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Opióides, assédio sexual, zumbis e o adeus a uma diva

Destaque: O império do dor

Acaba de chegar na Netflix mais uma produção que expõe a crise dos opiáceos na sociedade americana. Dessa vez, trata-se de uma minissérie ficcional, mas muito próxima dos fatos que levaram os EUA ao flagelo que parece sem volta. “O império da dor “ mostra como a família Sackler, liderada por Richard Sackler, sobrinho do falecido fundador, lançou no mercado a OxyContin, uma droga contra a dor, mesmo sabendo que ela não era segura.

Apesar de ter apenas seis episódios, a série – baseada no livro “ Pain Killer”, de Barry Meier –  tenta cercar todos os aspectos do problema, desde sua origem , nos anos 1990, até as terríveis consequências. A farmacêutica  Purdue Pharma foi a responsável pela medicação que prometia curar qualquer dor, sem graves efeitos colaterais. O rótulo prometia afastar o paciente de  outras drogas e pregava que apenas 1% das cobaias tinham se tornado dependentes. Era mentira, o OxyContin produziu milhões de viciados e provocou inúmeras mortes.

Richard, interpretado por Matthew Broderick, o executivo sênior foi o responsável pela mega campanha de marketing, que incluía belas jovens como propagandistas junto aos médicos. Se a droga gerou tragédias familiares, gerou também bilhões de dólares para os acionistas da empresa. Era o que importava. A trama passa pela infância de Richard para tentar explicar como alguém podia causar doença e mortes conscientemente. Broderick, sempre lembrado pelo jovenzinho de “Vivendo a vida adoidado”, está muito bem no papel do insensível e ganancioso empresário.

A história é conduzida por Eddie Flowers, investigadora do Ministério Público dos Estados Unidos, personagem da ótima Uzo Aduba. É ela que vai contando como tentou durante anos fazer a Purdue Pharma ser indiciada. Foi uma luta entre David e Golias, onde o dinheiro falou mais alto, com suborno de algumas áreas envolvidas.

Paralelamente, acompanhamos a destruição de uma família feliz, depois que o pai sofre um acidente na oficina onde trabalha e o médico recomenda o novo remédio contra a dor. “Algum efeito colateral?” – pergunta a esposa do paciente. “Sim, prisão de ventre”, responde o médico rindo. Esqueceu de dizer que o homem ia se viciar em OxyContin.

Na abertura de cada episódio, pais e mães reais mostram a foto e falam dos filhos mortos pela droga. É de cortar o coração.

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Outras produções sobre o tema:

O crime do século – 02 episódios – HBO/HBO Max

Esse documentário original da HBO revela em longa investigação como funciona a bilionária indústria responsável pela epidemia de opioides nos Estados Unidos. Enquanto responsáveis faziam vista grossa, mediante suborno, doação para campanhas políticas, presentes caros, a população caía no vício por causa, muitas vezes, de dores comuns. Dividido em duas partes, de aproximadamente duas horas cada, a série documental tem direção do vencedor do Oscar Alex Gibney.

 

Dopesick – 08 episódios – Star+

Essa série é anterior ao “Império da dor” e também conta a trajetória da gananciosa família Sackler. O fio condutor é Samuel Finnix (Michael Keaton), o médico bem intencionado de uma pequena cidade de mineiros. Ele percebe o mal que a nova droga OxyContin, vendida como não viciante, acabou levando milhares de pessoas ao vício e à morte. A série foi indicada ao Emmy, considerado o Oscar da TV, e Michael Keaton levou o prêmio de Melhor Ator em minissérie.

 

Prescrição fatal– documental – 02 partes – Netflix

“The Pharmacist” segue Daniel Schneider, farmacêutico de uma cidadezinha da Louisiana, que perdeu um filho para os viciantes medicamentos derivados do ópio. O jovem perdeu a vida quando buscava o opiáceo junto a traficantes. Daniel não se conforma por ele mesmo comercializar legalmente a droga que levou milhares de outros jovens à morte, sem saber do seu potencial viciante.

