Por Janine Alves, colunista de economia,
Enquanto Florianópolis amarga a maior inflação entre as capitais, despenca no índice de desenvolvimento humano, enfrenta queda nos indicadores de educação, emprego e renda, e é alvo de investigação do Ministério Público por possível alteração inconstitucional no Plano Diretor, a Câmara de Vereadores se ocupa com pautas ideológicas regressivas e inconstitucionais, ignorando a complexidade e a diversidade da realidade de seus eleitores.
A cidade vive uma crise silenciosa, agravada por uma visão política estreita, que desrespeita os princípios constitucionais e a dignidade humana. A aberração mais recente: moradores flagraram policiais militares agredindo e ateando fogo em pessoas em situação de rua na noite de segunda-feira (12), sob chuva e frio, a poucos metros da sede do Legislativo. Um ato bárbaro de tortura que exige investigação imediata dos responsáveis e resposta contundente do Estado.
E não para por aí, em vez de enfrentar os problemas reais da cidade, parlamentares apresentam projetos que visam perseguir pessoas LGBTIA+, como permitir que pais proíbam a participação de filhos em atividades pedagógicas sobre gênero e sexualidade, além de tentar retirar do Plano Municipal LGBT o eixo que discute educação — uma proposta que fere as Constituições Federal e Estadual e viola a liberdade de cátedra.
A inclusão nas escolas é essencial para combater as violências que crianças e adolescentes LGBTIA+ ainda enfrentam. Fomentar a diversidade é proteger vidas e evitar que outras pessoas passem por situações humilhantes em espaços de estudo e socialização. Um ato de respeito às famílias e a quem sofre na pele o peso do preconceito.
A cidade vive uma crise ética e institucional, onde os poderes locais parecem ignorar a Constituição, o sofrimento da população mais vulnerável e os indicadores sociais que gritam por políticas públicas sérias. A tortura e crueldade cometidas por agentes públicos escancaram o abandono institucional e a desumanidade com que parte do poder trata quem mais precisa. Em vez de proteger a população, os poderes locais parecem mais preocupados em reforçar preconceitos e ignorar os verdadeiros problemas da cidade. É urgente que as autoridades tomem providências imediatas — e que a sociedade não normalize o inaceitável.