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Por que o crescimento do PIB acima do esperado pode não ser uma boa notícia?

Foto: Tânia Rego/Agência Brasil/Arquivo

O crescimento do PIB brasileiro, que avançou 1,4% no segundo trimestre de 2024 em comparação ao primeiro, e surpreendeu o mercado, mas isso pode não ser a boa notícia que muitos imaginam. Embora o crescimento seja um sinal encorajador, a realidade por trás desse resultado é mais complexa e menos otimista. A aceleração da economia tem sido alimentada por um aumento do consumo, impulsionado pelo dinheiro no bolso do trabalhador e por uma demanda crescente que leva empresários a contratar e investir mais. Contudo, esse crescimento enfrenta um grande obstáculo: a infraestrutura precária do Brasil.

A produção industrial, que cresceu 6,1% em julho de 2024 em relação ao mesmo mês do ano anterior, indica uma recuperação forte. No entanto, a capacidade de o Brasil sustentar um crescimento robusto e de longo prazo é limitada pelos estrangulamentos na infraestrutura do país, que inclui rodovias deterioradas, portos e aeroportos sobrecarregados e uma malha ferroviária quase inexistente. Esses problemas estruturais impedem a economia de alcançar seu potencial pleno e duradouro.

Além disso, o Banco Central se vê diante de um dilema: para controlar a inflação e esfriar uma economia que já está aquecida, é necessário um aumento na taxa de juros? A ex-diretora de Assuntos Internacionais do Banco Central, Fernanda Guardado, sugere que um aumento inicial de 0,25 ponto percentual, seguido por ajustes subsequentes de meio ponto nas reuniões de novembro e dezembro, levaria a Selic para 12,25% até março de 2025. Segundo Guardado, esse ajuste é fundamental para controlar as expectativas de inflação e evitar um superaquecimento da economia.

Apesar dos avanços positivos, a realidade política e econômica do Brasil é marcada por desafios adicionais. O embate entre a soberania nacional e os interesses de grandes empresários, como o dono do X, e as disputas no Supremo Tribunal Federal, destacam o desrespeito pelas leis brasileiras e agravam a situação. Essa falta de respeito pela legislação, combinada com a propagação de informações falsas e a polarização ideológica, contribui para um ambiente de incerteza e desconfiança. Mas o cerne da questão não se trata de liberdade de expressão como muitos propagam, mas de afronta a soberania nacional e ao desvio do foco de assuntos relevantes para desenvolvimento do país.

O Brasil precisa urgentemente de uma abordagem integrada que não apenas promova crescimento econômico, mas também enfrente os problemas estruturais que limitam seu potencial. A melhoria na infraestrutura, uma política monetária equilibrada e um compromisso com a verdade e o respeito pelas leis são essenciais para garantir um crescimento sustentável e inclusivo. No entanto, a atual configuração política e social parece estar mais preocupada com conflitos e desinformação do que com a resolução desses problemas estruturais. A capacidade de o país avançar economicamente de forma robusta depende não apenas de números positivos, mas da habilidade de superar as barreiras estruturais e institucionais que continuam a frear seu progresso.

 

Inflação, gráfico, c’redito: Pixabay

Por que o crescimento do PIB acima do esperado pode gerar inflação?

O aumento do PIB pode levar à alta da inflação devido à maior demanda gerada pelo crescimento econômico. Quando o PIB cresce acima das expectativas, como ocorreu no segundo trimestre de 2024 com uma alta de 1,4% (acima da previsão de 0,9%), significa que a atividade econômica está aquecida, o que geralmente reflete um aumento no consumo das famílias e nos investimentos. Isso eleva a demanda por bens e serviços, especialmente no setor de serviços, que é menos influenciado por fatores sazonais e tem maior peso nas decisões do Banco Central sobre a política monetária.

Esse aumento da demanda, se não acompanhado por um crescimento correspondente da oferta, pode gerar pressões inflacionárias, uma vez que os preços tendem a subir quando a demanda supera a capacidade de oferta da economia. O setor de serviços, que registrou a maior alta anual desde 2022, é um indicador-chave dessa dinâmica, pois seu crescimento está diretamente relacionado ao consumo doméstico, que influencia diretamente a inflação.

Com o risco de a inflação ultrapassar o teto da meta de 4,5%, o Banco Central pode decidir aumentar a taxa Selic para conter o consumo e desacelerar a economia. Um aumento na Selic encarece o crédito e reduz a demanda, o que ajuda a controlar a inflação. Assim, o crescimento mais forte do PIB, impulsionado pelo aumento dos gastos do governo, consumo familiar e investimentos, pode gerar a necessidade de uma política monetária mais restritiva para manter a inflação sob controle.

Se o Banco Central elevar a taxa de juros em setembro, como esperado, o objetivo seria trazer a inflação de volta para a meta de 3% ao ano até o segundo semestre de 2025.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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