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O que não lhe contaram sobre a paralisação da UFSC

Foto: UFSC / Crédito: Janine Alves.
Foto: UFSC / Crédito: Janine Alves.

Um título e dois erros grosseiros. Uma distorção no título de uma nota, posteriormente compartilhada como “informação” em posts, balançou as redes sociais essa semana. A princípio cabe ao jornalista/repórter checar os dados e levar a informação a sociedade, mas talvez por desconhecimento de como funciona a estrutura administrativa da UFSC, a informação chegou com distorções aos leitores. E como muitos se posicionam pelo título sem ler a matéria, a notícia foi comentada como a velha brincadeira do telefone sem fio, mas que de brincadeira não tem nada, pois a UFSC tem uma reputação a zelar e, a princípio, esses profissionais também.  O título afirmava que o Diretório Central dos Estudantes – DCE da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC determinava a suspensão das aulas e, para deixar a nota mais apimentada, o movimento seria em apoio a Décio Lima – PT, candidato do Governo do Estado, e a Lula – PT, candidato a Presidência da República. Verdade seja dita: o DCE na UFSC em assembleia deliberou um dia de paralisação na UFSC contra os cortes de verbas da educação (um movimento liderado pela União Nacional do Estudante – UNE e que aconteceu simultaneamente em várias cidades do Brasil), mas não tem o poder legal e constituído de deliberar, isso é uma função do Reitor, tanto que a UFSC lançou nota para esclarecer o fato. Infelizmente esse tipo de distorção tira o foco do problema real: o corte nas verbas que está comprometendo as atividades operacionais e a permanência dos alunos nas universidades públicas.

A educação deve ser uma bandeira de todos. Os alunos que se dispõem hoje a fazer uma paralisação para chamar a atenção da sociedade para o grave problema do corte de verbas só estão ali, porque no passado outros alunos fizeram a mesma coisa. O movimento em defesa da educação é legítimo, especialmente porque, para o Brasil continuar crescendo, as universidades e os institutos técnicos precisam continuar formando esses alunos. O Brasil é o nono país com mais falta de mão de obra qualificada em 2022, dentre os 40 países e territórios pesquisados em levantamento realizado pela ManpowerGroup, consultoria de recursos humanos, que ouviu 40 mil empregadores de todos os setores. Na onda da bipolarização política, bastou a distorção da informação para que mais uma vez a UFSC, os estudantes e a educação fossem deliberadamente atacados, deixando claro que a educação não é vista como prioridade por um dos lados. Quem ataca a educação, sem entender a diversidade do seu contexto, está atacando o futuro do país. Casos extremos e isolados podem ocorrer num movimento, mas não representam o todo. Infelizmente aqueles que criticaram a UFSC e seus alunos, não levantaram a voz contra os cortes de verbas e desmonte da educação pública no país.

Sobre os cortes. Segundo levantamento do Sou Ciência (Centro de Estudos Universidade, Sociedade e Ciência da Unifesp), em parceria com o Instituto Serrapilheira a verba de custeio nas universidades federais caiu mais de 45%. Em apenas 3 anos a verba caiu de 8,1 bilhões (em 2019) para R 4,4 bilhões (em 2022), segundo dados do Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP), em valores corrigidos pela inflação (IPCA). A UFSC em nota também alertou sobre corte de R$ 12,6 milhões – aplicado em junho de 2022 – que compromete a manutenção das atividades de ensino, pesquisa e extensão e que, se não for recomposto, levará a Universidade a encerrar o ano com um déficit que certamente será irreversível em 2023. Segundo dados da Secretaria de Planejamento e Orçamento (Seplan), o corte orçamentário foi aplicado sobre os recursos de custeio da Universidade foi cerca de 13% menor do que o orçamento de custeio de 2020, uma queda em valores absolutos de  132 milhões para R$ 119,4 milhões. Dessa rubrica, R$ 110,9 milhões (92,9%) já foram aplicados até outubro, deixando um saldo de R$ 8,5 milhões.

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