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Especial 10 anos do Instituto Internacional Juarez Machado. O incentivo à cultura e a vida reclusa do grande artista

Fotos acervo família e IIJM

A coluna abre espaço hoje para entrevistar  Edson Busch Machado, presidente de honra do Instituto Internacional Juarez Machado, com sede em Joinville. Em novembro do ano passado o IIJM completou dez anos  e sua existência  já é um legado do artista  de Santa Catarina   de maior destaque nas artes pelo mundo. Para marcar a primeira década do instituto,  uma série de ações  estão programadas  em 2025.  Nesta entrevista Edson Machado fala também  sobre como o irmão, Juarez Machado,  leva a vida recluso devido o seu estado de saúde.

 

Como surgiu  a ideia de criar o Instituto Internacional Juarez Machado e a data de 25 de novembro para a sua inauguração?

Edson Machado – Há muito tempo Juarez e eu vínhamos sentindo a necessidade de organizar e catalogar as obras do artista espalhadas pelo mundo e tornar acessível ao grande público parte dessa rica trajetória do artista catarinense vivendo na França.

Em 2010 criamos uma instituição com estatutos e demais formalidades objetivando o mapeamento do acervo e projetos de inclusão cultural e intercâmbios internacionais. Durante quatro anos trabalhamos nas questões burocráticas, administrativas e financeiras, inicialmente com recursos próprios do Juarez. Restauramos o antigo casarão da família onde morávamos, no centro de Joinville, e em 2014 inauguramos o Instituto Internacional Juarez Machado, um complexo cultural. A data escolhida para inauguração – 25 de novembro – visa lembrar o Dia de Santa Catarina e homenagear o nascimento de nossa mãe Leonora Busch Machado ( falecida em 2011 ).

Os irmãos Juarez Machado e Edson Busch Machado

 

Há dez anos  quais eram os planos  com a criação do instituto, com o tempo que transformações ocorreram e qual o papel que tem hoje no universo das artes e da cultura em geral?

Edson Machado – Além do resgate da contribuição do artista Juarez Machado ao movimento das artes nacional e internacional, visamos provocar a produção multicultural de jovens talentos artísticos em todo o Estado de Santa Catarina.  Nessa década de atividades temos mantido e cumprido esse ideal. Hoje, cientes de nossa responsabilidade diante do universo das artes e da cultura em geral, abrimos ainda mais as oportunidades, realizando ações que conectam o público com as artes visuais, música, literatura, teatro, dança, cinema, arte educação, palestras, debates, cursos e eventos corporativos. Somos considerados um dos mais dinâmicos espaços culturais do Sul do país.

 

Quais foram  e são ainda as principais dificuldades encontradas para o instituto atuar como um dos mais importantes espaços culturais do Brasil? 

Edson Machado –  Nesse período buscamos transformar as inúmeras dificuldades de manter um espaço cultural vivo em novos desafios. As questões financeiras, operacionais, funcionais, administrativas, conceituais e até mesmo de formação de público para as artes contemporâneas fizeram a ainda fazem parte desse contexto.  Atuamos baseados numa gestão moderna, correta, ousada e participativa, consciente de responsabilidades, hoje dividindo a presidência a Eula Maciel e eu, com o aval de nossos Conselhos Consultivos , a participação do quadro funcional especializado, e a efetiva presença do público.

 

Quais  são hoje as principais atividades do IIJM e como elas se relacionam com os artistas e o público?

Edson Machado – O Instituto Internacional Juarez Machado vem buscando ocupar espaços significativos no contexto cultural do Estado e sobretudo em Joinville, onde está situado. Mantemos seis espaços com exposições simultâneas  temáticas de longa duração do artista Juarez Machado, exposições temporárias de artistas convidados, tanto locais quanto internacionais,  biblioteca especializada em livros de arte, fotografia e arquitetura para consulta, réplica com atelier do artista, jardins com esculturas, reserva técnica, loja com produtos artísticos e atividades constantes desde lançamento de livros até apresentações musicais. Atuamos também fora da sede com exposições itinerantes. Sempre com casa cheia pelo público, abertos de terça-feira a sábado das 9 às 18 horas.

Roda de conversa nas atividades do IIJM

 

Que público frequenta hoje o IIJM. Se fala muito em democratizar o acesso à cultura, o instituto se preocupa com essa questão?

Edson Machado –  Nascemos sob a inspiração do espírito criativo e empreendedor, defendendo nesses dez anos, a liberdade de pensar, criar e debater. Sendo assim, nosso foco tem sido a formação e participação do público. Somos uma entidade jurídica de direito privado sob regime de associação, de caráter cultural , artístico, educacional e de assistência social, sem fins lucrativos. Nosso estatuto é regido em normativas que fundamentam a pesquisa, a preservação, a mediação, a divulgação das manifestações das artes, o incentivo, a promoção, os intercâmbios culturais, cursos e ações sociais de qualquer natureza em interface com a ciência e a tecnologia, visando a formação do indivíduo como cidadão. Portanto o público interessado é sempre bem-vindo em nossos espaços.

