Portal Making Of

‘Avatar 2’, ame-o ou odeie-o

Reprodução/Divulgação

‘Avatar2’, ame-o ou odeie-o

Queridos leitores, temos uma nova polarização em andamento. E não é na política! O primeiro “Avatar”, de James Cameron, foi considerado injustiçado pela Academia em 2010, quando deu o Oscar de Melhor Filme para ‘Guerra ao Terror’, dirigido pela ex-mulher do cineasta, Kathlyn Bigelow. Cameron levou treze anos para lançar a sequência e, após duas semanas em cartaz, ‘Avatar-O caminho das águas’ tornou-se a maior bilheteria do ano. O diretor explicou que a demora deu-se por ele ter feito várias explorações submarinas, esperado o aperfeiçoamento da tecnologia e avaliado quatro roteiros até chegar à história final.

Apesar dos elogios da crítica, a expressão “gosto é gosto” – que serve para tudo nessa vida – cabe perfeitamente quando o assunto é cinema. Nesta edição, temos dois artigos sobre ‘Avatar2’, exclusivos para a coluna, com visões bem diferentes.

E você, leitor, já assistiu? Concorda com quem? Mande sua opinião.

__________________________

 

DETESTEI!

Roberto Cattani – escritor e jornalista

Sem rodeios, o segundo ‘Avatar, O Caminho das Água’ é um pot-pourri de chavões, indigno de James Cameron. Parece até que ele vendeu a franquia de Avatar para um diretor de filmes de violência para streaming, e sua obra é quase irreconhecível. Se terá mais episódios da série, começa mal.

As citações cinematográficas, culturais e antropológicas são inúmeras, às vezes francamente grotescas, e não compensam o fracasso do produto desses anos todos.

Os Na’vi da água (sei lá como chamam) são tatuados como Maori, agem como polinésios, e até fazem uma imitação pobre da Haka dos All Black.

A Sigourney Weaver novinha parece uma Wednesday sub-aquática, sem a graça do Tim Burton. Na cena final, quando ela salva mãe e irmã, evoca uma Sininho de Walt Disney, ou as fadinhas fake de Conan Doyle.

O bicho gigante protagonista é um híbrido pesadão de Moby Dick com os Leviatãs dos mapas antigos representando os monstros marinhos. O olhar do Leviatã é igualzinho ao olhar do cachalote na cena dos náufragos do Pequod, quando o arpoeiro desiste de atingir o bicho apocalíptico que os persegue, no maravilhoso No Coração do Mar.

O ataques dos peixes-voadores ao Pequod turbinado high tech é uma paródia dos helicópteros de Apocalipse Now, só falta a Cavalgada das Valquírias.

Falando de paródia, Cameron faz até paródia de si mesmo com o catástrofe do Titanic, com os personagens escorregando (mas sobrevivendo) nos cascos inclinados.

A família Na’vi de Jake é um núcleo pequeno-burguês, bastante risível tratando-se de alienígenas azuis atléticos de 3 metros, em suposta harmonia com a natureza. Cameron parece acreditar que o dia que encontraremos seres de outros mundos, serão lindas famílias com quatro crianças, solidamente patriarcais. Aliás, no panorama cinematográfico atual, Avatar 2 chega a ser até original, por falta de uma heroína protagonista e o sólido protagonismo masculino/guerreiro.

A cena da esposa do Jake (nem lembro como ela se chama no filme, vamos dizer Zoë Saldanha) fazendo a cerimônia de cura parece repetida tal qual de À Espera de um Milagre (The Green Mile), com ela chupando e depois expulsando soprando as entidades nocivas.

Como todos as produções atuais, Avatar 2 é tão prude, tão recatado, tão auto-censurado para o filme poder ser acessível a toas as idades, que nem o óbvio beijo entre adolescentes é liberado. Não aguento mais o pudor hipócrita dessa época, entre pornografia ginecológica macro e recato para os menores, como se eles não tivessem acesso às piores sacanagens.

