Portal Making Of

A Bond Girl e os velhinhos de amanhã

A Bond Girl e os velhinhos de amanhã
Diana Rigg nos anos 60 e como a Rainha dos Espinhos em 2013.

Dando um tempo no formato temático de Cine & Séries, mas garantindo a leitura semanal para quem segue a coluna. Toda sexta-feira,  uma nova “Crônica em Quarentena” e, claro, dicas de filmes e séries para amenizar esses tempos difíceis de pandemia e isolamento social. Fiquem bem!

_________________________________________________________________________

 

A Bond Girl e os velhinhos de amanhã

Tudo começou quando meu “velho” amigo e colega dos tempos de RBS TV e, agora, de Portal Making Of, Roberto Azevedo, me instigou a escrever sobre a atriz inglesa Diana Rigg, morta pelo câncer há duas semanas, aos 82 anos. Para as novas gerações, ela é lembrada pelo papel de Ollena Tyrel, A Rainha dos Espinhos, na série Game of Thrones.

Mas para alguém da minha geração, e metida a ser um arquivo ambulante do cinema clássico, foi imperdoável nunca ter reconhecido naquele rosto marcado pelo tempo a única Bond Girl a casar com o charmoso agente, em “007 -A serviço de sua Majestade”, de 1969. Entre 1961 e 1969, Diana tinha feito a série Os Vingadores (The Avengers), muito popular até hoje.

Algum leitor pode estar se perguntando: ” afinal por que a colunista está falando de Diana Rigg nas Crônicas em Quarentena ?”. Explico: essa bela atriz beirava os 80 anos quando integrou o elenco de Game of Thrones e sabemos que é preciso fôlego para gravar uma série. Ela, como tantos outros velhos ( não tenho medo da palavra, mas podem trocar por “idosos”) estava ativa, lúcida e cheia de vida. Não era apenas ” alguém que ia morrer mesmo”, como disse um conhecido jornalista, ou ” cada um coloque a avó e o avô num canto da casa”, como aconselhou o primeiro mandatário por achar que o Estado não tem obrigação com a população idosa.

Outro “jornalista” brasileiro defendeu a ideia do vice-governador do Texas, Dan Patrick, de que os mais velhos deviam se sacrificar pelos mais jovens para não quebrar a economia. Isso me lembrou da tradição dos inuítes, população indígena do Alasca e Groenlândia, em que os idosos cometiam suicídio para não se tornarem um peso para a comunidade.

Foram tantos disparates contra os velhos que não dá para citar todos. E nem convém. Ainda ecoa na minha lembrança a carta de despedida do ator Flávio Migliaccio, que tirou a própria vida, aos 85 anos, logo no início da pandemia:“Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é o caos como tudo aqui “.  

A antropóloga e escritora Mirian Goldenberg, professora titular do Departamento de Antropologia Cultural do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) explicou que a pandemia acelerou a “velhofobia” que já era forte no Brasil. Acrescento : ser “velhofóbico” é uma grande tolice, pois esses serão os  velhinhos  de amanhã.

È doloroso alguém se sentir descartável porque o tempo passou. O que dizer para quem fala “ah, mas já estava velho mesmo”? Que eles olhem para alguém que amam muito, digamos, sua mãe ( ou seu pai, avô, avó, um amigo…). Depois digam se acham que está na hora dela partir para que a sua vida seja mais fácil. Doeu? A resposta vale também para a mãe dos outros. No fim, tudo se resume à capacidade de empatia.

(Brígida De Poli)

_________________________________________________________________________

 

DICAS DE FILMES E SÉRIES

Os vingadores – série – Eurochannel- 1961

Quer conhecer o trabalho de Diana Rigg quando jovem e ainda se divertir? A série Os Vingadores está disponível no Eurochannel  (Now/Net), em versão HD, remasterizada. Sinopse: John Steed (Patrick Macnee) é um excêntrico espião britânico que embarca em uma perigosa missão ao lado de David Keel (Ian Hendry) a fim de vingar o assassinato da esposa de Keel. Tempos depois, chegou a vez de Steed se unir a parceiras revolucionárias e muito à frente de seu tempo para desvendar intrigantes casos.

 

Doces Magnólias –  1 temporada – Netflix

Esta série foi indicada pela Jaqueline de Oliveira, minha querida podóloga, que também curte as histórias seriadas.

Inspirada na saga de livros escrita por Sherryl Wood, a trama mostra como as amigas Maddie, Dana Sue e Helen enfrentam romances, problemas com a família e vidas profissionais conturbadas enquanto mantém seus laços de amizade. A série é protagonizada por JoAnna Garcia Swisher, Brooke Elliott e Heather Headley e foi renovada para uma segunda temporada.

_________________________________________________________________________

 

Especial

Há filmes que dão um nó na cabeça do espectador – nada é o que parece ser – e seria bom virem com manual de instrução. A Netflix raramente inclui filmes desse tipo, mas recentemente disponibilizou o filme do Charlie Kaufman, que já havia dirigido Sinèdoque, Quero ser John Malkovich e o meu favorito, Brilho eterno de uma mente sem lembrança ( ganhador do Oscar de Melhor Roteiro em 2005).

Em Estou pensando em acabar com tudo , Kaufman oferece mais um de seus  roteiros que “criam teses sobre a expansão do consciente humano”.  

