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ALGUÉM PARA SEGURAR A NOSSA MÃO

ALGUÉM PARA SEGURAR A NOSSA MÃO
O palestino Jihad Al-Suwaiti acompanha a mãe pela janela

Dando um tempo no formato temático de Cine & Séries, mas garantindo a leitura semanal para quem segue a coluna. Toda sexta-feira,  uma nova “Crônica em Quarentena” e, claro, dicas de filmes e séries para amenizar esses tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Fiquem bem!

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ALGUÉM PARA SEGURAR A NOSSA MÃO

Desculpem se hoje o tom é sombrio, mas a alegria é uma impossibilidade no momento em que passamos de 100.000 mortos pela Covid-19 no país.

Toda semana leio que há pessoas organizando grandes festas particulares ou lotando bares, shoppings e praias. Qual parte do mantra dos infectologistas e epidemiologistas ” nossa única saída é evitarmos aglomerações” elas não entenderam?  Seria uma questão de livre arbítrio se colocassem apenas a saúde delas em risco, mas qualquer um medianamente informado sabe que o contágio é galopante e pode se dar através  até de quem é assintomático.

Sabemos que estão nos principais grupos de risco os idosos, os obesos e aqueles que têm doenças crônicas. Se levarmos em conta que 6% da população brasileira tem diabetes e 30% é hipertensa, a parcela dos mais vulneráveis é enorme. Já foi constatada também a morte de muitos que não fazem parte desses grupos, jovens e até crianças.

Para quem ainda não entendeu : não é uma simples “gripezinha”. Os sintomas vão muito além daquilo que sentimos nas gripes comuns. Quem sobrevive ao coronavírus pode ter seqüelas terríveis, como comprometimento permanente dos pulmões, rins e coração, além dos danos neurológicos. Sim, a Covid-19 pode afetar o cérebro.

Vale a pena correr esse risco para não abrir mão da balada de final de semana, para não deixar de ir ao shopping comprar uma bolsa nova ou ao salão para fazer as unhas ? Por que negar o óbvio, contrariar a ciência e ideologizar a doença? Já conversamos aqui sobre a morte não ter meio termo. De nada adiantará chorar depois pelos entes queridos infectados por falta de cuidado ou que morreram antes de conseguirem vaga nas UTIs superlotadas.

Mas sabem o que eu acho mais trágico nisso tudo? A pessoa morrer só, isolada da família, sem ninguém para segurar sua mão na hora partida. Aqui não nos permitirão subir na marquise do hospital para acompanhar a mãe internada até seu último momento de vida, como fez um jovem palestino em Beit Awwa, na Cisjordânia. Impedido de entrar no quarto por causa do contágio, ele escalava a parede da clínica todos os dias e olhava a mãe através da janela.

Pessoas que amamos podem morrer sozinhas ou nós mesmos podemos partir sem alguém querido por perto. Me vem à mente uma frase de Clarice Lispector: (…) faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana para apertar a minha, amém.

Alguém aqui não deseja a mesma coisa na hor

a fatal ? Então trate de retardá-la ao máximo. Cuide-se.

(Brígida De Poli)

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O QUE DISSERAM OS LEITORES SOBRE A CRÔNICA PAVLOV EXPLICA

De: Gilberto Motta

Nesses tempos transformadores e transformistas, se vivo fosse, o cachorro condicionaria o russo Pvlov e os dois tomariam um porre de vodka, conversando pelo Zoom em seus respectivos smartphones. Blém-blém-au-au…

De: Clara Amélia

Já li a gostosa crônica da sexta. Maravilha! Tema instigante para mostrar nosso lado pavloviano. Cada vez me identifico mais com os cães!! Pensei sobre os novos hábitos. Deixar o sapato do lado de fora da porta é um. Até encomendei uma sapateira para manter depois esse higiênico costume depois da quarentena.

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NETFLIX

SÉRIES

O Jornal – Croácia – 2016

O Jornal/Novine  não é recente, mas o assunto é super atual. A série mistura corrupção na política, lavagem de dinheiro, um magnata da construção civil, manipulação nos meios de comunicação, jornalistas à beira de um ataque de nervos. Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência porque esta série foi produzida na Croácia. Ela é interessante por ser de um país sobre o qual sabemos pouco e mais ainda para quem conhece os bastidores de um veículo de comunicação.  

A série começa quando o único jornal independente está para ser vendido a um magnata construtor.  Aí vemos o editor-chefe fazendo qualquer coisa para não perder o cargo, os repórteres se acomodando, outros sendo demitidos, a jovem jornalista galgando postos por se render a todas as exigências dos novos donos, o que inclui atacar os adversários do proprietário sem dó. Tudo girando em torno da disputa pela presidência da República, onde “abaixo do pescoço tudo é canela”. No mais, muito álcool, cigarros e relações extraconjugais.

A primeira temporada tem 12 episódios de 50 minutos. ( O trailer tem legenda em inglês, mas a série é legendada em português).

O Amor no espectro – Netflix

Uma sugestão da colaboradora, Dedé Ribeiro !Essa série documental produzida pela ABC em 2019, mostra relacionamentos amorosos de jovens no espectro do autismo, mostrando como o desafio é ainda maior para eles que para outras pessoas.

São sete casais dando seus primeiros passos em relacionamentos amorosos. Em cada episódio, é possível observar que eles recebem ajuda de suas famílias e de especialistas para encarar os namoros modernos. A Netflix já abordou o assunto na série original “Atypical”, que segue a vida de Sam e como o espectro autista influencia na sua relação com pessoas em diferentes âmbitos, inclusive o amoroso. (Dados Popeek)

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CINE BELAS ARTES

FILMES

Profissão: Repórter – direção: Michelangelo Antonioni – 1975

A Itália gerou alguns dos principais mestres da história do cinema. Entre eles está Michelangelo Antonioni, cuja obra influenciou outros grandes diretores como Stanley Kubrick e Wim Wenders.