Se o primeiro pecava em algo, era com certeza no maniqueísmo bastante exagerado entre humanos na grande maioria maus e ávidos, e Na’vi puros e íntegros. Mas agora, nesse segundo Avatar, a exageração é francamente patética, sem conseguir ser irônica. Falta toda a atmosfera catártica que dava ao primeiro um toque profético.

Todos os encantos mágicos/poéticos do primeiro, a árvore da vida, as águas-vivas no ar, as criaturas fosforescentes, a floresta como entidade viva única tipo Gea, no segundo são só repetidas mergulhadas em ambiente líquido, sem inovar, com uma fórmula de sucesso já gasta.

Mas, além desses ‘pequenos’ detalhes, o aspecto grotesco de fundo de Avatar 2 é o fato de ser um verdadeiro panfleto virulento do Cameron contra a tecnologia (para fins bélicos, capitalistas e anti-ecológicos), mas… rodado com o máximo de tecnologia (cinematográfica).

Reprodução/Divulgação

__________________________ 

 

ADOREI!

Anselmo Prada – Jornalista e Produtor /Gestor de Conteúdo

Depois do primeiro ‘Avatar’, em 2009, que arrebatou o mundo e abriu caminhos para as gerações de avatares de toda espécie em nosso universo digital [afinal, quem não topou com a experiência de criar seu próprio avatar como identidade, inclusive mais recentemente no metaverso?] o novo filme de James Cameron, ‘Avatar 2: O Caminho das águas’, nos envia para um mundo ainda mais alucinante e próximo de tantas questões que  estamos vivendo e discutindo, principalmente sobre a sobrevivência da Terra e a incompreensível raça humana, que não sabe viver sem guerra.

Começando pelo elenco, o longa acerta em cheio ao trazer de volta atores do primeiro ‘Avatar’ e criando novos personagens, numa consistente recuperação da história e da evolução dos Na’vi, o povo azul de Pandora, os humanóides.

Após formar uma família, nos moldes do que pode ser uma família hoje, construída fora dos padrões estabelecidos, Jake Sully e Neytiri fazem o possível para ficarem todos juntos. Contudo, mais uma vez, os humanos decidem que a luta não acabou. Enquanto a família, integrada por avatares e não avatares, porque um garoto humano está com eles, decide explorar as regiões de Pandora, planeta onde vivem, ressurge a ameaça vinda da Terra e recomeça a batalha. É importante ficar atento ao uso do metaverso para entender as conexões entre os dois filmes e as estratégias usadas no novo conflito. Nesse pano de fundo, o filme vai se desenvolvendo entre aventura, espetaculares efeitos e um mundo  imaginário que alterna momentos de combates e vida em paz e feliz com a natureza, novas descobertas e adaptações, afinal a família de Jake está em fuga e tudo pode acontecer  onde vivem diferentes povos avatares, diversos na forma de sobrevivência, estética e espiritualidade. Não por acaso nesta continuação de ‘Avatar’, o roteiro do filme deixa a floresta para um mergulho na superfície e profundezas do mar, criando novos monstros, novos seres cheios de luz e riqueza marinha que fascinam e nos mostram, que independente de qual planeta for, sempre haverá a natureza e ela interliga tudo, que em momentos a dominamos e em outros somos sempre dominados se não vivermos em paz com ela.

