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[ESPECIAL] Por que o Brasil mantém juros tão altos?

Marcello Casal JrAgência Brasil
Foto: Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva / Crédito: reprodução.

O Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes da Silva, criticou duramente o presidente do BC, Roberto Campos Neto, acusando-o de politizar a instituição e prejudicar o desenvolvimento do país ao manter juros tão elevados. Segundo Josué, a autonomia do BC está sendo questionada, e a política de juros altos está asfixiando o crescimento econômico e os investimentos produtivos.

A partir dos dados sobre as taxas de juros e taxas de inflação dos países que integram os BRICS, é possível estimar uma taxa de juros ideal para o Brasil que seja comparável e promova um equilíbrio entre controle inflacionário e estímulo ao desenvolvimento econômico. Atualmente, a Selic está em 10,50% ao ano, uma das mais altas entre as principais economias emergentes.

Fonte: Plataforma MoneYou (julho/2024)

Quando se compara o Brasil com os demais BRICS, desconsiderando a Rússia devido ao seu cenário de guerra com a Ucrânia, observa-se que as taxas de juros reais dos outros membros — Índia (2,25%), China (0,99%) e África do Sul (2,79%) — são significativamente mais baixas. A taxa real média desses países, em torno de 2,01%, sugere que o Brasil poderia adotar uma postura menos conservadora.

No cenário brasileiro, com uma inflação em torno de 3,71%, uma redução da Selic para uma faixa entre 5,75% e 6,5% poderia resultar em uma taxa de juros real entre 2% e 3%. Isso ainda manteria um controle eficiente sobre a inflação, ao mesmo tempo, em que estimularia o consumo e os investimentos, promovendo um ambiente econômico mais favorável ao desenvolvimento.

A manutenção de uma Selic em 10,50% representa uma abordagem extremamente conservadora da política monetária, que pode estar prejudicando o desenvolvimento econômico do Brasil. Uma análise comparativa com os BRICS sugere que há espaço para uma redução significativa da taxa básica de juros sem comprometer o controle inflacionário. Uma Selic mais baixa incentivaria o crescimento econômico, alinhando o Brasil com práticas monetárias de outras economias emergentes. No entanto, encontrar uma fórmula para reduzir os juros a esse patamar em um mercado tão reativo e politizado como o brasileiro é um desafio complexo.

Ao analisar os dados comparativos, é claro que a taxa básica de juros no Brasil poderia ser reduzida, como argumenta Josué. A cautela do Banco Central em promover cortes mais significativos na Selic está dificultando o avanço econômico e confirmando a percepção de que Campos Neto atua mais em favor dos interesses do mercado financeiro do que da economia real. A crítica é endossada pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reiteradamente tem se oposto à política de juros do BC, sugerindo que a manutenção de juros elevados demonstra insensibilidade às necessidades econômicas do país. A redução da taxa Selic poderia fomentar o desenvolvimento, incentivando investimentos e consumo, condições essenciais para a retomada do crescimento econômico.

Essa abordagem poderia atenuar as críticas ao Banco Central e sinalizar um compromisso mais claro com o desenvolvimento econômico do país, atendendo às demandas do setor produtivo, do governo federal e dos governos estaduais. A análise comparativa indica que uma redução da taxa Selic poderia ser uma medida estratégica para impulsionar o crescimento econômico, incentivando investimentos e consumo — fatores essenciais para a retomada do crescimento. No entanto, como diz o ditado, “cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém”; porém, o excesso de cautela que mantém os juros excessivamente altos pode impedir a tão desejada aceleração do desenvolvimento econômico do Brasil. E isso é bom para quem?

 

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*BRICS é a sigla que se refere a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, conhecido como grupo de países emergentes selecionados e reunidos pelo estágio de desenvolvimento econômico. Representando mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta, 23% do PIB global e 18% do comércio internacional, o BRICS é uma parceria entre cinco das maiores economias emergentes do mundo.

 

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