Portal Making Of

|Retrospectiva 2024| Avanços e incertezas: a economia brasileira em perspectiva

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O cenário econômico brasileiro em 2024 foi marcado por avanços no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e na redução do desemprego, mas também por desafios como atrasos em reformas estruturais, pressão fiscal e alta informalidade no mercado de trabalho. O debate sobre ajuste fiscal, política monetária e as mudanças necessárias dominaram o ano, moldando um panorama complexo e contrastante para a economia e a sociedade. Enquanto o país registrou crescimento acima das expectativas, as vulnerabilidades estruturais permanecem evidentes, destacando a necessidade de ações mais efetivas para consolidar os avanços e enfrentar os desafios.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil ocupa a 10ª posição entre as maiores economias do mundo em 2024, com um PIB estimado em US$ 2,19 trilhões.

 

Foto: Eduardo Valente/SECOM

Crescimento Econômico. Com um crescimento de 3,5% do PIB, projetado pelo IPEA, Confederação Nacional da Indústria (CNI) e Banco Central, 2024 marcou uma recuperação após os anos de retração e baixo desempenho entre 2015 e 2023. O setor de serviços e a demanda interna, impulsionados pelos gastos do governo e das famílias, foram os principais motores dessa retomada.

 

Apesar da Selic em 12,25% encarecer o crédito, o Brasil surpreendeu com um crescimento do PIB de 3,5%, mostrando resiliência em setores como serviços e agropecuária.

 

A criação de 2,2 milhões de empregos com carteira assinada reforçou o mercado de trabalho, mas a informalidade, que atinge 38,7% da força de trabalho, permanece elevada. Essa característica histórica reflete uma economia que ainda carece de diversificação produtiva e políticas eficazes de qualificação profissional. Sem essas medidas, o crescimento corre o risco de não gerar impactos duradouros na redução de desigualdades.

 

O Brasil alcançou um marco histórico no mercado de trabalho em 2024, com 103,9 milhões de trabalhadores ocupados, refletindo o menor índice de desemprego já registrado, de 6,1%.

 

Inflação e Política Monetária. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) fechou 2024 com alta de 4,71%, acima da meta de 3% definida pelo Banco Central, mas inferior às taxas registradas nos anos anteriores. Essa desaceleração, embora positiva, não esconde pressões estruturais, como o aumento nos preços de alimentos e combustíveis, que continuam a pesar no orçamento das famílias. A taxa Selic, que encerrou o ano em 12,25%, segue como um instrumento essencial para o controle inflacionário. No entanto, os efeitos colaterais dessa política são evidentes: encarecimento do crédito, queda no consumo e desestímulo aos investimentos. Apesar dessas barreiras, o crescimento do PIB acima das expectativas aponta para a resiliência de setores como serviços e agropecuária.

 

Inflação controlada, mas ainda acima da meta: A inflação acumulada de 4,71% em 2024 foi a menor desde 2020, mas permanece acima da meta de 3%, refletindo as dificuldades em controlar preços de alimentos e combustíveis.

 

Apesar da Selic em 12,25% encarecer o crédito, o Brasil surpreendeu com um crescimento do PIB de 3,5%, mostrando resiliência em setores como serviços e agropecuária.

 

Câmbio e Comércio Exterior. A desvalorização do real em 2024, com o dólar superando os R$ 6, refletiu incertezas fiscais, especulações e a política monetária do Federal Reserve. Essa volatilidade cambial impactou os custos de importação e pressionou a inflação, mas o superávit robusto da balança comercial, impulsionado por commodities como soja, petróleo e minério de ferro, ajudou a mitigar parte desses efeitos. No cenário global, a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos trouxe novas incertezas para o comércio exterior brasileiro, com políticas protecionistas que afetam mercados-chave. Apesar disso, intervenções do Banco Central e fluxos de capitais estrangeiros ajudaram a moderar os impactos negativos no Brasil.

 

Real desvalorizado, exportações fortes: O real perdeu 21,8% de valor em 2024, com o dólar ultrapassando R$ 6, mas o superávit comercial de US$ 60 bilhões ajudou a compensar os impactos no mercado interno.

 

Reformas Estruturais e Ajuste Fiscal. A reforma tributária aprovada em 2024 é vista como um passo importante para modernizar o sistema fiscal brasileiro. Ao simplificar cinco tributos em três, o país busca maior eficiência e competitividade econômica. Contudo, a implementação enfrenta desafios, especialmente para setores como agroindústria e serviços financeiros, que precisam se adaptar às mudanças. O ajuste fiscal, com a meta de déficit primário zero, incluiu cortes de R$ 19 bilhões em áreas como saúde e educação, gerando críticas sobre os impactos sociais dessas medidas. Apesar das promessas de equilíbrio fiscal, o mercado mostrou ceticismo quanto à capacidade do governo de conter o crescimento da dívida pública, que alcançou 84% do PIB em 2024.

 

Com cortes de R$ 19 bilhões em áreas sensíveis como saúde e educação, o ajuste fiscal gerou críticas sobre o impacto social, enquanto o mercado mantém dúvidas sobre a sustentabilidade da dívida pública de 84% do PIB.

 

Dívida Pública no Contexto Global. Embora a dívida pública brasileira seja elevada para padrões de países emergentes, ainda está longe de ser uma das mais preocupantes globalmente. Países como Japão (251,9% do PIB), Grécia (160,2%) e Estados Unidos (126,9%) apresentam níveis mais altos. No entanto, o Brasil enfrenta desafios internos específicos, como o custo elevado de financiamento devido às altas taxas de juros, que pressionam os gastos públicos e limitam o crescimento.

