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Uma ‘pérola’ do cinema chileno, filmes e séries da semana e o som da tela

Paulina Urrutia e Augusto Góngora, memória e amor infinitos vão ao Oscar (Foto: Divulgação)

Ver filmes em casa pode não ser o ideal, afinal todos concordamos que estar em uma sala de cinema é uma experiência muito mais emocionante.  Mas, tenho que dar crédito às plataformas de vídeo: onde seria possível assistir a um documentário do Chile, um filme romeno, um curta de Twain, um suspense indiano, além de produções de outras nacionalidades, não fosse o streaming? Raras são as salas que trazem uma programação dita ‘ alternativa’. A maioria oferece apenas os blockbusters americanos. O streaming é o ideal? Não, mas ainda bem que existe.

 

A memória infinita

Sei que nem todo mundo curte documentários, mas “A memória infinita” pode ser visto como um filme ficcional, embora sua força esteja justamente na veracidade. Se você não pretende ver ou não liga para spoiler, eu conto aqui sobre o candidato chileno ao Oscar de Melhor Documentário. Durante 1h40, vemos em cena o casal Augusto Góngora e Paulina Urrutia, ele, jornalista; ela atriz. São casados há vinte anos quando ele é diagnosticado com Alzheimer. No início do filme, Góngora ainda tem certa lucidez e é lindo ver como Paulina o relembra de quem são um para o outro. O maior medo deles é a hora em que Augusto esquecerá quem ela é. Acompanhamos aquela intimidade amorosa sem intromissão de câmeras e enquadramentos mirabolantes. Boa parte foi filmada com câmera no tripé. São apenas os dois vivendo na casa que construíram juntos. Há um breve momento em que vemos também uma das filhas.

Se fosse uma ficção norte-americana haveria violinos ao fundo e, talvez, uma cura milagrosa para a demência progressiva de Góngora. Mas, é a vida real, e a diretora Maite Alberti não é invasiva. Tudo que ela precisa para construir seu filme já está ali. O destino se encarregou da ironia da história: Augusto Góngora foi um jornalista combativo contra a terrível ditadura militar no Chile. O vemos, através de imagens de arquivo dos anos 70, clamando para não deixarem cair no esquecimento, os crimes cometidos pelos militares. “Sem memória não há identidade”, diz ele na televisão, durante a luta pela manutenção da democracia. E, agora, Augusto está perdendo suas memórias…

Há cenas tão tocantes que é impossível não chorar, principalmente, para quem tem um relacionamento amoroso longevo: quando Góngora esquece quem é Paulina, sua esposa e grande amor, ela sofre muito, mesmo sabendo que ele não tem domínio sobre suas lembranças ou outra sequência quando ele – já no pico da senilidade – chora porque achar que vai perder seus livros que tanto ama.

Não assisti aos outros candidatos ao Oscar de Melhor Documentário, mas vou torcer muito na noite de entrega das estatuetas, por essa pérola de melancolia e amor infinito.

A diretora chilena Maite Alberti concorre nessa categoria pela segunda vez em três anos. Dale, Maite!

Veja o trailer:

 

 

 

Uma carta de amor

Nǎi Nai & Wài Pó é outro documentário candidato ao Oscar, mas em formato de curta-metragem. O cineasta taiwanês-americano, Sean Wang, retrata em 17 minutos as interações diárias de suas avós materna e paterna. Elas vivem juntas e são melhores amigas, dançam, se alongam, parecem muito felizes na companhia uma da outra. Essa carta de amor do neto estreou no Festival de Cinema South by Southwest de 2023, onde foi aclamada pela crítica e recebeu o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio do Público.

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Outros destaques nas plataformas

SÉRIES

Tokyo Vice – 2ª temporada – Star+

A melhor notícia da semana sobre séries quem recebe são os fãs – como eu – da chegada da segunda temporada de ‘ Tokyo Vice’. A trama acompanha o jovem jornalista americano, Jake Adelstein, trabalhando em um jornal do Japão. Juntamente com o detetive local, Hiroto Katagiri, ele investiga a Yakusa, a perigosa máfia japonesa. Muito do sucesso da série se deve à escolha dos atores Ansel Elgort ( Amor, Sublime amor /Estava escrito nas estrelas) e Ken Watanabe ( O último samurai/ Memórias de uma gueixa).

 

Mestres do ar – 09 episódios – Apple TV

Baseada no livro homônimo de Donald L.Miller, a série traz na produção uma dupla de luxo: Steven Spielberg e Tom Hanks. A trama segue os bastidores do 100° esquadrão da Aeronáutica Americana que tem a missão de bombardear as forças nazistas durante a Segunda Guerra. O nome de destaque no elenco é o de Austin Butler, indicado ao Oscar de Melhor Ator por sua interpretação de Elvis no cinema.

