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O SOM AO REDOR

O SOM AO REDOR

Dando um tempo na coluna temática de Cine & Séries, mas garantindo uma leiturinha semanal para os queridos leitores. Toda sexta-feira  uma “Crônica em Quarentena”, sem esquecer do cinema ! Dicas de filmes e séries, muitos gratuitos, para ajudar a enfrentar a quarentena.

Se puderem, fiquem em casa. Cuidem-se! 

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Crônicas em quarentena – IX – O SOM AO REDOR

 

Para quem está em isolamento social, a pandemia mudou também o som que vem da rua. Embora o prédio onde moro não seja próximo à avenida principal, sempre escutei o intenso barulho do trânsito. À noite, vinha aquele rumor da Via Expressa, como um bicho que ruge. Com o começo da quarentena e a diminuição do número de carros em circulação, cessou o barulho dos motores.

Esse bem-vindo silêncio trouxe outra alegria: o canto dos passarinhos ficou mais audível. As árvores frutíferas das casas ao lado do condomínio garantem um revoar constante nas bananeiras e mamoeiros. Bem cedinho da manhã já se ouve o bem-te-vi. Lembrei de uma querida amiga que sempre reclama do barulho dos sabiás em época de acasalamento. Nas cidades grandes, eles cantam de madrugada e bem alto, chamando a fêmea. Acabam perturbando o sono dos moradores. Em São Paulo quase virou caso de polícia.

Como o sabiá, essa gracinha do papo laranja cantado em prosa e verso, se tornou o inimigo público número 1 dos insones urbanos? Oh, surpresa, a culpa é … dos humanos! Fizeram um estudo sobre o horário do canto do sabiá-laranjeira na capital e nas cidades do interior.  A conclusão: são notívagos nas grandes cidades, diurnos nas pequenas. O motivo óbvio: poluição sonora! Para serem ouvidos pelas “pretendentes”, os sabiás passaram a cantar à noite.

Talvez este ano os pássaros possam chamar a companheira à luz do sol também na grande cidade e minha amiga possa dormir em paz. Isso não significa que eu deseje o prolongamento ad eternum  do isolamento social, mas o mundo poderia reavaliar uma porção de coisas, principalmente em relação à natureza.

Enquanto a quarentena não termina fico aqui apurando o ouvido para sons longínquos, antes imperceptíveis. Agora escuto o sino da igrejinha lá do final do bairro: sei quando é meio-dia e seis da tarde. Alguém toca saxofone no outro edifício, uma mulher cantarola, uma criança ri. Ouço até um galo citadino cacarejar a qualquer hora do dia.

Gostaria de terminar essa crônica dizendo que o som ao redor é 100% maravilhoso em tempos de confinamento, mas acabo de ouvir um vizinho gritar palavrões para o filho adolescente que não arrumou o quarto. Outro morador decidiu reformar o apartamento durante a pandemia e a serra elétrica não para.

Os passarinhos estão se comportando bem, já os humanos… Coloco os fones e vou ouvir Eric Satie, enquanto escrevo.

(Brígida De Poli)

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O SOM AO REDOR – FILME

O filme de onde tirei o título da crônica de hoje foi o primeiro longa de ficção de Kleber Mendonça Filho, diretor também de Bacurau e Aquarius.

Em O Som ao Redor a presença de uma milícia para controlar uma rua classe média do Recife muda a vida dos moradores. Alguns comemoram a tranquilidade trazida pela segurança privada, mas outros passam por momentos de extrema tensão.

O filme está disponível no Now- OD e também ainda em cartaz no Telecine Cult.

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REFLEXOS DA CRÔNICA “CAFÉ NA CAMA NUM DIA FRIO

Nossa conversa da edição anterior gerou ótimos comentários, com novos pontos de vista sobre as relações na quarentena.

Muito oportuno o tema da tua crônica, Brígida. O isolamento vai ser um teste para todo tipo de relacionamento, não só dos casais, mas também de pais/mães com seus filhos e até de amigos que moram juntos. Como eu já vinha fazendo teletrabalho há 2 anos, a convivência com minha filha adulta que mora comigo já era estreita. A diferença é que a pandemia não nos permite dar uma saída pra espairecer ou desabafar com um amigo quando estamos estressados, o que aumenta a possibilidade de conflitos. Aqui em casa eventualmente temos alguns “arranca-rabos”, mas ficamos muito mais unidas. Afinal, temos consciência que precisamos nos apoiar e estar bem uma com a outra (e com nós mesmas) para podermos segurar a barra nesse momento tão difícil, em que estamos muito vulneráveis tanto em função do coronavírus como do cataclisma político-institucional causado pelo atual governo, que tanto tem prejudicado a nossa já tão sofrida população. (Dulce Bergmann)