O que chama a atenção, seja em 2D ou em 3D – assisti as duas versões para satisfazer a curiosidade- é como os personagens ganham ainda mais vida e perfeição com o extraordinário trabalho de caracterização. Você consegue sentir as emoções dos personagens pelos seus  movimentos, principalmente dos olhos e dos olhares, sejam dos avatares, dos humanos ou dos animais. O filme é intercalado por sequências de grandes batalhas e efeitos especiais que mostram como a tecnologia pode criar cada vez mais o que o diretor imaginar. Mas, logo vem longos momentos de harmonia, de beleza, de contemplação e reflexões sobre os temas que movem vidas, como relacionamentos,  criação de filhos, mulheres no comando, o quanto o suposto feio pode ser belo, das diferenças, da pluralidade das ideias, do respeito e das mudanças dos costumes e tradições, e acima de tudo a fragilidade da vida. Há momentos de tensão, suspense e outros de calmaria e relaxamento, dando  aquela folga na respiração e a agonia, quando você esquece que tem uma luta em jogo. Aliás, uma das poucas coisas que não gostei no filme é a demora em revelar a principal motivação dos humanos para o novo ataque aos Na’vi e a ocupação de Pandora. Mas, por haver uma pausa na trama da guerra, o público aproveita e mergulha na magia e no fundo do mar onde deseja estar, existir e tocar.

Assim como na ficção, aqui na vida real muita coisa mudou entre o primeiro e o segundo filme, deixando o velho modo de pensar para trás, trazendo ainda com mais força questões que estão transformando o mundo, embora esbarre na antiga questão do conflito pela dominação.

Não escrevo aqui como alguém especializado em crítica de cinema, mas como alguém que gosta de filmes. Não curto comparações, vejo cada filme como uma obra e ponto. As três horas de ‘Avatar 2’ passam de forma tão alucinante e cheias de beleza e fantasia, que sair de Pandora e voltar à Terra torna-se a mais triste realidade do filme. Que vontade de voltar ao delírio!

Reprodução/Divulgação

__________________________

 

PREPARE-SE PARA AS PREMIAÇÕES

Está chegando a época das premiações aos melhores do ano na TV e na tela grande. Prepara-se para torcer pelos favoritos.

__________________________

 

Onde ver os candidatos ao Oscar de Filme Internacional

Reprodução/Divulgação

Para mim, a categoria de Melhor Filme Internacional é uma das mais interessantes do Oscar porque traz filmes de várias nacionalidades, diversificando forma e visões. ‘ Marte Um’, escolhido pelo Brasil, infelizmente, ficou de fora da pré-seleção. Esta é uma categoria que, normalmente, já chega com um super favorito, mas dessa vez não é o caso. A lista traz quinze títulos, mas até agora não há nenhum franco favorito.  Os cinco finalistas ao Oscar de Melhor Filme Internacional serão conhecidos no dia em 24 de janeiro. A 95ª cerimônia de premiação está marcada para 12 de março, em Los Angeles. Alguns já podem ser vistos em streaming.

Argentina, 1985, representante da Argentina, Nada de novo no front , da Alemanha e Bardo , falsa Crônica de algumas verdades, do México, estão disponíveis na Netflix.

 

Onde ver os candidatos ao Globo de Ouro

Reprodução/Divulgação

O Globo de Ouro, que já foi uma das premiações mais importantes do cinema e da televisão, caiu em desgraça nos últimos anos, depois de ser alvo de denúncias de irregularidades e racismo. Mas, o público que gosta de filmes e séries continua curioso pelos resultados que sairão em 10 de janeiro de 2023.

Todas as séries estão nos respectivos canais. Alguns filmes, que disputam em várias categorias, também estão disponíveis em streaming. Saiba onde vê-los.

Elvis (HBO/HBO Max) , Pinóquio (Netflix), Top Gun-Maverick (Telecine), RRR (Netflix), O enfermeiro da noite (Netflix), Blonde (Netflix)

__________________________

 

Destaque:

Glass Onion: Um Mistério Knives Out”

A sequência do bem sucedido “Entre facas e segredos” acaba de chegar  à Netflix, trazendo de volta o detetive Benoit Blanc, vivido por Daniel Craig. O ator inglê, que recém se despediu de James Bond, parece ter trocado uma franquia por outra, tal o sucesso das histórias a la Agatha Christie, com humor, e da produção esmerada. Dessa vez, o cenário é uma ilha grega e o elenco traz reforços como o sempre ótimo Edward Norton e Kate Hudson. Bom entretenimento.  (Veja o trailer)

__________________________

THE END

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais: