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Da cesta básica à trufa negra

Da cesta básica à trufa negra

Da cesta básica à trufa negra

Eu pensei que todo mundo fosse

filho de Papai Noel… (canção popular)

Estava zapeando pelos canais de TV aberta no domingo passado, quando me deparei com um retrato emblemático do natal no país. Um dos programas semanais abria com uma reportagem sobre a fome que atinge dezenove milhões de brasileiros, outro mostrava uma ceia natalina de luxo.

Em uma mesa, lindamente decorada com cristais de murano, a repórter degustava seis pratos que incluíam até trufa negra, o cogumelo que pode custar quatro mil reais o quilo, usada em lascas sobre o manjar. O cálculo aproximado da refeição completa foi de dois mil reais por pessoa.

Na matéria da outra emissora, um grupo de pessoas se movimentava para atender centenas de famílias que não teriam o que comer no natal, não fossem as doações de cestas básicas. Outra entidade escolheu servir o alimento pronto porque muitos não têm sequer gás para cozinhar. Entre tantas histórias comoventes, as das crianças que preferiram levar a “quentinha” pra casa para dividir com a família foi um soco no estômago e uma lição de vida.

Para deixar bem claro: não estou criticando a belíssima ceia refinada. Também aprecio a boa mesa e admiro a criatividade dos grandes chefs. Apenas me chamou a atenção o quanto ali, na escolha das pautas, ficava escancarada a imensa desigualdade que assola o Brasil.

O mais importante para mim nisso tudo, porém, foi ver muita gente arregaçando as mangas e ajudando os outros. Em grande parte, pessoas que também têm pouco. Como dona Maria Lourdes da Silva que recebeu boa quantidade de alimentos como doação e quis repartir.

Não condeno quem come trufas ou bebe champagne de oitocentos reais a garrafa. Reclamo de quem não sabe “dividir o pão”, como falou dona Lourdes. Lamento os indiferentes à fome , às vezes de seres bem próximos.

Tem-se falado tanto em polarização político-ideológica, mas a divisão mais contundente, a que separa os humanos em dois grupos são: egoísmo X solidariedade ou, crueldade X bondade, como queiram. Uma boa reflexão para esta época do ano: em qual deles você se encaixa?

Enquanto você pensa, desejo feliz natal e mesa farta a todos. (BP)

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MICROCONTO DE DOMINGO

Desafio proposto pelo professor e escritor, Robertson Frizero, ao @literaturaminima: miniconto em 50 palavras sobre refugiados, imigrantes, famílias forçadas a viverem fora de sua terra natal. Em 2022, os textos serão reunidos em uma coletânea, para ajudar entidades de apoio a pessoas em deslocamento.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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