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IG do mel de melato de bracatinga transforma apicultor em empreendedor de respeito

Fotos: Antonio Carlos Mafalda

*Texto de Imara Stallbaum

A compra de um prédio centenário de 360 metros quadrados na área central de São Joaquim, para acomodar a loja Apiários Real São Joaquim SA, na Serra catarinense, de sua propriedade, é um dos resultados das escolhas acertadas que o apicultor e empresário Joel de Souza Rosa, 58 anos, tem feito na vida impulsionado pelos méis, em particular pelo de melato de bracatinga. A lista dos ganhos inclui ainda um sítio no interior de São Joaquim, onde implantou um bracatingal, e um entreposto, onde ocorre a classificação e a industrialização do seu próprio mel e o dos outros apicultores. Isso sem falar na capacidade de bancar as próprias despesas de viagens para participar de eventos apícolas em vários pontos do país e do mundo.

Em 2019, a vida do apicultor, que ainda pequeno ajudava o pai, pecuarista, a colher mel das seis caixas de abelhas da família, passou por uma virada de chave. Foi quando decidiu participar do processo de reivindicação da Indicação Geográfica desse mel ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Na forma de DO (Denominação de Origem), a IG, foi conquistada em 20 de julho de 2021 e de lá para cá novas possibilidades de negócios vêm surgindo nos vários segmentos da cadeia produtiva da atividade.

As reuniões promovidas com o Sebrae, a UFSC, a Epagri e o MAPA (Ministério da Agricultura e Pecuária), órgãos que assessoraram a Faasc (Federação das Associações de Apicultores e Meliponicultores de Santa Catarina), responsável pela solicitação da Indicação Geográfica em conjunto com o lado gaúcho, abriram a cabeça de Joel. E ele, que sempre preferiu trabalhar com os méis florais, por serem “muito bem aceitos pelo público”, se rendeu às qualidades do mel de melato de bracatinga, repassando-as à clientela como faz hoje.

Parasita do bem – Foi paixão a perder de vista por um mel que, embora tendo suas qualidades admiradas na Europa, era praticamente rejeitado pelos brasileiros. “O consumidor não comprava”, mas depois da IG, as informações positivas que passaram a ser divulgadas mudaram a cabeça de muita gente. Assim, “o povo começou a dar valor por ele ser diferenciado”, destaca Joel.

O diferencial está no fato de que o produto não vem do néctar das flores, mas da seiva da bracatinga (Mimosa scabrella benth), a mesma árvore que o dono do Apiários Real plantou em seu sítio em grandes quantidades. Trata-se de uma espécie nativa do Brasil com distribuição predominante na região Sul. Esse fenômeno ocorre apenas em áreas com altitudes acima de 700 metros no Planalto Sul Brasileiro.

Por ter folhas com sabor adocicado, as bracatingas jovens, entre dois a três anos de idade, precisam ser cercadas com proteção. Isso para evitar que o gado, particularmente os terneiros, de estatura mais baixa, que é criado livre, devore suas folhas no inverno, época de diminuição de alimento, destaca Joel de Souza Rosa.

A cada dois anos, nos anos pares, os bracatingais são infestados pelas cochonilhas, que se fixam no tronco das árvores e se alimentam da seiva, excretando um líquido adocicado, o melato. mais escuro e menos doce que a maioria dos seus similares comercializados. Este mesmo líquido, que fica depositado nas partes externas da planta, é utilizado como matéria-prima pelas abelhas da espécie Apis mellifera e, a partir dessa associação, é elaborado o mel de melato de bracatinga.

Bom para a saúde – Estudos de longa data com mel de melato de bracatinga demonstraram que ele possui características diferenciadas em relação aos méis florais e de melato de outras origens. Além da presença das enzimas das abelhas produtoras, contém enzimas derivadas das secreções das glândulas salivares e do intestino das cochonilhas, que promovem a coloração mais escura (âmbar), maiores teores de nitrogênio e minerais, entre outras características.

Mas seu grande diferencial são os efeitos benéficos à saúde devido à presença de compostos bioativos e potencial antioxidante. Destaque para a maior concentração dos aminoácidos livres serina, prolina, asparagina, ácido aspártico e ácido glutâmico. Esse mel apresenta ainda menores quantidades de frutose e glicose e não cristaliza como o mel floral. Além de ser usado por muita gente para adoçar café, ele também serve para fazer aperitivos, batidas, caipirinhas. Em Santa Catarina, 95% de sua produção é exportada.

Desde 2012 Santa Catarina já conquistou oito (8) IGs:

1) Vinho dos Vales da Uva Goethe (dezembro de 2012)
2) Banana da Região de Corupá (agosto de 2018)
3) Queijo Serrano Campos de Cima da Serra (março de 2020)
4) Vinhos de Altitude de Santa Catarina (junho de 2021)
5) Mel de Melato de Bracatinga (julho de 2021)
6) Maçã Fuji de São Joaquim (agosto 2021)
7) Erva Mate do Planalto Norte (maio de 2022)
8) Linguiça Blumenau (fevereiro 2024)

Denominação de Origem – A quinta Indicação Geográfica de Santa Catarina, a do mel de melato de bracatinga, na categoria Denominação de Origem (DO) foi uma conquista de 134 municípios do Planalto Sul Brasileiro: 107 são de Santa Catarina, 12 do Paraná e 15 do Rio Grande do Sul. A expressão DO baseia-se do pressuposto de que as características geográficas (naturais e humanas) dessa região determinam a singularidade e a qualidade do produto. Através da IG, o INPI e atesta que um produto só tem aquelas características porque é produzido de determinada forma, ou porque tem notoriedade na produção.

Outras sete (7) IGs à espera da aprovação do INPI:
– Cachaça de Luiz Alves
– Banana de Luiz Alves
– Camarão de Laguna
– Ostras de Floripa
– Milho Crioulo
– Alho Roxo
– Frescal de São Joaquim
– Aipim de Turfa

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