A lição de Roseli
Por um desses acasos da vida, logo após a publicação da crônica do domingo passado (leia aqui) – onde comento a onda dos fashionistas comprarem por milhares de reais as bolsas com formato de saco de lixo e tênis sujos rasgados da grife Balenciaga – conheci Roseli Ferreira Alves no Instagram.
Roseli é catadora e faz vídeos mostrando as coisas reutilizáveis que encontra no lixão. São lençóis, cortinas, brinquedos, roupas de vestir, que ela seleciona, lava e conserta para uso próprio e de familiares. Lembrei da nossa conversa sobre a indústria da moda apropriar-se da “estética dos pobres”, sendo capaz de vender um par de chinelos imitando o que pessoas usam por necessidade nos “grotões da África”, parafraseando a recente expressão de um candidato presidencial.
Há tantas coisas unindo essas duas histórias que renderia uma tese sociológica. Pena que sou apenas uma mera cronista.
É inacreditável o que as pessoas jogam fora, como mostram os vídeos dos “achadinhos de hoje no lixão”(by Roseli). Fico imaginando porque não doam, então. Minha mãe e tias passavam uma existência usando as mesmas toalhas, clareadas com anil. Os lençóis velhos não iam para o lixo, viravam paninhos para tirar o pó dos móveis. Hoje, na era dos descartáveis produtos chineses, há montanhas de coisas ainda aproveitáveis das quais as pessoas se desfazem sem dó.
Penso também em que os mais de nove mil reais gastos na compra de um par de tênis sujo e gasto da marca espanhola, alimentaria uma família em situação de vulnerabilidade por vários meses.
Mas, voltando ao que interessa: Roseli! Ela possui uma alegria e uma vivacidade que acabou atraindo quatrocentos mil seguidores, mais que certos ditos influencers! Alguns seguidores a ajudam financeiramente, outros romantizam a situação na linha “ dinheiro não traz felicidade”.
Seja como for, gosto de pensar que Roseli Ferreira Alves, a carismática trabalhadora brasileira que vive do que os outros não querem mais, deu o troco para a Balenciaga e uma lição a quem desperdiça e ostenta sem limites.
Obrigada, Roseli. Sou sua fã.
(Brígida De Poli)
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