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Uma entrevista especial com Moacir Pereira

Foto: Reprodução/NDTV

Na última semana, o comentarista político Moacir Pereira anunciou que está se despedindo do jornalismo diário após seis décadas de atuação. A partir de agora, Moacir vai se dedicar a carreira de escritor.

Em entrevista a Making Of, Pereira relata os principais momentos de sua consagrada carreira na comunicação.

Confira:

Portal Making Of: Como começou sua carreira no Jornalismo?

Moacir Pereira: Os primeiros trabalhos começaram no Grêmio Estudantil Padre Schrader, do Colégio Catarinense, na década de 1950. Nas atividades literárias e culturais, optei pela produção de um mural, selecionando as principais noticias dos jornais e revistas, pelo famoso “gilete press”. No jornalismo, na área esportiva, como rádio escuta, na Rádio Anita Garibaldi, com Salomão Ribas Junior, Ariel Bottaro, Ciro Vizali, Arthur Sulivan e João Ari Dutra, integrando “A mais jovem equipe de esportes de Santa Catarina.

 

Portal Making Of: Como e quando se definiu pelo colunismo político?

Moacir Pereira: O colunismo nasceu no jornal “O Estado”, em 1966, quando passei a publicar a coluna “Grande Florianópolis”, trabalhando com notáveis da imprensa, como Marcilio Medeiros, Luiz Henrique Tancredo Paulo da Costa Ramos, Osmar Schlindwein, Yara Pedrosa e o excepcional Sérgio da Costa Ramos.

Já o colunismo político aconteceu em 1982, quando recebi convite para assinar um precioso espaço no “Jornal da Santa Catarina”, ocasião em que publiquei uma matéria especial de estreia, que causou grande repercussão nos meios políticos, sobre a sucessão do governo Henrique Córdova para Esperidião Amin.

Esta dedicação ao jornalismo político, em mais de 42 anos, foi consequência das primeiras coberturas em sessões da Assembleia Legislativa de Santa Catarina, das extraordinárias aulas na década de 1970, integrando a equipe do “Correio do Povo”, de Porto Alegre, Sucursal de Santa Catarina, na época o jornal de maior circulação no Estado, com mais de 15.000 exemplares diários. Três grandes nomes da imprensa gaúcha comandavam a “Central do Interior” da Companhia Jornalística Caldas Júnior, com o Correio, a Folha da Manhã e a Folha da Tarde. Antônio Brito, Cleiton Selistre e Clóvis Borges foram os inovadores e os mestres das novas gerações de gaúchos e catarinenses.

Ao ser convidado em 1979 para integrar o seleto grupo do “Jornal do Almoço”, na TV Catarinense, do grupo RBS, consolidei minha paixão pelo jornalismo político no vídeo, mantendo verdadeira devoção pelo colunismo político.

Presidente do Sindicato dos Jornalistas, em 1975, por veto do regime militar ao eleito em nossa chapa, sem experiência no movimento sindical, incorporei-me ao grupo renovador liderado por Audálio Dantas(SP), Carlos Castelo Branco (DF), João Borges de Souza (RS), e o grande mestre professor José Marques de Melo, entre outros, nas campanhas contra a censura e pelo aprimoramento profissional, firmando as convicções pela Democracia.

 

Portal Making Of: A interação com políticos sempre foi amistosa ou houve momentos de dificuldades? Em que época?

Moacir Pereira: Costumo afirmar que “o jornalismo é uma profissão incompreendida”. Nos últimos anos, mais desprestigiada por desvios profissionais no eixo Rio-São Paulo, ditado por fatores ideológicos da militância, da parcialidade e das finanças públicas.

E o jornalismo politico representa desafios gigantescos, por uma razão simples: suas fontes hoje podem ser os alvos de críticas nos dias seguintes. E algumas autoridades, parlamentares e políticos entendem que, por darem boas notícias, têm o direito de silenciar ou reduzir a liberdade do profissional.

Orgulha-me nestes 60 anos de jamais ter disparado críticas pessoais ou que tivessem delitos contra a honra de terceiros, embora possa ter sido implacável diante de delitos inadmissíveis. Os julgamentos e opiniões eram sempre institucionais.

No geral, para a esmagadora maioria dos políticos ouvidos e com os quais tive convivência elevada, só registro elogios por compreenderem meu trabalho.

 

Portal Making Of: Qual foi o político mais fácil de entrevistar?

Moacir Pereira: Como regra, o politico que tem cultura, conhecimento, sabedoria, é bem informado e tem gosto pela notícia e pela prestação de contas. Crítico das oligarquias nas primeiras década, aprendi a admirar o senador Jorge Bornhausen, por várias de suas virtudes como homem público. Jamais perseguiu os que o criticavam, tem até hoje o respeito dos maiores nomes do jornalismo politico brasileiro, atendeu sempre todos os profissionais com educação e, sobretudo, costumava acrescentar, após o cumprimento da pauta, notícias exclusivas, em “on” ou em “off”, que se transformaram muitas vezes em furos jornalísticos.

 

Portal Making Of: E o mais difícil?

Moacir Pereira: No plano nacional, para mim, Paulo Maluf. Era extremamente gentil comigo, fazia saudações públicas generosas, mas quando recebia uma pergunta mais delicada ou de temas políticos mais graves, evadia-se matreiramente sobre a beleza do tempo ou da cidade.

 

Portal Making Of: Como você transitou no período da ditadura?

