo transforma em definitivo o cotidiano do local.

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E vem ai…

Agende-se para o FAM ! Quem ama cinema não pode perder a Mostra Competitiva Longas do Festival Internacional de Cinema Florianópolis Audiovisual Mercosul  – FAM 2024 , em Florianópolis. Estarão na competição seis filmes do Brasil, Argentina, Peru, Paraguai, Uruguai e França.  Eles serão exibidos de 05 a 10 de setembro, na sessão das 20h45, na sala Cine Show do  Beiramar Shopping.

Além disso, pela primeira vez será exibido em Santa Catarina o documentário “Aldo Baldin – Uma Vida pela Música”, obra sobre a trajetória do catarinense considerado um dos maiores nomes do canto lírico do país e do mundo.

Os ingressos estarão à venda na bilheteria a R$10,00.  Uma chance imperdível!

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

FIM

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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