Quem acompanha a coluna sabe da minha admiração pelo cinema argentino, talvez o mais bem sucedido da América Latina, em número de produções e de qualidade. Muito do desenvolvimento da atividade deu-se por conta da criação, em 1957, do Incaa- Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais, órgão fomentador regulamentado em 1968. De lá para cá, o país tem participado com sucesso de festivais pelo mundo, como em Cannes e Berlim, trazendo também pra casa dois Oscars de melhor Filme Internacional : “A História Oficial”, em 1986, e “O Segredo dos Seus Olhos”, em 2010, além de ‘exportar’ atores como Ricardo Darín, Leonardo Sbaraglia e Cecília Roth para produções europeias. Além disso – e não é pouco – o setor gera direta e indiretamente 3,1% do emprego nacional, o que significa um total de 634.465 postos de trabalho.
Nada disso foi levado em conta pelo presidente Javier Milei, que já durante o período eleitoral fazia campanha contra a cultura em geral. As ameaças contra a indústria do cinema se materializaram há poucos dias, quando o Ministério de Capital Humano da Argentina anunciou cortes orçamentários no Incaa , praticamente, inviabilizando seu funcionamento.
Como nossos hermanos não são de entregar-se sem lutar, criaram rapidamente a coligação Cine Argentino Unido, liderada por associações de profissionais de cinema. Em comunicado, a CAU manifestou-se: A Argentina construiu uma indústria cinematográfica vibrante, heterogênea e dinâmica desde o seu início. Desde 1944, o país conta com instituições estatais que regulam e promovem a atividade cinematográfica utilizando os recursos gerados pela exploração audiovisual. Hoje, a indústria cinematográfica envolve dezenas de milhares de empregos de qualidade e forma profissionais que colaboram em coproduções em todo o mundo […] Nada disso teria sido possível sem políticas públicas de promoção da cultura e sem a Lei do Cinema que prevê verbas específicas para a atividade.
Cineastas e artistas de outros países, como Pedro Almodóvar, Alejandro González Iñárritu e Kleber Mendonça assinaram o manifesto a favor dos colegas argentinos.
A medida atinge diretamente também o Brasil, um país que tem várias coproduções com o cinema e a TV do país vizinho. Ficamos na torcida para que encontrem uma solução para o impasse que pode prejudicar uma manifestação cultural tão importante. (Veja o vídeo)
Alguns filmes argentinos em streaming para ver ou rever
O acervo de produções argentinas nas plataformas é bem rico, aqui estão apenas algumas:
Netflix: A história oficial, Argentina, 1985, Abutres, Elefante Branco, Minha obra prima, Norma, Inseparáveis, Crimes de família, Cavalos selvagens
Prime Vídeo : Argentina, 1985, Relatos Selvagens, Tese sobre um homicídio
Star+ : O segredo dos seus olhos, O clã, Nove rainhas, Um conto chinês, Um amor inesperado, Klóbic
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LANÇAMENTOS DA SEMANA NAS PLATAFORMAS FILMES
Pobres criaturas – direção: Yorgos Lanthimos – 2023 – Star+
Um dos destaques nas estreias em streaming é o filme que deu a Emma Stone o Oscar de Melhor Atriz, superando a favorita Lily Gladstone de ‘ Assassinos da lua das flores’. Ela interpreta Bella, uma jovem que volta à vida quando um cientista implanta o cérebro de um bebê no seu corpo. Baseado no livro homônimo de Alasdair Grey que traz referências claras ao romance ‘ Frankenstein’ de Mary Shelley, o filme traz Willem Dafoe e Mark Ruffalo no elenco. Vencedor de mais três Oscars com ‘Pobres Criaturas’, o diretor grego aumenta seu cacife em Hollywood.
Anatomia de uma queda – diretora: Justine Triet – 2023 – Prime Vídeo
O vencedor francês da Palma de Ouro em Cannes também concorreu em cinco categorias no Oscar deste ano. Sandra, Samuel e Daniel, seu filho deficiente visual de onze anos, vivem isolados nas montanhas. Um dia, Samuel é encontrado morto ao pé da casa deles. A investigação leva à conclusão de uma morte suspeita: é impossível saber se ele tirou a própria vida ou foi assassinado. A viúva é indiciada, tendo seu próprio filho no meio do conflito. Mais que apenas um ótimo filme de tribunal, ‘ Anatomia de uma queda’ toca em outros aspectos profundos.
Shirley para presidente – direção: John Ridley – 2024 –Netflix
A Shirley (Chisholm) do título foi a primeira congressista negra e também a primeira mulher negra a concorrer à presidência dos EUA, em 1972. Essa cinebiografia conta a história da campanha presidencial histórica e revolucionária de Shirley, baseada em conversas com familiares, amigos e pessoas que trabalharam com ela. A ótima Regina King interpreta o papel da pioneira. Esse foi também o último filme de Lance Reddick , conhecido pela série ‘ The Wire’ e ‘ John Wick’, que morreu aos 60 anos, no ano passado.
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SÉRIE EM DESTAQUE
O problema dos três corpos – 08 episódios – 2024 – Netflix
Baseado na trilogia de livros com o mesmo título, “O Problema dos três Corpos”, do escritor chinês Cixin Liu – vencedor de vários prêmios literários – traz o selo de qualidade dos criadores de ‘Game of Thrones’. A trama dessa ficção científica se passa na China em meio à sua Revolução Cultural, ao final dos anos de 1960.
Um grupo de astrofísicos, militares e engenheiros decidem realizar um projeto para se comunicar com possíveis habitantes fora da Terra. A partir dessa experiência o nosso planeta acaba ameaçado, cinquenta anos depois, por forças desconhecidas. Agora, eles terão que sobreviver a uma visita inesperada, enquanto cientistas do tempo presente tentam desvendar os segredos e mistérios do projeto realizado anos atrás. A conferir.
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DESTAQUE NOS CINEMAS
Saudosa maloca – direção: Pedro Serrano – 2024
A música Saudosa Maloca, um dos maiores sucessos de Adoniran Barbosa, serviu de inspiração para o filme. Trata-se de uma ideia muito criativa, onde o próprio Adoniran – interpretado pelo Titã, Paulo Miklos – conta a história dos personagens dessa composição [ quem não lembra de Matogrosso e o Joca tendo que abandonar a maloca onde moravam?] e de outros de suas composições, verdadeiras crônicas de uma São Paulo que não existe mais.
Mostra Af de Cinema – Francofonia 2024 – Cine Paradigma- 20h45
Uma excelente oportunidade para conhecer produções em língua francesa. E o melhor: com entrada gratuita, oferecida pela Aliança Francesa. Programe-se.
22/03 Sexta – La Ligne (Suiça)
23/03 Sábado – La Mariée En Noir (Luxemburgo)
24/03 Domingo – Bungalow (Quebec)
25/03 Segunda – Trois Jours et une Vie (Bélgica)
26/03 Terça – Sur les Chemins Noirs (França)
27/03 Quarta – Annie Colère (França)
C´est fini
*Fotos: Divulgação/Reprodução
