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Eleições municipais e o clima: a urgência de escolher candidatos comprometidos com o futuro

Foto: Queimadas / Crédito: Pixabay
Foto: Queimadas / Crédito: Pixabay

A emergência climática está batendo à porta do Brasil com força devastadora. Entre 2014 e 2023, secas e enchentes no país mais do que dobraram, e os efeitos das mudanças climáticas se tornaram uma realidade difícil de ignorar. Desastres como a tragédia no Rio Grande do Sul, que tirou a vida de 172 pessoas, e as crescentes ondas de calor — apenas em 2023 foram nove — são evidências alarmantes da urgência de ação.

Santa Catarina também tem enfrentado a presença de fumaça vinda das queimadas na Amazônia e no Centro-Oeste. A central de monitoramento da Secretaria da Proteção e Defesa Civil tem registrado dias com forte concentração de fumaça no estado, causada pelo transporte de fumaça pelas correntes de ar, especialmente pelo Jato de Baixos Níveis (JBN). Este fenômeno intensifica o transporte de fumaça para o Sul do Brasil, prejudicando a qualidade do ar e representando um risco para a saúde pública, especialmente para as populações mais vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias ou cardíacas. Além disso, o El Niño intensificou as chuvas no Sul do Brasil, enquanto reduziu as precipitações nas regiões amazônica e central, agravando as condições que favorecem o surgimento de queimadas.

Em meio a este cenário desolador, a iniciativa do “Pacto Econômico com a Natureza”, lançada recentemente por um grupo de 52 empresários e executivos de grandes companhias brasileiras, surge como um farol de esperança. O manifesto defende a necessidade de ações concretas e coletivas para enfrentar os desafios ambientais, sinalizando a disposição do setor privado em colaborar com o governo federal para promover o desenvolvimento econômico sustentável.

Entre os signatários, líderes de gigantes como Vale, Natura, XP e Itaú ressaltam a importância de uma parceria ativa com o Executivo, propondo mudanças em processos e hábitos, essenciais para mitigar o impacto das mudanças climáticas. O documento destaca eventos recentes como os incêndios no Pantanal e as cheias no Vale do Taquari como exemplos da urgência de uma colaboração mais efetiva entre o setor público e privado para combater o desmatamento e criar leis ambientais mais robustas.

A iniciativa empresarial, liderada por nomes como Horácio Lafer Piva, da Klabin, e Candido Bracher, ex-presidente do Itaú, aponta também a falta de uma estratégia nacional de longo prazo para reduzir emissões de carbono, conforme os compromissos assumidos no Acordo de Paris. Com a COP 2025 se aproximando, o pacto chama atenção para a necessidade de o Brasil apresentar diretrizes claras para a descarbonização.

Mas o sucesso dessa empreitada não depende apenas do setor privado. É essencial que a sociedade como um todo, e especialmente os eleitores, percebam a importância de escolher representantes comprometidos com causas ambientais nas eleições municipais de 2024. Prefeitos e vereadores desempenham papéis cruciais na implementação de políticas ambientais locais e no combate aos mal feitos que agravam as queimadas, secas e outros desastres climáticos.

Os números falam por si: entre 1985 e 2022, mais de 185 milhões de hectares foram perdidos para queimadas no Brasil, impactando severamente a Amazônia, o Cerrado e o Pantanal. As consequências não são apenas ambientais; são também econômicas, com prejuízos à agricultura, turismo e saúde pública. De 1º de janeiro a 26 de agosto de 2024, foram registrados 109.943 focos de incêndio em todo o país, um aumento de 78% em comparação com o mesmo período do ano anterior, quando foram contabilizados 61.720 casos.

A responsabilidade de enfrentar a crise climática não pode recair unicamente no governo federal. É necessário que a conscientização sobre a importância da sustentabilidade permeie todas as esferas da sociedade — desde os tomadores de decisão até os eleitores que têm o poder de escolher líderes comprometidos com o futuro do planeta. O “Pacto Econômico com a Natureza” é um passo importante, mas só será verdadeiramente eficaz se for apoiado por uma base política forte e uma população engajada.

Em tempos de eleições municipais, o que está em jogo não é apenas a escolha de líderes locais, mas a possibilidade de construir cidades mais resilientes e adaptadas às novas realidades climáticas. Que o “Pacto pela Natureza” inspire mais pessoas a levantarem a bandeira da sustentabilidade e a pressionarem por políticas que integrem a preservação ambiental ao desenvolvimento econômico. Afinal, o combate às mudanças climáticas é um dever coletivo, e cada ação conta.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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