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O que aconteceu com o cidadão de bem?

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Como o cidadão de bem ultrapassou a linha tênue entre o fanatismo político e chegou aos atos terroristas em Brasília, financiados por empresários, com apoio político e participação de militares, políticos e se transformaram em vândalos

O que se viu em Brasília no dia 8 de janeiro foi a consequência dos desmandos dos últimos anos que empoderaram os levantes contra a democracia, mas sem nenhuma consequência ou punição. Quando não há limites impostos a barbárie, ultrapassa o bom senso e fortalece o sentido de impunidade:

  • Quando o então Deputado Jair Bolsonaro exaltou um torturador durante a votação do Impeachment de Dilma Rousseff (PT) sem que a lei fosse aplicada. Conforme a Lei de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), a Lei dos Crimes de Responsabilidade (Lei 1.079/50) e o Código Penal (artigo 287), exaltar a ditadura militar é crime no Brasil;
  • Quando se “convencionou” que é liberdade de expressão, defender informações falsas, receitar medicamento sem eficácia, atacar as urnas eletrônicas e o sistema eleitoral brasileiro sem nenhuma prova de fraude;
  • Quando se permitiu o ataque a saúde pública, a negligência com a pandemia, a campanha deliberada contra a vacina, contra o uso de máscara, de apoio a imunidade de rebanho e a aglomeração;
  • Quando “foi permitido” a uma deputada federal circular com arma em punho nas ruas de São Paulo, atentar contra a vida de um “opositor” e voltar ao trabalho no Congresso;
  • Quando se permitiu atacar a população indígena, dar declarações homofóbicas, racistas, sexistas, xenofóbicas sem que nada fosse feito;
  • Quando instituições de fiscalização foram desmanteladas para permitir o desmatamento da Amazônia, a não fiscalização das queimadas, e a liberar agrotóxicos proibidos em outros países;
  • Quando se permitiu que o ex-Presidente Jair Messias Bolsonaro, em 1459 dias de governo, fizesse 6.685 declarações falsas ou distorcidas sem nenhuma punição (dados da Agência de checagem Aos Fatos);

O cidadão de bem que tinha uma vida pacífica, mas foi incentivado pelo levante de ódio e fake news das redes sociais, entendeu como sinalização positiva para ultrapassar os limites da lei e a fazer parte de atos terroristas. Eles acreditam que estão lutando contra o comunismo, afirmam que a Cloroquina é remédio para a Covid-19, que a imprensa e os jornalistas são inimigos da nação, mas defendem aqueles que distribuem notícias falsas aos gritos, bradam contra o STF, apontam fraude nas urnas eletrônicas, sem nenhuma checagem ou prova. Eles também acreditam que estão defendendo Deus, a pátria e a família, mas estão no lado oposto do ensinamento cristão, pois odeiam o próximo que não pensa como eles. Eles estão muito distantes do patriotismo ou do levante conservador que pensam defender, pois invadem, vandalizam, defecam e urinam nos prédios públicos mais importantes do país.  E, estão destruindo a própria família, pois implantaram a ditadura política e não se sentam mais na mesa com quem pensa diferente. Essas pessoas que se transformaram em “robôs” inconvenientes na distribuição de notícias falsas para a família, amigos e colegas de trabalho

A deliberação não é sobre a defesa e exaltação do lema Deus, pátria e família, mas sobre dissonância cognitiva que levou milhares de brasileiros a acreditarem em uma realidade paralela e na maior farsa que esse país já viu. Na imprensa, os paladinos da fake News começaram a cair, um a um. A Jovem Pan está na mira de uma campanha de desmonetização liderada pelo Slepping Giants, movimento de consumidores contra o financiamento do discurso de ódio e das fake news. Os cidadãos de bem que viraram terroristas pela força do ódio aos oponentes estão na cadeia. Os financiadores da tentativa de golpe estão na mira da Justiça. E o ex-Presidente vai responder aos inúmeros processos que já estão correndo na justiça no Brasil e no exterior, mas ainda os que se somarão a possível responsabilização pelos atos terroristas que aconteceram em Brasília. Não é apenas sobre política, sobre direita e esquerda, sobre liberalismo ou comunismo, mas sobre o abalo profundo na saúde mental do povo brasileiro.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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