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SAUDADES DO QUE NÃO VIVI

SAUDADES DO QUE NÃO VIVI
Legenda: Bruges, Bélgica/reprodução

Dando um tempo no formato temático de Cine & Séries, mas garantindo a leitura semanal para quem segue a coluna. Toda sexta-feira,  uma nova “Crônica em Quarentena” e, claro, dicas de filmes e séries para amenizar esses tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Fiquem bem!

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Crônicas em quarentena- XI – SAUDADES DO QUE NÃO VIVI

Hoje me peguei com saudades de lugares onde nunca estive. Aqueles sonhados e agora mais distantes que nunca. No poema “O Mapa”, Mário Quintana parece me entender: sinto uma dor infinita das ruas de Porto Alegre por onde jamais passarei (..).

Desculpem a melancolia, mas sabemos que o mundo nunca mais será o mesmo. Vai levar muito tempo ainda para que as coisas voltem a ser parecidas com o antes. Entre não poder ir sequer até a próxima esquina e a possibilidade de viajar a lugares longínquos vai precisar de um tempo que eu talvez não tenha.

Ficarão guardados os desejos de ir ao Porto, em Portugal, para conhecer a beleza centenária da livraria Lello ; de passear pelas ruas de Rímini  onde nasceu Federico Fellini; de conhecer Morano Cálabro,  cidade natal  do meu avô calabrês, Luigi ; a terra do flamenco , Sevilha ; o bosque dos arrayanes em Neuquén;  a pequena Bruges, que conheci através do cinema; ou Bora-Bora, o lugar sonhado pelos personagens de  Coppola em “O Fundo do coração“… são tantos! Deixo de fora o argentino Ushuaia por ser lá o “fim do mundo”, epíteto de mau agouro neste momento.

Como não deixar a frustração virar amargura? Lembrando do que já vivi, daquilo que tive a felicidade de conhecer, da parte do sonho que se concretizou. Só de pensar já me vem a sensação da brisa de Granada no rosto, vejo as árvores repletas de romãs – a fruta que deu nome à cidade espanhola- ; vislumbro a lua de Loro Ciuffenna, enchendo o quarto da casa toscana de uma luz prateada; os cerros cobertos de neve na Patagônia; o hotel onde Julio Cortazar morou em Montevideo; os vitrais e os doces de Las Violetas em Buenos Aires; o tango no Teatro Piazzolla; o teto da Capela Sistina; a Cinecittá onde Fellini reinou ; as igrejas de Ouro Preto. Tudo isso vivido ao lado de pessoas amadas. Tenho lembranças suficientes para mil anos. Sinto meu coração agradecido e sossegado.

(Brígida De Poli)

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POR FALAR EM “O FUNDO DO CORAÇÃO”

O lindo filme de Francis Coppola- que quebrou a produtora Zoe Trope – está disponível no Cine Belas Artes, um streaming com mensalidade super acessível.

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O QUE DISSERAM OS LEITORES SOBRE “PRECISAMOS FALAR SOBRE ELA“, A CRÔNICA DA ÚLTIMA EDIÇÃO :

ELISA LIMA

“No dia seguinte ninguém morreu” é o pontapé inicial de Saramago (sou super fã) em Intermitências da Morte. No seu melhor estilo crítico/sarcástico divaga sobre vários aspectos desta personagem que todos sabemos que um dia vamos conhecer pessoalmente. Creio que a maioria de nós não está com nenhuma pressa. No entanto, me incomoda bastante como alguns não se importam em querer apresentá-la aos demais. Talvez seja por acreditarem numa outra vida melhor que essa e desejarem que o próximo vá logo desfrutá-la ou por egoísmo e irresponsabilidade ou (pior de tudo) negacionismo. Mas faço parte da turma que repete o mantra “isso vai passar”…
Como não creio em outras vidas, tento viver a que tenho o melhor e o mais plenamente possível. Por ora, apesar destes tempos sombrios, me permito alguns prazeres – como acordar às sextas-feiras lendo estas crônicas deliciosas.

 

ZULEIDE BESEN

Brígida, ótima abordagem!
Penso que tudo o que não podemos controlar, de um jeito ou de outro, sempre nos traz alguma inquietação. Talvez por isso, o tema “morte” seja tão explorado nos filmes e na literatura. Eu gosto da abordagem da médica Ana Cláudia Quintana Arantes em seu livro “A Morte é um Dia Que Vale a Pena Viver” onde ela traz valiosas reflexões sobre a vida, diante da perspectiva da morte.
Super recomendo!!!

 

FÁBIO PUGLIESI

Muito oportuna a referência à morte de o “Sétimo Selo”. O xadrez é uma metáfora que serve para muitas situações e para Bergman a morte não tem, na falta de uma palavra melhor, racionalidade.

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ADDIO,  MAESTRO ENNIO MORRICONE

Falamos “dela” na última edição de C&S ! Talvez para mostrar sua força, esta semana ‘ela” levou um dos maiores de todos os tempos:  Ennio Morricone. O compositor, maestro, arranjador italiano criou mais de 500 trilhas sonoras para o cinema e a televisão.