Moacir Pereira: Foram de várias atuações. Como jornalista, tive o privilégio de trabalhar na Sucursal do Correio do Povo e, portanto, com plena liberdade para noticiar tudo o que se registrava em Santa Catarina, ao contrário dos colegas de todos jornais, rádios e TVs, que recebiam ordens de censura prévia da Policia Federal, na vigência do AI-5.
Como Presidente do Sindicato dos Jornalistas atravessei a tempestade num clima de temor e, as vezes, de certo pânico. Aliei-me com o grupo progressista que denunciava violência contra jornalistas e se mobilizava pelo fim da censura, sobretudo, a partir da morte do jornalista Vladimir Herzog, em São Paulo. Subscrevi todos os manifestos contra a censura, liderados por paulistas, cariocas, gaúchos, mineiros e brasilienses, mesmo contra a vontade de colegas da Diretoria que, preocupados com minha segurança optaram pela omissão.

Como professor da UFSC contava com a proteção dos Reitores Ferreira Lima, Caspar Stemmer, Ernani Bayer, que me indicaram com outros professores para colaborar com a Adesg, na implantação do Ciclo de Estudos, que alicerçou com a sábia atuação o professor Alcides Abreu o Projeto Catarinense de Desenvolvimento, do governo Colombo Salles.

Suspeito que esta circunstância pode ter blindado a atuação sindical naqueles anos difíceis.

 

Portal Making Of: Qual o “furo” mais destacado de sua carreira?

Moacir Pereira: As notícias exclusivas que tive o privilégio de divulgar foram as que tiveram manchetes nos jornais, e intensa repercussão na televisão. Algumas positivas, como escolhas de governadores, ou acordos firmados em bastidores criando fatos de relevância estadual, ou decisões de impacto no Poder Judiciário estadual ou federal, graças à confiança de excelentes magistrados.

Do que mais me orgulho não foram os inúmeros “furos”, mas um fato trágico registrado em Santa Catarina na década de oitenta.

Comentarista do Jornal do Almoço, vi-me promovido ao estafante e histórico comando da “Rede da Solidariedade”, liderada pela TV-Catarinense em 1983, durante a maior enchente da história do Vale do Itajaí, que atingiu também outras regiões.

Foram quatro dias de cobertura direta, sem internet e celular, com as transmissões canceladas e apenas os rádio amadores e a RBS com suas emissoras espalhadas pelo Estado.

A literatura registra que foi a maior e mais completa comunicação, com extraordinária prestação de serviços, já realizada na história do jornalismo e da televisão em Santa Catarina e no Brasil. Tudo passava pela Rede. Pela primeira vez, a programação da Rede Globo foi tirada do ar pelo saudoso Estádio Ramos, permanecendo apenas o “Jornal Nacional” e o “Jornal da Globo”. E, também, de forma inédita, o jornalismo adotou o padrão Globo no estúdio, onde os apresentadores ligavam no ar para autoridades, os repórteres chegaram com informações em laudas, numa improvisação sensacional onde o autêntico jornalismo de serviço era o poder maior.

 

Portal Making Of: Como vê o colunismo político de hoje?

Moacir Pereira: Com dupla visão. Os craques, meus ícones, como José Roberto Guzzo, Augusto Nunes, Alexandre Garcia, Silvio Navarro, exemplos maiores e dignos do melhor jornalismo que se pratica hoje no Brasil. E aqueles colunistas de prestígio no passado, na política e na economia, militantes que nos últimos anos substituíram o jornalismo pela ideologia, com vergonhosa manipulação. Muitos deles eram nossos exemplos maiores, hoje motivo de incontáveis frustrações, como revela a brusca queda de audiência de grandes jornais e emissoras de televisão. Decepções, felizmente, que não registro em Santa Catarina, onde temos, entre muitos, Paulo Alceu e Cacau Menezes, do Grupo ND, Cláudio Prisco Paraíso, que não traíram seus princípios, seus leitores e telespectadores.

 

Portal Making Of: Quem é seu sucessor?

Moacir Pereira: Falta-me autoridade para indicar sucessores. Estou certo que a imprensa catarinense conta com valorosos colunistas políticos. Eles já integram a constelação das melhores estrelas do Estado.

 

Portal Making Of: Qual o conselho você dá a quem quiser seguir a carreira no Jornalismo e no colunismo político?

Moacir Pereira: Se deseja atuar na imprensa e fazer jornalismo político, fuja da militância. Ou você segue a ética, a independência e busca sempre a imparcialidade e a isenção, ou estará negando sua profissão.

Honra-me proclamar que, no passado recente, era acusado com frequência de esquerdista, por divulgar de forma permanente atividades do PT, “a ética na política”. Não foram poucas as críticas buscando comprometer meu trabalho ou liminar minha isenção. Nos últimos anos, alvejam-me de direita, por defender com determinação os valores e princípios herdados de meus pais, de meus professores e de longa formação acadêmica e profissional. Se assumir todas as tribunas em defesa das liberdades de expressão e de imprensa, condenar a ditadura da toga, as violências contra o Estado de Direito, a supressão do devido processo legal, a inversão de valores e, sobretudo, a proteção dos símbolos nacionais, da vida, da família, da educação e dos direitos humanos, que estão presentes nas melhores Democracias Ocidentais, em todos os países árabes e no mundo asiático, então, eu sou de direita.

 

Palavra final: Não posso deixar de registrar a minha satisfação, alegria, honra e até certa emoção em participar desta entrevista. Entro no túnel do tempo e me identifico com o criador do portal, o colega Cleiton Selistre, com quem tive o privilégio de fraterna e produtiva convivência na Caldas J Júnior e, mais tarde, no grupo RBS, ele como competente Diretor de Jornalismo e eu como seu subordinado e colaborador. Acende-se a memória e alegra-se o coração.

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