Profissão:Repórter mostra a jornada de David Locke um jornalista em viagem ao Deserto do Saara para reportar sobre as guerrilhas locais. No hotel, ele conhece um homem muito parecido com ele que morre repentinamente e, aproveitando a oportunidade de mudar de vida, assume a identidade do falecido. Porém, já se passando por outra pessoa, ele descobre que o homem era um traficante de armas.

Jack Nicholson é o protagonista e vemos ainda Maria Schneider, três anos depois do polêmico Último Tango em Paris, de Bernardo Bertolucci.

Buena Vista Social Club direção: Wim Wenders – 1999

Além de ser um músico excepcional, admiro e agradeço a Ry Cooder por ter apresentado o Buena Vista ao mundo. Lembro da emoção que senti na matinê de um pequeno cinema paulista quando assisti ao Buena Vista Social Club, dirigido por Wim Wenders.

Em 1996, o guitarrista americano Ry Cooder pretendia gravar com músicos africanos e nomes importantes de Cuba. Como não deu certo e ele já estava na Ilha, resolveu procurar representantes da música tradicional cubana. Graças a isso vimos nas telas o grupo genial composto pelo pianista Ruben Gonzáles, pelo cantor de voz doce Ibrahim Ferrer, a musa Omara Portuondo, Compay Segundo e Elias Ochoa. Cooder convidou ninguém menos que o alemão Wim Wenders ( para quem escreveu a música de Paris, Texas) para dirigir o documentário. A vida dos velhos músicos mudou a partir dali. Do ostracismo embarcaram em turnês pelo mundo todo.

Quando vi o espetáculo do Buena Vista no teatro, infelizmente Compay Segundo e Ibrahim Ferrer já haviam “partido”. Mesmo assim foi emocionante ver e ouvir  maravilhosa música cubana, com Dona Omara brilhando no centro. Vinte anos depois, o filme de Wim Wenders continua vivo e genial. Vale a pena ver ou rever. (Curta o trailer)

 

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PRIME VÍDEO

É DO BRASIL

Soltos em Floripa – reality show – 1 temporada

Não tenho nada contra realities shows, mas esse não está aqui por ser bom, apenas pela curiosidade de ser gravado em Florianópolis. Ele vem no rastro dos já famosos BBB (Globo) e The Circle Brasil  e Brincando com fogo (Netflix). A fórmula é quase a mesma: oito pessoas numa casa de luxo de Jurerê Internacional, a praia dos chics, promovendo festas, com direito à “pegação” ( quase explícita, sem edredom ), drama, traições. Já rendeu até processo contra a produtora por mulheres que sentiram expostas demais numa festa. Pelo jeito essa lambança toda deu certo, pois a Amazon confirmou a 2ª temporada. Bem, a 1ª está disponível  para quem tiver curiosidade. Não sei porque lembrei de uma frase do Mário Quintana quando lhe perguntaram se ele ia fazer tal coisa: ” meu gosto pelo bizarro não vai a tanto”!

Somos tão jovens – direção: Antonio Carlos Fontoura – 2013

No início a ideia era mostrar a história de Renato Russo, líder da banda Legião Urbana, de forma documental. Depois, os produtores acharam melhor fazer um filme, tendo Thiago Mendonça no papel do vocalista . O próprio ator se preparou e interpretou as canções que Renato cantava. A carreira bem sucedida de Renato Russo se encerrou cedo demais: tinha 36 anos quando morreu pela Aids. Um plus do filme é ter músicas inéditas dele, encontradas num caderno e nunca gravadas.

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NOW/NET

FILMES/TELECINE

Jojo Rabbit – direção:Taika Waititi –  2019

A melhor estreia do Telecine nas últimas semanas  é essa comédia dramática que satiriza um assunto doloroso: o nazismo e a 2ª Guerra Mundial. Jojo é um garoto solitário que tem um amigo imaginário um tanto idiota: Adolph Hitler. O nome de destaque do elenco é Scarlett Johanson.

O longa  fez muito sucesso junto ao público e ainda recebeu seis indicações no Oscar 2020, incluindo Melhor Filme, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Atriz Coadjuvante para Scarlett .

 

A possessão de Mary – direção: Michael Goi – 2020

Ok, não é uma obra-prima do terror, longe disso !! Mas pode ser uma boa indicação para quem gosta do gênero, mas sem serras elétricas e brinquedos assassinos. Uma família sai num passeio de barco antiguíssimo que o pai arrematou num leilão. Ele quer melhorar a situação financeira, atendendo turistas. Só que ele, a mulher , as duas filhas ( a pequena chamada Mary, como o barco), o namoradinho da mais velha e um ajudante enfrentam coisas muito estranhas em pleno oceano.

Não vou dar spoilers, só digo que o elenco tem dois ótimos atores, Gary Oldman ( o pai) e Emily Mortimer ( a mãe ).

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BÔNUS

O legado do Cinema Brasileiro

Para amenizar a tristeza de ver a Cinemateca Brasileira agonizando, uma ótima notícia é o surgimento do canal Legacies of Brazilian Cinema no YouTube.

Estão disponíveis cerca de 400 longas e curtas entre ficção, documentários e entrevistas. E o melhor: catalogados de uma forma super fácil para encontrar o que se quiser ver.

Há títulos desde a década de 1910 até produções de 2020. Entre eles, diversos clássicos e cults do cinema brasileiro.

Para assistir ao filmes, basta acessar o canal Legacies of Brazilian Cinema. Ele é gratuito e livre de propagandas.

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THE END

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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