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FILMES

Indecência (Mo) – direção: Radu Dragomir – 2019 – Prime Vídeo

O novo cinema romeno ganhou maior visibilidade quando ‘ Quatro meses, três semanas e dois dias”, de Cristian Mungiu, ganhou a Palma de Ouro de Cannes, em 2009. De lá pra cá, muitas produções dessa nacionalidade caíram no gosto do público que prefere filmes fora da bolha hollywoodiana. Esse ‘ Indecência’ (Mo) chegou ao streaming para alegria dessa parcela. A trama foca em duas alunas, uma delas chamada Mo, que são pegas tentando colar em uma prova. O professor confisca o celular de Mo e, quando ela e sua melhor amiga, encontram-se com ele para pegar o aparelho de volta, acabam convidadas para jantar na casa dele. As garotas aceitam, na esperança de poderem fazer o exame e serem aprovadas. Aí, enquanto o professor prepara o jantar e oferece filmes e música para as jovens, vai-se criando um clima de sedução entre ele e Mo. Vou parar aqui para não dar spoiler, mas é bom alertar que – embora seja classificado no gênero suspense – o filme traz outras questões, muita conversa e pouca ação. Ele pode ser lido como um debate sobre os abusos comuns na Romênia, onde a vítima costuma ser culpabilizada ou, analisado de forma mais ampla, levando em conta sentimentos e traumas. Alerta: se você é daqueles que detesta finais abertos, desista.

 

Indiferença (Bhakshak) – direção : Pulkit – 2024 – Netflix

A indiana é uma nacionalidade que já se firmou há muito tempo na produção de filmes e séries. Esse drama/suspense, em língua híndi, mostra a história de uma jornalista determinada a desvendar uma rede de tráfico de meninas. A protagonista é Bhumi Pednekar, atriz muito popular em Bollywood. Tráfico humano é um tema impactante e o cinema indiano aposta alto nesse título.

 

Dentro (Inside) – direção- Vasilis Katsoupis – 2023 – Prime Vídeo

Willem Dafoe é um ator muito interessante, com formação no teatro. Com seu rosto estranho e de linhas fortes, ele normalmente interpreta personagens excêntricos. Já foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante três vezes e uma como Melhor Ator, mas nunca ganhou.  Em ‘Dentro’ ele é Nemo, um ladrão de obras de arte que fica preso em uma cobertura tecnológica, em Nova York, quando o roubo não dá certo. Trancado nesse lugar, cercado de obras de artes valiosíssimas, ele precisará achar um jeito de sobreviver.

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ESTREIA NO CINEMA

A cor púrpura – direção: Blitz Bazawule – 2024

Chega às salas de exibição a esperada  versão musical do filme dirigido por Steven Spielberg, em 1986, sucesso de público mas, embora tenha sido indicado em 11 categorias do Oscar, saiu da cerimônia de mãos abanando. ‘ A cor púrpura’ ganhou também um musical na Broadway , com direito a uma versão brasileira.

Baseada no romance homônimo de Alice Walker, a história é contada a partir das cartas escritas a Deus pela jovem Celie, uma mulher afro-americana que vive no sul dos Estados Unidos no começo do século XX. Ela tenta superar os traumas deixados pelos abusos do pai e do marido ao longo dos tempos. Celie, finalmente, encontra apoio e força em um grupo de mulheres unidas em uma irmandade.

O papel de Celie, que coube à Woopy Goldberg na versão original, agora ficou com Fantasia Barrino, vencedora da 3ª edição do ‘ American Idol’. Já Sofia, o papel de Oprah Winfrey ( mentora e produtora do projeto) desta vez coube a pouco conhecida no Brasil, Danielle Brooks, que tem levado todos os prêmios por essa interpretação.

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O SOM DA TELA

A terceira trilha de abertura de uma série escolhida pela coluna é de ‘ C.B.Strike’, produção da BBC  baseada na obra de J.K.Rowling, autora também do icônico “Harry Potter”. O C.B. Strike do título é Cormoran Strike, um investigador melancólico que perdeu uma perna na guerra do Afeganistão, interpretado por um ator que sempre me comove, Tom Burke. A parceria dele com a jovem assistente Robin – e a dedicação dela a ele – traz um delicado clima de romance para a investigação.

A música é  ‘I walk beside you’ ,  de Adrian Johnston e Crispin Letts , interpretada  por Beth Rowley.

 

 Eu ando ao seu lado (tradução da canção  I walk beside you)

“Você e eu

Eu e você

De alguma forma, nós sobrevivemos

 

Posso ter ido embora

Posso estar longe

Mas eu ando ao seu lado

Cada passo do caminho

 

Quando você for usado

machucado,

roxo de pancadas

Não pense nisso

Nunca duvide disso

 

Vou andar ao seu lado”

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*Fotos: Divulgação/Reprodução

 

THE END

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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