Brígida, penso que mandar no próprio destino, seja simplesmente tentar entender o que chega para nós a cada momento, avaliar as possibilidades, fazer escolhas e aprender com elas. Talvez, a necessidade de (re) aprender a conviver em família, possa nos trazer descobertas. A revelação de prazeres ( antes esquecidos) ou, até mesmo, a percepção da necessidade de mudança de rumos…
Olhando por esse ângulo, acho que fica mais fácil encarar o isolamento social, não é mesmo? Rs .Bjsss (Zuleide Besen)

Obrigada pela crônica e dicas. Preciosas como sempre. Passei 2 meses da quarentena com meu filho (adulto) pq fui pega de surpresa tb. Depois consegui voltar pra casa e ficar só. As duas coisas foram boas. É mesmo uma sorte poder estar em boa companhia (no meu caso, a minha), seja por acaso ou de propósito! (Dedé Ribeiro)

Concordo, Brígida. É preciso aconchegar-se aos amores – aos novos e aos antigos. Aqui em casa, o tempo “livre” do trabalho em casa tem sido para ver fotos de viagens. Uma diversão! (Dilma Juliano)

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DICAS DE FILMES E SÉRIES PARA CURTIR NA QUARENTENA

 

Canal Brasil Play

Um presente para quem curte o melhor do cinema nacional. O acesso é gratuito no site oficial e traz títulos novos, como a série Milton e o Clube da Esquina e clássicos como Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha.

 

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Telecine ( um mês gratuito)

Algumas sugestões do acervo para ver em 30 dias.

Infiltrado na Klan – Spike Lee

Quem ainda não viu vai se surpreender com a história verídica do policial negro que consegue se infiltrar na terrível Ku Klux Klan, em 1978, através de cartas e telefonemas. Quando precisava participação presencial, mandava outro colega branco. O filme concorreu ao Oscar. Vale a pena.

 

La la Land – Damien Chazelle – 2016

Por falar em Oscar, quem ainda não viu tem a chance de conhecer o musical que concorreu a várias estatuetas. Ganhou Melhor Diretor, Melhor Atriz e prêmios técnicos, mas acabou perdendo o Melhor Filme para Moonlight-À luz do luar. Mas levou todos os principais Globo de Ouro. Música, bela fotografia e Ryan Gosling e Emma Stone cantando e dançando.  Veja o trailer, para alegrar o coração…

 

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Netflix

The Sinner

Chegou a 3ª temporada da série que traz Bill Pulmann  no papel do veterano e atormentado detetive Ambrose. As histórias são independentes, então não prejudica a compreensão não ter visto as temporadas anteriores. Assisti as três: gostei mais da primeira do que da segunda, mas agora a terceira se tornou minha favorita. Nela, um jovem professor, cidadão modelo prestes a se tornar pai, sofre um acidente de carro, onde morre o amigo que estava junto. Ao investigar o caso, Ambrose descobre que nem tudo é o que parece. O diferencial de The Sinner  para outras séries de investigação é que não se procura QUEM matou, mas POR QUE matou. E arrisco um palpite: Matt Bomer, o jovem ator que faz o professor, vai longe na carreira ao combinar beleza e excelente atuação.

 

O Apostador

Esse vou recomendar sem ter visto, mas é um gênero que muitos gostam.  Mark Whalberg interpreta Jim Bennett, um professor de literatura viciado  em apostas. O vício ameaça destruir sua carreira e o coloca sua família em risco pela dívida com gângsteres. Além de Whalberg, o filme traz o sempre ótimo John Goodman, bem malvado!

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Clássicos Japoneses

Para os cinéfilos que gostam do cinema cult, a Fundação Clovis Salgado disponibilizou gratuitamente no YouTube, dez clássicos do cinema japonês. Entre eles O sabor do chá verde sobre o arroz (1952), de Yasujiro Ozu e Contos da Lua Vaga (1953), de Kenji Mizoguchi (foto)

http://fcs.mg.gov.br/eventos/mostra-on-line-classicos-do-cinema-japones/

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PARA ENCERRAR COM CHAVE DE OURO!

A peste da insônia

A  Fundação Gabo teve uma ideia genial: mais de 30 atores latino-americanos leem trechos de “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel Garcia Marquez, o Gabo. Eles descrevem a epidemia que põe  Macondo,  a cidade fictícia do livro, em uma quarentena.  Qualquer semelhança… Enquanto os atores fazem uma espécie de jogral aparecem imagens de Buenos Aires, Bogotá, São Paulo, Cidade do México. Como os habitantes de Macondo perdem a capacidade de dormir por causa da peste, o curta ganhou o nome de “La peste del insomnio”. Os atores fizeram o trabalho gratuitamente. É falado em espanhol, mas tem legendas em português e inglês.

Alguns participantes: Ricardo Darín, Alice Braga, Leonardo Sbaraglia…

O CURTA pode ser encontrado no site da Fundação Gabo e no Youtube.

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HASTA LA VISTA , BABY!

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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