 

Embora elevada, a dívida pública brasileira está longe de ser a mais alarmante globalmente, com países como Japão e Grécia apresentando proporções muito maiores.

 

Desafios e oportunidades

 

Foto: Ricardo Wolffenbüttel/SECOM
Foto: Ricardo Wolffenbüttel/SECOM

Uma pesquisa da Febraban revelou que 75% dos brasileiros estão otimistas quanto à melhoria de suas condições pessoais e familiares em 2025. Esse otimismo, embora positivo, precisa ser acompanhado de políticas públicas que promovam crescimento inclusivo e redução de desigualdades. O Brasil enfrenta desafios econômicos e fiscais que exigem estratégias inovadoras para consolidar os avanços de 2024 e enfrentar as incertezas de 2025. Reformas estruturais, eficiência nos gastos públicos e inclusão social serão essenciais para construir um futuro resiliente e sustentável.

 

O crescimento do PIB de 3,5% em 2024, o menor nível de desemprego desde 2012 e superávits comerciais demonstram conquistas importantes, mas as vulnerabilidades estruturais, como a informalidade persistente e a baixa diversificação econômica, limitam o potencial de longo prazo. A desvalorização do real, a política monetária restritiva e a lenta implementação de reformas estruturais ilustram os desafios que o país precisa superar para transformar progresso pontual em resultados sustentáveis.

 

Para 2025, o maior desafio será equilibrar ajuste fiscal e estímulos ao crescimento em um cenário de juros elevados e volatilidade cambial. Setores como agropecuária e infraestrutura oferecem oportunidades para mitigar os impactos de uma economia global mais lenta. No entanto, apenas com ações coordenadas e uma visão de longo prazo será possível consolidar os avanços e garantir um desenvolvimento econômico mais inclusivo e equilibrado.

 

 

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasi/Arquivo

Principais Indicadores

Em 2024, o Brasil consolidou sua posição como uma das economias mais dinâmicas do G20, registrando o 6º maior crescimento entre os países do grupo, com expansão de 3,5% no ano. Apesar do desempenho expressivo, o país ocupa a 10ª posição entre as maiores economias globais, com um PIB de US$ 1,02 trilhão, superando nações como Canadá, Rússia e México. Abaixo está uma lista organizada dos principais indicadores econômicos e sociais do Brasil em 2024, com base nos dados mais atualizados e suas respectivas fontes:

 

  1. PIB (Produto Interno Bruto)
  • Crescimento Real: 3,5% (Banco Central do Brasil), IPEA, CNI)
  • Setores em Destaque:
    • Serviços (+4,1%)
    • Agropecuária (+3,8%)
    • Indústria (+2,5%)

 

  1. Inflação (IPCA)
  • Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo:
    • Acumulado do Ano: 4,71% (IBGE)
    • Meta de Inflação do Banco Central: 3,00% (com tolerância de 1,5 ponto percentual).
  • Pressões Principais: Alimentos, combustíveis e transporte

 

  1. Taxa de Juros (Selic)
  • Encerramento do Ano: 12,25% (Banco Central do Brasil)
  • Meta para 2025: Projeção de até 14,75% devido à persistência inflacionária.

 

  1. Taxa de Câmbio
  • Dólar Comercial: Deve fechar 2024 acima de R$ 6,00 (Banco Central do Brasil)
  • Desvalorização do Real: 21,8% frente ao dólar ao longo do ano.
  1. Mercado de Trabalho
  • Desemprego: 6,1% (menor nível desde 2012).
  • Criação de Empregos Formais: 2,2 milhões de vagas.
  • Informalidade: 38,7% dos trabalhadores.

      Fonte: IBGE, CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

 

  1. Dívida Pública
  • Dívida Bruta do Governo Geral: 84% do PIB.
  • Comparação Global:
    • Japão: 251,9% do PIB.
    • Grécia: 160,2% do PIB.
    • EUA: 126,9% do PIB.
  • Fonte: Tesouro Nacional, Banco Mundial.

 

  1. Comércio Exterior
  • Balança Comercial:
    • Superávit: US$ 60 bilhões.
    • Principais Produtos Exportados: Soja, minério de ferro, petróleo.
    • Destinos Principais: China, Estados Unidos, União Europeia.
  • Déficit em Transações Correntes: 2,23% do PIB.
  • Fonte: Ministério da Economia.

 

  1. Índice de Confiança
  • Confiança do Consumidor: 75% dos brasileiros acreditam que suas condições pessoais e familiares irão melhorar em 2025 (dados da Febraban).

 

  1. Setores Resilientes
  • Agropecuária: Crescimento projetado de 5% em 2025.
  • Infraestrutura e Energia: Setores que se destacaram como pilares de estabilidade.
  • Fonte: CNA (Confederação Nacional da Agricultura), ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica).

 

Perspectivas para 2025

As projeções para 2025 indicam uma desaceleração do PIB, com crescimento estimado entre 1,5% e 2,4%. Entre os principais fatores que impactarão o desempenho econômico estão:

  • Taxas de Juros Elevadas: A Selic, prevista para alcançar até 14,75%, continuará pressionando o custo do crédito, reduzindo o consumo e os investimentos.
  • Volatilidade Cambial: O dólar, projetado entre R$ 5,90 e R$ 6,50, aumentará os custos de insumos importados e pressionará a inflação.
  • Desempenho de Commodities: Embora resiliente, o setor não deve repetir os resultados de 2024, o que pode impactar a arrecadação fiscal.

Por outro lado, setores como agropecuária, com crescimento projetado de 5%, e infraestrutura, com investimentos estratégicos, devem oferecer alívio em meio aos desafios.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais: