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Meus dois arianos favoritos

Meus dois arianos favoritos

Hoje, permito-me um assunto bem pessoal. Confesso que sinto um pouco de dó de quem é filho único. Apesar de ficar com os mimos maternos e a atenção paterna só para si, o unigênito é privado de uma relação muito especial. Deve ser frustrante não ter irmãos.

Tenho sorte de ter dois que, por coincidência, fazem aniversário em dias seqüentes de março. Os arianos nasceram em um intervalo de onze anos. Eu, a única irmã, sou a do meio.

Apesar da diferença de apenas quatro anos, o mais velho sempre foi o meu irmãonzão. Como ficamos órfãos de pai muito cedo, coube a ele começar a trabalhar aos 14 anos para auxiliar nas despesas da casa. Na época, existia a chamada carteira profissional de menor. Uma experiência difícil para alguém tão jovem, mas que nos ajudou a sobreviver.  Antes disso, ele foi também aquele que puxava meu cabelo, me cutucava e fazia chorar. A mãe encerrava a briga, dando umas chineladas em ambos. Mais tarde, tornamo-nos companheiros de matinês e cúmplices na hora de esconder nossas pequenas transgressões.

O caçula chegou quando eu tinha oito anos. Apesar da pouca idade, precisei ajudar a cuidar do bebê depois que meu pai adoeceu. Posso dizer que o maninho é um sobrevivente. Eu o colocava no carrinho de vime e corria pela rua, passando sobre pedras e buracos, como se fosse o Emerson Fittipaldi, referência de velocidade daquela época.  Ainda bem que o menino resistiu, pois cresceu e me encheu de orgulho ao longo da vida. Inteligente, caloroso, cheio de talentos, assim é o “endez”, como o chamavam na família, referindo-se ao derradeiro ovinho do ninho da galinha.

Só posso agradecer à vida por tê-los como irmãos. E, como se não bastasse, ainda me presentearam com seis sobrinhos maravilhosos.
Feliz aniversário, manos queridos.

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MICROCONTOS

O desafio proposto pelo mentor do Literatura Mínima, o escritor e professor, Robertson Frizero, foi um miniconto com, no máximo, cem palavras sobre alguma mulher marcante na nossa vida. Busquei inspiração na minha família.

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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