 

Destaque em filmes

Ela disse – direção: Maria Schrader – 2022 – Telecine/Now

A história de duas jornalistas do New York Times que mudou Hollywood foi esnobada pelo Oscar, mas recebeu outros prêmios importantes. Megan Twohey e Jodi Kantor escrevem uma das reportagens mais importantes da atualidade que ajudou a lançar o movimento #MeToo e quebrou décadas de silêncio sobre os casos de agressão sexual em Hollywood. Em 2017, a repórter do New York Times Jodi Kantor recebe uma denúncia de que a atriz Rose McGowan foi abusada sexualmente pelo produtor de Indiewood, Harvey Weinstein. Acabava ali, a trajetória de um dos produtores mais influentes do cinema, mas também um predador sexual. O filme consegue manter um clima de suspense durante a investigação e mostra como funciona um grande jornal diante das ameaças de processos quando enfrenta alvos poderosos.

 

Crime na rodovia Paraíso – direção: Ana Gutto – 2022 – Prime Vídeo

Dois nomes de peso em um filme que está longe de ser um arrasa-quarteirão. Morgan Freeman é o detetive aposentado, ajudando um jovem investigador a descobrir quem assassinou um traficante de crianças numa estrada. O filme foi recebido com reservas, mas tem bons momentos de suspense ao abordar o tráfico humano. Juliette Binoche mostra porque é uma das minhas atrizes favoritas. Longe da sua elegância e charme habituais, a francesa interpreta uma rude caminhoneira que para proteger o irmão, preso por tráfico de drogas, faz transporte de mercadoria roubada. Até que, pouco antes do irmão ser libertado, ela precisa entregar uma carga humana: a menina Leila. No meio do dilema e do perigo, ela conta com a sororidade das outras motoristas de caminhão.

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Termina o Festival de Cinema de Gramado

Acontece amanhã (19), no Palácio dos Festivais, a Cerimônia de Premiação da 51ª edição do Festival de Cinema de Gramado. A entrega dos Kikitos para as mostras competitivas de longas-metragens brasileiros, documentais e gaúchos será transmitida, ao vivo, pelo Canal Brasil a partir das 21 horas.

 

Nota triste no Festival

Por ironia do destino, a atriz Léa Garcia, de 90 anos, faleceu em Gramado no dia em que seria homenageada no Festival de Gramado, com o troféu Oscarito, ao lado de Laura Cardoso, 95 anos. Léa já havia recebido quatro Kikitos ao longo da carreira. Talvez as novas gerações não conheçam sua importância para o cinema nacional. Ela foi a primeira intérprete brasileira a receber uma indicação a Melhor Atriz no Festival de Cinema de Cannes, em 1957, por seu trabalho em “Orfeu do Carnaval”. Fez também teatro e tornou-se pioneira entre as atrizes negras a fazer novelas na televisão, ficando muito conhecida em “Escrava Isaura”. Léa sempre lutou pela ampliação do espaço para artistas negros, fora do estigma dos papéis de sempre.

Ela estava feliz. Em  recente entrevista à revista Veja, ela contou que  “por incrível que pareça o auge da minha carreira está sendo agora. Diante de tantos prêmios, biografia, convites para festivais de cinema, festivais de teatro e também programas em televisão. Isso tudo está movimentando muito a minha vida”.

No dia 25 de agosto, o público poderá assistir no Canal Brasil ,  “Vizinhos” , um dos últimos trabalhos da grande atriz.

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Artigo

Nesta edição vocês lerão tudo sobre um subgênero que não costumo postar, por total desconhecimento do tema.  Meu amigo e professor, o escritor  Robertson Frizero, vai cobrir essa lacuna com o artigo escrito especialmente para a coluna. A história de abertura é de arrepiar!

É isso, demorou, mas os zumbis invadiram o Cine&Séries.

Os zumbis estão chegando!            

Zumbis existem. E não é história de cinema – nem é como os filmes nos ensinaram a ver os mortos-vivos. Mas que existem, existem.