Não vou me estender sobre a importância da música para o cinema, mas não dá para imaginar “Era uma vez no Oeste” ou ” Cinema Paradiso” sem as trilhas do mestre, por exemplo.

Talvez muitos nem saibam o quanto  já ouviram Ennio Morricone na vida. Por um punhado de dólares, A Missão, Os Intocáveis, A Lenda do pianista do mar, Era uma vez no Oeste e Os oito odiados -de Quentin Tarantino –  que deu a ele o Oscar de Melhor Trilha Sonora em 2016, são algumas das trilhas que compôs. Minha favorita talvez seja a de Era uma vez na América, o filme de Sérgio Leone, diretor com quem mais trabalhou. Morricone estava para Leone, assim como Nino Rota estava para Federico Fellini,  uma espécie de co-autor da obra do cineasta.

Morricone trabalhou até quase o fim da vida. Nasceu e morreu em Roma, onde estava hospitalizado depois de machucar o fêmur em uma queda. Ele redigiu o próprio obituário e pediu uma cerimônia simples e privada porque ” não quero dar trabalho”, escreveu.

Para encerrar, saibam que para nós que amamos o Cinema não serve de consolo ouvir ” ah, mas Morricone já tinha 91 anos”. Acompanhamos esses artistas a vida inteira ( ou eles nos acompanharam?). São como amigos partindo. Estou triste.

(Vídeo: Virtuosos – marketing@virtuozok.hu)

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FILMES & SÉRIES

 

Telecine/Now

Quem gosta de automóveis vai curtir em dose dupla a  história de John DeLorean, criador do icônico carro que levou seu nome. No mínimo, as pessoas lembram do veículo usado em De Volta para o Futuro! Tudo muda quando DeLorean se envolve num caso de tráfico de drogas, numa armadilha de seu melhor amigo com o FBI.

 

John DeLorean- Visionário ou Vigarista? – doc – 2019

O título original é Framing John DeLorean( Enquadrando John De Lorean). O filme de Sheena Joyce, mistura documentário com reconstituição, onde Alec Baldwin “interpreta” o controverso engenheiro da indústria automobilística, John DeLorean. Depois de sua ascensão meteórica na General Motors ele decide construir o melhor carro esportivo do mundo.

 

DeLorean – Do motor ao crime – direção:Nick Hamm-2019

Se o título em português do documentário é ruim, o do filme é péssimo. O original é Driven, os adaptadores se puxaram… Mas, vamos lá: a ascenção e queda de DeLorean é contada misturando humor, suspense e drama.

 

DOWNTON ABBEY ( O FILME)

Os fãs da aclamada série inglesa podem matar as saudades da família Crowley e sua incrível criadagem. O ponto alto desse epílogo é a visita do casal real à mansão onde vivem nossos conhecidos Lord Robert, Lady Cora, Lady Mary, Mr.Carson, Mrs. Hugh, Mrs.Patmore, Tom Branson, Thomas Barrow… Como todo encerramento que se preza, conflitos do passado também se resolvem. Os sozinhos, como o viúvo Tom, encontra um novo amor e o mordomo Thomas, sempre angustiado por ser gay, também tem um encontro amoroso ( ops, spoiler )! À ma-ra-vi-lho-sa Maggie Smith, como a matriarca Crawley, cabem as frases mais irônicas e divertidas. O que fica pairando ainda é o fim de uma era e o começo de outra bem menos imponente e glamorosa. Vamos lembrar com carinho dessas ” pessoas” que nos deram bons momentos de fuga do nosso insensato mundo real.

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NETFLIX

PEAKY BLINDERS – 6 temporadas

Sei que já sugeri a série aqui na coluna, mas reforço que ela é das melhores disponíveis na Netflix e que está chegando a 6ª temporada. Uhuuu…

Peaky Blinders é inspirado em uma gangue real que aos poucos tomou o controle da cidade de Birmingham, Inglaterra, lá pelos idos de 1900. Na série, o líder não é o irmão mais velho da família irlandesa, Frank Shelby, mas o segundo, Thomas Shelby. O personagem , interpretado por Cillian Murphy, já entrou para a história dos melhores da TV. Mas todo o elenco é ótimo!

 

BLACK EARTH RISING – MINISSÉRIE – 8 EPISÓDIOS

Descobri quase por acaso essa interessante minissérie produzida  pela Netflix com o selo de qualidade da BBC. O carismático John Goodman tem feito mais séries de TV que filmes para o cinema nos últimos tempos. Aqui ele interpreta Michael Ennis, um advogado, para quem a poderosa promotora Eve Ashby trabalha. Ela é mãe adotiva de uma jovem órfã africana, que agora já adulta desconhece os detalhes de seu passado.

A trama combina política, investigação e drama para mostrar um fato histórico pouco explorado pelo cinema e TV: o genocídio de Ruanda na década de 90. Quase meio milhão de pessoas morreu durante a sangrenta guerra civil criada pela rivalidade de duas etnias, a tutsis e a hutus.

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Fim desta edição, começo da próxima…

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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