Pedi ao jornalista e escritor, Roberto Cattani, que me indicou o filme, que ele escrevesse sobre a nova obra do diretor.                               

Estou pensando em acabar com tudo ( 2020)

Muitas vezes, as definições dos serviços de streaming não ajudam muito para entender como é o tal filme: ‘vigoroso’, ‘comovente’, ‘romântico’, ‘empolgante’, qualquer coisa… Mas no caso de Estou pensando em acabar com tudo, uma definição que acompanha o filme é perfeita: ‘cerebral’. Só faltou acrescentar outras características: ‘claustrofóbico’ e ‘desconexo’. Não deveria ser surpresa para quem já assistiu outro filme de Charlie Kaufman: aquele Sinédoque, Nova Iorque, que era outro exercício de encerrar o mundo num ambiente fechado (e nesse caso, fictício), sem saída possível. Aliás, parece que Kaufman sentiu tanto a falta de Philip Seymour Hoffman (protagonista magnífico de Sinédoque) para o novo personagem que foi buscar um meio sósia dele, só que insosso e estranhamente bruto, ainda que disfarçando com a delicadeza.

Nesse Estou pensando em acabar com tudo, de 2020, a pandemia e a quarentena devem ter influenciado a paranóia de confinamento desse típico intelectual novaiorquino. A cada vez que o filme se arrasta e nos arrasta para um novo ambiente fechado, fechadíssimo — o carro debaixo da tempestade de neve, a casa dos sogros, de novo o carro com mais neve, a antiga faculdade de Jesse, vazia — parece que a coitada da moça nunca vai conseguir sair de lá, e nós com ela. Teria sido uma descrição magistral da claustrofobia, de fazer inveja ao Hitchcock, se aos poucos o filme não desandasse em inserções surreais e flashbacks, que não parecem acrescentar nada à história, e até sobrepõem-se à trama, até ocupar todo o espaço no final, sem que o espectador consiga interessar-se minimamente —, se já não dormiu ou não foi buscar um pouco de ar na varanda. Difícil entender como o Rotten Tomatoes foi dar uma aprovação de 83% para essa ordalia para o espectador —, mas pelo menos o coloca no gênero Horror. (Roberto Cattani)

_________________________________________________________________________

 

EXTRAS

As mulheres no Festival de Cinema Veneza 2020

As mulheres brilharam no primeiro festival presencial do ano ( os outros foram cancelados por causa da pandemia).  Cate Blachet (foto) presidiu o júri e a diretora chinesa, Chloe Zhao, levou o Leão de Ouro pelo filme Nomadland.  Forte candidato ao Oscar, o filme tem a premiadíssima Frances McDormond  no elenco e mostra uma comunidade de moradores de vans que atravessa o oeste dos Estados Unidos.

 

A voz humana de Pedro Almodóvar

Quem também brilhou em Veneza foi o meu querido Almodóvar e sua “musa”, Tilda Swinton, no curta  filmado em plena pandemia, A Voz Humana. É a primeira vez que ele filma em inglês. Apesar de ter recebido vários convites de Hollywood, Almodóvar nunca quis abandonar a língua espanhola nas suas películas. Baseado na obra de Jean Cocteau, A Voz Humana  aborda a complexidade da comunicação entre as pessoas.

O cartaz é simplesmente lindo!Tomara que possamos conferir logo.

 

Lembrete: domingo (20) é dia de entrega do Emmy

Quem curte assistir o Oscar da TV deve ficar ligado que a 72ª edição vai ser online, mas mesmo assim contará com estrelas como Meryl Streep e Michael Douglas.  Entre as séries indicadas estão algumas de que gosto muito, como A Maravilhosa. Mrs.Masel e Succession. A série Ozark, da Netflix, também está no páreo, mas o grande campeão de indicações é Watchmen, da HBO.Estarei a postos para torcer pelos meus favoritos.

A transmissão será pelo canal TNT e pela internet.

_________________________________________________________________________

 

THE END

(*) Fotos reprodução/divulgação

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais:

Um céu de divas

Dizem que saudosismo é sinal de velhice e não devemos cultivá-lo. Mas, ter saudades de uma época, que às vezes nem conhecemos, é permitido? Espero

Para a criançada ler nas férias

Os pequenos estão de férias e nem todo dia é dia de praia ? Incentivar a leitura é a melhor estratégia para tirá-las da frente

“O homem do Norte” e outras decepções

A experiência demonstra que expectativa exagerada quase sempre acaba em  frustração. Esperei meses para ver “O homem do Norte”,  novo filme de Robert Eggers, diretor

O que tem para ver em janeiro

Depois de um fim de ano com lançamentos arrasa-quarteirões, como “Pinóquio”, de Guillermo Del Toro, e “ Avatar 2”, de James Cameron, janeiro começa meio

Inútil futurologia

Inútil futurologia                                           Infeliz é o espírito ansioso pelo futuro [Sêneca] Nós, humanos, remoemos ou sentimos saudades do passado; negligenciamos o presente e ansiamos pelo

‘Avatar 2’, ame-o ou odeie-o

‘Avatar2’, ame-o ou odeie-o Queridos leitores, temos uma nova polarização em andamento. E não é na política! O primeiro “Avatar”, de James Cameron, foi considerado

Aos queridos leitores

Com meu poema de Ano Novo favorito, desejo que, em 2023, se realize tudo aquilo no qual depositamos nossa esperança.                                           Brígida De Poli ESPERANÇA