Em 1980, Clairvius Narcisse entrou no vilarejo de L’Estere, no Haiti, e apresentou-se à família depois de um longo tempo desaparecido. Os familiares só acreditaram que era mesmo ele ao ouvirem as histórias do passado e o apelido de infância que ele usou para se identificar. A razão do espanto era simples: Clairvius Narcisse tinha sido visto pela última vez dentro de um caixão, prestes a ser enterrado, quando tinha apenas dezoito anos.

O caso Narcisse motivou uma ampla investigação nos anos 1980. Antropólogos, biólogos e outros cientistas de diversas áreas da medicina acorreram às vítimas em busca de respostas. Descobriu-se então que alguns feiticeiros vodus conseguiam colocar as pessoas em um estado catatônico semelhante à morte – e, depois, secretamente, resgatá-las do sepultamento e reanimá-las, mantendo-as depois em estado semicatatônico, trabalhando como verdadeiros escravos zumbis em suas plantações.

Não sei como os roteiristas de cinema nunca adaptaram essa incrível história real. Mas os mortos-vivos tornaram-se um novo subgênero de terror em expansão nas últimas décadas. O curioso é a evolução dos zumbis ao longo dessa recente obsessão dos roteiristas e diretores por essa vertente do cinema de sustos.

A fonte inicial era essa informação básica oriunda da cultura haitiana – zumbi é uma palavra da língua quimbundo que significa exatamente defunto. No vodu, os zumbis são mortos que retornam à vida graças a rituais de magia; nessa semi-vida, os zumbis teriam hábitos noturnos e viriam para se vingar das pessoas que lhes teriam feito mal em vida. Mas, por ausência de cérebro, agiriam apenas com os instintos básicos mais primitivos – o que incluiria ver nos humanos vivos apenas presas para o abate.

O cinema foi bebendo aos poucos dessa fonte e criando, filme a filme, um novo mito. Se nos primeiros filmes de zumbi os mortos-vivos arrastavam-se lentamente para atacar os vivos – afinal, estavam saindo da tumba e com várias partes faltando de sua anatomia carcomida… –, atualmente os zumbis são velocistas e sua transformação é praticamente automática. Como um admirador do gênero – não me perguntem a razão –, fiz uma lista bem limitada de dez produções (mais duas) – filmes (podemos falar de séries, incluindo um reality show zumbi, em um artigo posterior, se interessar) que o leitor interessado pode acessar nas plataformas de streaming mais conhecidas, por sua conta e risco. Nos comentários, o leitor perceberá como se deu no cinema a evolução (?) do mito dos zumbis até chegarmos ao estado atual da cine-necromancia… Farei também um comentário breve, ao final de cada resumo, do nível de tensão, do tipo de zumbi e do tempo e forma de contágio…

MADRUGADA DOS MORTOS (2004) – Zack Snyder aparece em dois momentos nesta lista, e este é o seu melhor momento, já adianto: Madrugada dos Mortos tornou-se um clássico do gênero – mesmo sendo, é bom lembrar, uma refilmagem inteligente de um dos clássicos iniciais dos filmes de zumbis, o Despertar dos Mortos (1978), de George A.  Romero (o outro digno de menção é A Noite dos Mortos-vivos (1968), do próprio Romero, com zumbis que ainda se arrastavam.. O filme começa com uma fantástica cena de abertura que parte de um cotidiano despertar e lança o espectador diretamente no olho do furacão. Em pouco tempo, esquece-se que a enfermeira loira da primeira cena é a protagonista que se deve acompanhar – Snyder coloca em um shopping center um elenco crescente de personagens com suas manias e motivações, lutando como podem contra uma horda enorme de zumbis que, não se sabe o porquê, acabam se concentrando em volta do tal shopping. Uma crítica ao consumismo? Talvez. Mas o dinâmico roteiro é mais que isso: une humor, sustos e bizarrices para todos os gostos, com direito a um bebê zumbi que tirava o sono dos primeiros espectadores, então não acostumados aos efeitos especiais do cinema. Os zumbis são rápidos, mordem e mantém o nível de tensão suficiente para se ficar atento à tela sem desviar muito a atenção.