 

No ano passado você, você  como agente cultural, escritor, curador e dirigente  lançou o livro ‘Quem tem medo de cultura?”. Na sua visão, quem tem medo da cultura?

Edson Machado –  Publiquei recentemente ” Quem tem medo da cultura ?” um livro que trata dessas questões vividas em cinco décadas de atividades. Muitas das ações do IIJM estão em suas páginas. Bom para pesquisa. Mais informações no www.edsonbuschmachado.com.br . Creio que os teus leitores, Anselmo Prada, não têm medo da cultura.

 

De que forma o IIJM pode ser parceiro de outros espaços culturais  de Santa Catarina para gerar força ainda maior em favor da cultura?

Edson Machado   – O Instituto Internacional Juarez Machado tem articulado o diálogo com outras instituições culturais.  Assinamos o Protocolo de Cooperação com o Governo do Arquipélago dos Açores, recebemos o Corpo Consular do Estado de Santa Catarina, participamos do Festival Literário Correstes D’Escrita em Portugal, recepcionamos o representante do Governo da França para a concessão da Ordem das Artes e das Letras ao Juarez Machado, realizamos exposição retrospectiva no MON-Museu Oscar Niemeyer. Neste mês de janeiro ( dia 28 ) nossa equipe estará visitando oficialmente a administração do MASC- Museu de Arte de Santa Catarina, e o Instituto Collaço Paulo, em Florianópolis, oferecendo parcerias.

 

Na sua avaliação qual é a realidade atual da cultura brasileira e catarinense?

Edson Machado – Nossa trajetória, minha e do Juarez,  sempre foi pautada nas artes, no conhecimento, na cultura. Desde crianças, junto à família. Juarez em 1960 teve que sair da pequena Joinville para estudar Belas Artes em Curitiba, depois Rio de Janeiro, e desde 1986 vivendo em Paris. Eu me formei em Jornalismo em Curitiba e resolvi voltar para Joinville para fundar e dirigir o Museu de Arte e depois presidir a Fundação Cultural  e em  Florianópolis para presidir a Fundação Catarinense de Cultura, o Conselho Estadual de Cultura e ser diretor de cooperação internacional  no Governo do Estado. Eram outros tempos e alcançamos muitos resultados ( vide a vinda do Bolshoi para Santa Catarina e outros ). Hoje a população tem muito mais oportunidades e condições estruturais. Creio que ajudamos nisso. A questão é ainda a falta de consciência de alguns dirigentes governamentais e a omissão de alguns segmentos da sociedade.

 

Qual a visão de quem é a motivação da criação do IIJM, o Juarez Machado, sobre o legado do instituto que leva seu nome?

Edson Machado  –  Creio que o Juarez se sente feliz por ter realizado o sonho de empreender um espaço cultural em sua terra natal. Mas também, creio eu,  bastante triste por não mais acompanhar de perto as atividades do IIJM. Ele encontra-se recluso , aos 83 anos de idade ( completa 84 no próximo dia 16 de março), em tratamento numa fazenda no interior do Rio de Janeiro. Vem acompanhado por cuidados médicos na companhia de sua ex-esposa Eliane Carvalho, com diagnóstico de Alzheimer. Mantém em seu quarto uma antiga fotografia da casa da família onde hoje é o instituto que leva o seu nome. Cabe a nós mantermos seu legado, um acervo extraordinário, um exemplo de vocação e esforço para uma carreira artística vitoriosa.

Na entrega da Medalha das Artes e das Letras pelo Governo da França em 2024.

 

O IIJM começou uma série de ações para celebrar os 10 anos ao longo de 2025. Você pode adiantar o que está sendo programado para os próximos meses para marcar  esta primeira década?

Edson Machado –  Ao longo de 2025 estaremos homenageando  Juarez Machado e  os dez anos de fundação do IIJM. Muitas atividades estão sendo programadas sistematicamente, desde novos investimentos em sua estrutura física até eventos que congreguem a comunidade. Estaremos revitalizando alguns espaços expositivos, toda a programação visual, a revitalização histórica de sua carreira e de seus pares à época, campanhas de formação e conscientização de público por meio de material iconográfico, suplementação museológica e participação em projetos agregadores de ordem social, educacional além de cultural. Para isso, já contamos com a parceria de uma empresa especializada que nos ajuda na administração, a Arte Brasil.

 

Que mensagem você deixa sobre estes dez anos e qual a visão de futuro?

