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Macroalga já é empreendimento do futuro em SC

Foto: Antônio Mafalda

Como se fosse uma caixinha de surpresas, Santa Catarina surpreende mais uma vez com novos empreendimentos ligados à maricultura, da mesma forma como aconteceu com a ostreicultura no início dos anos 1990. Assim, depois de se firmar como o maior produtor de ostras e mexilhões do país – atividade iniciada na década de 1990 – agora o estado começa a se destacar pela implantação de cultivos da macroalga Kappaphycus alvarezii, possuidora de forte apelo comercial em vários setores.

Foto: Antônio Mafalda

Morador do bucólico balneário do Ribeirão da Ilha, no sudoeste da Ilha de Santa Catarina, local de águas calmas, lindas paisagens naturais e construções típicas açorianas, o policial aposentado Ademir foi um dos precursores da produção de ostras e mariscos por quase 30 anos. Porém, para a surpresa de muitos, resolveu, mesmo após os 60 anos, dar uma guinada nos negócios, apostando em uma novidade: o cultivo da macroalga.

Tomou conhecimento da atividade por meio da Epagri, vinculada ao governo do estado. E foi um dos primeiros a acreditar que as macroalgas dariam certo, que tinham futuro e parece ter acertado no palpite. Hoje, está entre os maiores empresários do setor em Santa Catarina. Começou com um hectare e já dobrou a área plantada, tornando-se um dos únicos a já ter pulado para a fase de beneficiamento do produto.

Foto: Antônio Mafalda

Não foi um processo fácil. Por questões burocráticas, Ademir precisou esperar vários anos até iniciar a atividade, cuja cadeia produtiva receber apoio tanto da Epagri quanto do Senac e do município de Florianópolis. “Batalhamos e esperamos por quase 10 anos, sendo que há três anos foi aprovado o cultivo para comercialização e o sonho que eu tinha virou realidade”, lembra. No final de 2020, Ademir fundou a Algas Brasil, empresa que atua com o cultivo e também a extração do líquido da Kappaphycus alvarezii para fabricação de biofertilizantes.

Ao perceber todo o potencial da macroalga, decidiu espalhar a notícia, para atrair os colegas maricultores para a nova atividade. Mas para sua decepção, a ideia não foi bem recebida e houve muita resistência. “Ninguém quis saber das algas. Diziam que não ia dar em nada. As pessoas não acreditaram como eu. Chegaram a me chamar de maluco, por querer plantar mato no mar”, lembra, acrescentando:

“Até entendo a visão de alguns deles, porque não é fácil mesmo largar uma coisa que é certa, como era a ostra e o mexilhão, e passar para algo desconhecido. Eu podia me arriscar, pois tinha outra renda, que me dava mais segurança. Mas muita gente não tinha isso”, analisa.

Aos poucos, com os resultados positivos aparecendo, a atividade foi ganhando adeptos. E finalmente Ademir pôde realizar o sonho de ver outros maricultores produzindo algas em suas próprias fazendas marinhas. Hoje, a Algas Brasil compra a produção de 25 produtores, localizados em Florianópolis, Palhoça, Governador Celso Ramos, Porto Belo, Penha, São Francisco do Sul e Bombinhas.

O algicultor mantém uma relação de parceria com os maricultores e acredita que a tendência é o preço pago ao produtor melhorar. “O que a gente puder, vamos nos juntar e acertar o preço. O que quero é que os produtores estejam contentes. Temos que trabalhar em parceria, para ficar bom para todo mundo”, enfatiza.

Hoje trabalha com os dois filhos, além de quatro funcionários fixos e outros esporádicos, esses últimos para o serviço no tai tai, a amarração de mudas uma a uma em cordas, antes de irem para a água. Chama a atenção para o potencial de geração de emprego da algicultura: “Fui chamado para ministrar um curso no município de Governador Celso Ramos para ensinar mulheres, que são a maioria nesse serviço. Vai dar trabalho para muita gente, com certeza”, aponta.

Ademir também passou por momentos difíceis, como no final de 2022, quando ocorreu uma chuva torrencial na região, de cerca de 300 milímetros. “Foi uma coisa que eu nunca tinha visto antes, tanta chuva em tão pouco tempo. Perdi minha produção, morreu tudo. Sentei aqui na escada, de frente para o mar e deu vontade de chorar”, relembra.

Com o espírito empreendedor e visão de negócio, viu que era preciso ir além do cultivo das algas. E decidiu então extrair o líquido desses organismos aquáticos, matéria-prima para os biofertilizantes. Novamente vieram as dificuldades e desafios, que Ademir e os filhos, sócios do negócio, enfrentaram, em busca de soluções. A extração começou de forma rudimentar, com um liquidificador de cozinha e uma prensa. Os equipamentos foram aos poucos sendo aperfeiçoados de acordo com o aumento da demanda.

“Foi bem complicado. A gente investia dinheiro, não dava certo, tentava novamente. Foram dois, três anos quebrando a cabeça, até que chegamos num bom patamar. Mas à medida em que a produção for aumentando, vamos ter que redimensionar os equipamentos na mesma proporção”, afirma Gabriel Ademir dos Santos, sócio da empresa e filho de Ademir.

Foto: Antônio Mafalda

Agora o pai de Gabriel faz questão de colecionar histórias e números de sucesso. Com pouco menos de três anos de existência, a Algas Brasil apresenta um crescimento vigoroso. No início, a capacidade de processamento era de 100 quilos por dia. Hoje já chega a cinco toneladas. O extrato é vendido para 20 empresas de biofertilizantes de diversos estados do Brasil. Já a parte sólida (farelo) é comercializada para o setor de ração animal. “Ou seja, aproveitamos 100% da alga, não se perde nada, tudo pode ser comercializado”, vangloria-se.

Além dos biofertilizantes, o novo nicho em que Ademir atua traz várias possibilidades de negócios. Afinal, a macroalga também é empregada mundialmente com sucesso na produção de cosméticos e na gastronomia, com ênfase para a panificação industrial.

Texto: Viviane Araujo

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