 

GUERRA MUNDIAL Z (2013) – Não conheço os quadrinhos que teriam dado origem ao filme, mas creio que o roteiro deste filme-catástrofe com zumbis merece ser destacado dentro desse gênero. É terror-aventura, se podemos dizer assim, com Brad Pitt no papel de um ex-colaborador da ONU convocado às pressas para atuar na frente de combate em busca de uma cura para a epidemia de zumbis que se espalha pelo mundo. O personagem de Pitt é altamente treinado pela vida e não perde a calma nem mesmo para amputar um…não vamos adiantar nada do enredo. Tive o privilégio (?) de assistir ao filme em uma tela IMAX 3D e recomendo não recomendando – quase morri da tensão contínua do filme. Os gatilhos estão todos ali: o herói que aceita salvar o mundo por causa da família, a filha asmática, um filho agregado postiço que salvam no caminho, problemas no avião… Tudo isso enquanto escapam por pouco dos zumbis mais rápidos e desesperados do cinema, mistura de velocistas e acrobatas, capazes de se empilhar como legos ou pularem de penhascos sem nem questionar – não que eles tenham cérebros funcionando de qualquer forma. É um dos poucos filmes que te dá até o número de segundos necessário para que a contaminação faça efeito. Mas as explicações estão todas ali – inclusive para o final belamente construído. Fala-se em uma sequência em breve – o que é muito coerente com o final deste primeiro filme. Sem exageros, é um dos melhores filmes do gênero;

 

RESIDENT EVIL – O ÚLTIMO CAPÍTULO (2016): Umbrella corporation, Racoon city, Alice, zumbis carnívoros de laboratório… Se essas palavras não despertaram nada em você, é porque passaste incólume pela febre dos videogames da série Resident Evil e seu universo. Os filmes – foram vários, somando longa-metragens, sejam live-action ou animações, e séries derivadas – buscam manter o mesmo nível de tensão dos jogos e convencer com a intrincada trama capitalista que teria lançado o mundo em um apocalipse zumbi por ganância corporativa… Mas não convencem muito. O melhor da franquia será sempre Milla Jovovich, que dá veracidade a uma personagem bastante inverossímil e cuja beleza e carisma parece só aumentar ao longo dos anos… Os zumbis são uma ameaça assustadora e rendem uns bons sustos.

 

ORGULHO, PRECONCEITO & ZUMBIS (2016) – Sim, é isso mesmo que você já pescou: o célebre romance de Jane Austen acrescido de zumbis aterrorizantes. E funciona maravilhosamente bem! Continua ali a mesma crítica social do romance original, mas agora com a ameaça constante de zumbis soltos pelos campos ingleses. A diferença de classes é marcada, por exemplo pelo local para onde as famílias enviam seus filhos para treinar artes marciais e, assim, defenderem-se daqueles deselegantes mortos-vivos: as famílias aristocráticas mandam seus filhos e filhas para o Japão; as menos abastadas, para a China, mais baratinha… Nesse imbroglio, o romance confuso entre Elisabeth – vivida pela perfeita Lily James – e Darcy. Diversão garantida. E horror – o filme não alivia na tensão e no asco ao lidar com seus zumbis. O filme acerta também ao estabelecer zumbis em velocidade normal e compreensível estado de putrefação. Realismo histórico – é fácil imaginar que a Inglaterra agiria daquela exata maneira se os zumbis tivessem eclodido em pleno século XIX;

 

INVASÃO ZUMBI (2016) – O filme do coreano é uma obra-prima do gênero. Sabe explorar as vantagens da ambientação restrita – a trama acontece quase toda dentro de um trem em movimento – e as histórias pessoas de diversos personagens, sem perder o foco no drama principal do pai workaholic que tenta compensar sua ausência levando a filha para visitar a mãe da menina em uma cidade distante bem no dia em que eclode um apocalipse zumbi na Coreia do Sul… A tensão é constante; os zumbis são do tipo velozes & furiosos; e o contágio é semi-automático – os contagiados mais importantes chegam a fazer breves discursos – e via mordida…