Edson Machado –  Fazemos arte e cultura em Santa Catarina.  Completamos dez anos de atividades  e queremos juntos  celebrar a data com os que apreciam as artes em qualquer tempo e acreditam na cultura. Quero assim sintetizar esse momento com uma frase do próprio Juarez Machado: ” A arte, para mim, é tentar saber meu próprio tamanho. Meus limites do passado, minhas medidas do presente, meu espaço no futuro”.

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Outros destaques da semana…

 

“Destroços de Gaza”

Canabarro e as cerâmicas sobre Gaza (Foto: Denilson Antonio)

O Jardim da Fundação Cultural BADESC, em Florianópolis, recebe a partir de quinta-feira, dia 23 de janeiro, a exposição “Destroços em Gaza”, do artista Canabarro, que é um dos precursores da cerâmica artística em Florianópolis e em Santa Catarina. A abertura da mostra será a partir das 19h e contará com uma intervenção sonora de Tambores e Flauta Nativa com os músicos Lucas Kinceler e Gustavo Tirelli. A entrada é gratuita.  O artista apresenta uma produção inédita em cerâmica  e segundo Canabarro, “Destroços em Gaza” não se trata de apenas opinar sobre o conflito na faixa de Gaza, mas entender a extrema complexidade histórica, narrativas políticas e ideológicas.

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“Paisagens Experimentais”

Obra “Gamboa III” de Beatriz Milhazes

No espaço multidisciplinar A.Galeria, no Passeio Primavera, o destaque é para a exposição “Paisagens Experimentais, Gamboa III”, da artista plástica Beatriz Milhazes. A obra já passou pelos  salões da PACE Gallery (NY) e do MASP (SP).

A escultura, que nasceu nos galpões da escola de samba Grande Rio durante a pandemia, utiliza flores artificiais, placas de acetato, aljofres, pastilhas e outros materiais comuns ao universo do carnaval do Rio de Janeiro,  para formar móbiles de proporções gigantescas. É uma alusão à cultura popular brasileira e às tradições folclóricas, incluindo as implicações políticas da celebração do Carnaval no Brasil, bem como os movimentos musicais Tropicália e Bossa Nova do final da década de 1960.

O Passeio Primavera fica na Rodovia José Carlos Daux e a exposição prossegue até o dia 05 de março, aberta de terça a sábado.

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As riquezas do Brasil

Obra da artista Nita Faces Brasil

“Raízes Brasileiras” é o nome da exposição da artista plástica Nita Faces Brasil,  que  está em cartaz no Espaço OPEN Cultura, no Jurerê Open,  até o dia 10 de fevereiro. Composta por 24 obras, a mostra celebra as múltiplas riquezas culturais e naturais do Brasil.

A coletânea se desdobra em três temas: a celebração das mulheres e da biodiversidade brasileira, com foco na fauna e na flora, as festas, como um reflexo da resiliência do povo brasileiro diante da pandemia, e o circo, uma homenagem à La Compagnie des Contraires, de Paris, onde Nita já participou de oficina de arte.  A visitação é gratuita e segue até o dia 10 de fevereiro.

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Banda do Ben

Gabriel Melloy

Na música destaque para  uma voz marcante e a presença de palco do  cantor Gabriel Melloy, que  neste sábado, dia 25 de janeiro,  comanda uma edição especial do Banda do Ben em Florianópolis. A apresentação gratuita, que presta homenagem ao cantor Jorge Ben, será a partir das 19h no MULTI Open Shopping, no Rio Tavares. Sucessos como Samba Esquema Novo, África Brasil, Tábua de Esmeralda, entre outros clássicos estão no repertório. Criada em 2020, a banda, que presta uma homenagem ao mestre da música popular brasileira, é composta por Gabriel Melloy na voz e guitarra, Andrews Borges (bateria), Ettore Bacci (percussão), Pedro Marzano (baixo) e Adrian di Costa (sax).

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Musical de sucesso

No Teatro Ademir  Rosa, no Centro Integrado de Cultura (CIC) , continua em cartaz até  o próximo domingo,   dia 26 de janeiro, a temporada do espetáculo Uma Noite na Broadway,  espetáculo  que leva ao palco grande elenco e   produção  de  consagrados  musicais. Em cena também um quinteto de cordas formado por músicos da  Camerata Florianópolis.  As sessões acontecem às 20 horas e os ingressos estão disponíveis na plataforma  blueticket.com.br .

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“Numanice” com Ludmilla

Neste sábado, dia 25, a cantora Ludmilla desembarca em Floripa com a turnê Numanice, para uma apresentação na Arena Externa do Music Park.

O evento, marcado para começar às 14h, celebra o projeto de pagode da artista,  Os últimos ingressos estão à venda no site da Sympla.

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Até a próxima semana! 

No instagram: @anselmoprada

 

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