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O lado nem tão oculto do paraíso turístico

Foto: Balneário Camboriú / Crédito: reprodução - DCM.

Quatro cidades catarinenses iniciam 2025 entre as cinco com o maior preço médio de venda de imóveis residenciais no Brasil, segundo o Índice FipeZap, da Fundação de Pesquisas Econômicas (Fipe). Balneário Camboriú lidera o ranking nacional desde abril de 2022, com um custo médio de R$ 13.911 por metro quadrado, seguida pela vizinha Itapema, que ocupa a segunda posição (R$ 13.721). Itajaí e Florianópolis também figuram no top 5. Apesar do destaque econômico, cidades como Balneário Camboriú, conhecida como a “Dubai brasileira”, e Florianópolis, com 35% das praias impróprias para banho segundo o IMA (Instituto do Meio Ambiente), enfrentam problemas críticos de saneamento básico. A construção civil, com seu poder financeiro, mantém forte influência sobre gestores públicos, enquanto os interesses da população parecem relegados ao esquecimento após as eleições.

 

Surto de doenças e falta de saneamento

Foto: Divulgação/PMF

A temporada de verão expõe a fragilidade da infraestrutura em Santa Catarina, com surtos de gastroenterite e praias impróprias, isso prejudica a saúde pública e a experiência turística. Enquanto em Balneário Camboriú alguns pontos são atacados por “um lamaçal de origem duvidosa”, na praia dos Ingleses, em Florianópolis, o cenário descrito por turistas e moradores era de calamidade: riachos com odor fétido desaguavam na praia, lixo amontoava-se nas ruas e dentro de condomínios, e as condições insalubres resultaram em um surto de gastroenterite.

De um grupo de cinco turistas hospedados no local ouvidos pela coluna, todos apresentaram sintomas, e pelo menos três membros de uma família que passava o Réveillon no mesmo local, necessitaram de atendimento hospitalar devido à gravidade dos casos.

 

Negligência estrutural

Em vez de enfrentar os problemas estruturais, como a expansão do sistema de saneamento básico e a coleta adequada de resíduos, o prefeito Topázio Neto buscou culpar vendedores ambulantes e até o queijo coalho pelas redes sociais. No entanto, o problema existe e precisa ser combatido com a verdade e evidências científicas, sendo provavelmente resultado da soma de muitos fatores, incluindo a falta de fiscalização, que também está relacionada à carência de estrutura e investimentos. Uma informação relevante apurada pela coluna reforça essa necessidade: nenhuma das pessoas que relataram os sintomas consumiu queijo coalho no período.

É evidente que o real vilão é a negligência histórica com a infraestrutura da cidade, que não atende à demanda crescente durante a alta temporada. Não é uma questão de culpar a gestão atual, pois a negligência é histórica, mas também não há como não apontar para o problema e alertar para a urgência de ações eficazes e concretas. As narrativas criadas funcionam bem para os likes nas redes sociais, mas não vão resolver o problema.

Balneário Camboriú, em Santa Catarina, é frequentemente promovido como um destino de luxo, com arranha-céus imponentes e praias badaladas. Porém, uma análise mais profunda revela graves problemas ambientais e sociais que contradizem essa imagem. Segundo o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA), cinco praias da cidade são impróprias para banho, resultado do despejo inadequado de esgoto e da falta de infraestrutura de saneamento. A contaminação por coliformes fecais é uma marca indesejável, evidenciando o mau gerenciamento ambiental de um dos destinos turísticos mais populares do Brasil.

A superlotação e o crescimento desordenado em Balneário Camboriú trouxeram consequências graves para a cidade. A contaminação das águas por coliformes fecais e a falta de balneabilidade são resultados diretos da ausência de fiscalização e de políticas ambientais eficazes. Enquanto isso, o turismo de massa continua a ser promovido sem considerar os impactos no ecossistema local. O município exemplifica os riscos de um progresso que ignora a sustentabilidade, deixando para trás sua principal atração: um mar limpo e convidativo. Manter a cidade no topo da valorização imobiliária é um contrassenso frente ao descaso ambiental e às águas poluídas. Investir em soluções estruturais e sustentáveis é o melhor caminho para evitar o colapso.

 

Um chamado à ação

Para evitar que situações como essa se repitam, é urgente que os gestores públicos priorizem investimentos estruturais, ampliem a capacidade do saneamento básico e fortaleçam a fiscalização sanitária. Além disso, campanhas educativas para turistas e moradores sobre práticas de higiene e descarte correto de resíduos podem contribuir para mitigar os problemas de saúde pública.

Enquanto essas ações não forem colocadas em prática, Florianópolis, em Balneário Camboriú, e tantas outras cidades e praias por SC, continuarão a enfrentar um verão marcado por riscos e insatisfação, comprometendo não apenas a saúde pública, mas também a imagem de um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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