 

CARGO (2018) – Um filme de zumbis australiano que consegue balancear horror e drama, em uma história que chega a comover em diversos momentos.  Traz um pouco da própria história da Austrália e sua relação com aborígenes ao mostrar uma pequena família – um casal e uma bebê – que desce um rio pacífico em busca de fugir de uma epidemia zumbi da qual jamais se fala e nada se explica. Esse, aliás, é um dos acertos do roteiro: ele não se rende à tentação fácil de explicar demais em diálogos das personagens, arriscando a verossimilhança das conversas entre aquelas pessoas. Tudo é sugerido e facilmente captado pelo espectador. Bem, as circunstâncias vão se complicar rapidamente para esses personagens e o espectador passa a acompanhar sua luta pela sobrevivência – que inclui o destino de brancos e aborígenes nesse novo cenário de caos. As interpretações são incríveis e o drama é mantido naturalmente pelo roteiro bem escrito. Comovente, mais que assustador;

 

#ALIVE (2020) – Feito em plena pandemia, é um filme tenso do início ao fim. É angustiante porque, de início, deixa-nos colado ao protagonista, um jovem nerd que acorda e descobre que está sozinho em casa e o mundo está tomado de zumbis. A solidão faz com que ele tenha que assumir as decisões sobre sua sobrevivência. No auge do desespero, acaba descobrindo que há outros como ele. Rende até uma metáfora ao covid-19… O roteiro é muito bem construído, com momentos de verdadeiro horror e alta tensão desde o início. O contágio é pela mordida e os zumbis relativamente rápidos;

 

ARMY OF THE DEAD – INVASÃO EM LAS VEGAS (2021) – Zack Snyder sabe dirigir filmes de ação e tem uma maravilhosa plataforma em Hollywood para fazer isso de maneira grandiosa. O filme traz todos os elementos de um bom blockbuster norte-americano – heróis que carregam um passado mal resolvido, uma tragédia de proporções épicas, munição infinita e armas que nunca engasgam. Aqui, os zumbis são o impedimento para que um grupo de ladrões muito especializados, reunidos para aquela específica missão, adentrem uma Las Vegas isolada por conta de uma eclosão de zumbis e resgatem uma fortuna em um cofre impossível de ser aberto, mas que eles logicamente acessarão com habilidades incomuns. Muita tensão, sustos, morte de personagens que o espectador considerava essenciais e tudo o mais que uma grande produção de filme de ação hollywoodiano pode ter. Tem sua graça, é altamente irônico o filme, mas no quesito zumbis é um tanto exagerado – há zumbis pensantes, dentre eles um aspirante a Átila, rei dos hunos, com direito a uma companheira igualmente letal. Enfim, zumbis ágeis e estrategistas, que destroem contaminando em um filme de muita tensão, mas que se torna meio esquecível assim que se acaba de assistir. Recomendo ver EXÉRCITO DE LADRÕES – INVASÃO DA EUROPA (2021), uma história sobre a escolha de um dos ladrões antes das ações de Las Vegas, um filme bem mais inventivo e interessante, do mesmo diretor;

 

BASTARDOZ (2022) – Se o título remete a “Bastardos Inglórios” de Quentin Tarantino, é proposital: o filme passa-se em plena revolução espanhola, quando um grupo de opositores de Franco descobre que os nazistas estão na Espanha, com o conluio do governo fascista, para levar a cabo uma experiência com…zumbis! O filme é essa bizarra mistura de história, humor que não faz rir muito e terror que não consegue aterrorizar demais. A tensão até ocorre, mas não é um filme memorável a não ser pela fusão de ficção histórica e mortos-vivos. A velocidade dos zumbis é até tolerável;

 

100 COISAS PARA FAZER ANTES DE VIRAR ZUMBI (2023) – Esta comédia japonesa é uma ótima diversão para os amantes do gênero. O protagonista é um jovem rapaz que, recentemente, conseguiu conquistar o seu primeiro emprego. Mas o lugar é um purgatório – ele não tem mais vida; trabalha muitas horas-extra e deixa de fazer tudo o que lhe dava prazer na vida. Por sorte, eclode um apocalipse zumbi que lhe traz uma nova perspectiva de vida – ele vê como inevitável seu fim e resolve fazer uma lista de cem coisas que quer fazer na vida antes de virar um zumbi (daí o título). Há, sim, a tensão habitual da luta pela sobrevivência, mas em pouco tempo o espectador perceberá que o filme é uma bem-humorada crítica ao capitalismo à japonesa. O roteiro não está preocupado em explicar nada sobre a origem do mal – a metáfora maior aqui é outra. Os zumbis são semi-atléticos e o contágio é por mordida mesmo. Para assistir comendo pipoca e sentir-se satisfeito, não raro fazendo a sua própria lista do que fazer antes do fim dos tempos. O filme é uma das adaptações para o mangá homônimo de Haro Aso e Kotaro Takata  – a outra, também disponível no mesmo streaming, é em anime e curiosamente produzida no mesmo ano.

 

E, em uma categoria muito especial, TODO MUNDO QUASE MORTO (2004), um filme franco-britânico feito no mesmo ano do Madrugada dos Mortos de Snyder, é o filme mais divertido de zumbis jamais feito. O título original traz o nome do protagonista, Shaun of the Dead – Shaun, vivido pelo genial Simon Pegg (o expert em tecnologia da franquia Missão: Impossível –, é um trabalhador comum que sustenta um amigo vagabundo que frequenta sua casa e por lá vai ficando… Depois de levar um ultimato da namorada, que não aguenta mais a falta de ambição de Shaun, ele desperta de uma noitada com os amigos em pleno apocalipse zumbi. Shaun torna-se o herói possível para salvar seus amigos e impressionar a namorada; acabam todos refugiados no lugar preferido de Shaun – o pub da esquina, único lugar para onde ele sempre leva a namorada… O filme é uma comédia rasgada que faz referência aos clássicos filmes de Romero filtrados pelo inteligente humor britânico. Tudo que pode dar errado dará e o final é perfeito, simplesmente hilariante.

 

O outro filme que não poderia faltar nesta categoria especial é ZUMBILÂNDIA (2009), uma comédia muito bem escrita que brinca justamente com os clichês do gênero. O protagonista é Columbus, um nerd atrapalhado vivido por Jesse Eisenberg (de “A Rede Social”), conta sua história de como conheceu os outros três membros do improvável quarteto de sobreviventes do fim do mundo – todos se chamam pelo nome da cidade de origem e Columbus vai enumerando ao espectador as regras para se dar bem em Zumbilândia (ou seja, nesse novo mundo repleto de zumbis). É um humor americano, mas inteligente e nada escatológico, com direito a uma sequência hilariante com Bill Murray vivendo (e morrendo) ele mesmo. E que filme não fica melhor com a loucura de Woody Harrelson e seu Tallahassee? O ótimo elenco ainda reúne as irmãs espertas Wichita (Emma Stone, a oscarizada atriz de “La La Land”) e Little Rock (Abigail Breslin, a menininha de “Pequena Miss Sunshine”). É diversão garantida em um roteiro bem construído. Ganhou uma sequência, ZUMBILÂNDIA 2, também disponível no streaming, mas bem menos inspirada. O primeiro foi um sucesso tão grande que vai virar uma série em breve.

 

Faltou algum? Certamente que sim. A lista não pretende ser completa, nem o espaço gentilmente cedido pela titular da coluna é infinito. Mas se houver alguma sugestão de filmes que deveriam estar por aqui – ou interesse para que o tema ganhe sua versão de séries zumbis –, é só entrar em contato antes que o apocalipse zumbi nos atinja.

 

THE END

 

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

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