Portal Making Of

Descaso com a história e o futuro de Florianópolis

Foto: Movimentos populares ocupam o auditório Antonieta de Barros durante audiência do Plano Diretor de Florianópolis / Crédito: reprodução internet.

Controversa posição. Os vereadores de Florianópolis precisam rever a coerência de seus atos. A Câmara de Vereadores de Florianópolis rejeita título de cidadão honorário para Gilberto Gil, mas aprova a entrega da Medalha Antonieta de Barros à deputada Ana Campagnolo (PL). Em ambos os casos o posicionamento é político-ideológico e a falta de conexão histórica. No caso de Gilberto Gil, o título representa o reconhecimento pela contribuição atemporal a arte, mas também de certa forma o acolhimento e reparação a prisão arbitrária do cantor durante a ditadura militar ocorrida na Capital.

Já conceder a medalha a uma deputada, que representa o oposto dos ideais defendidos por Antonieta de Barros para as mulheres e para a educação, mesmo diante da contrariedade dos familiares da própria Antonieta, é afronta ideológica e histórica, pois é incoerente com a trajetória e “valores” defendidos pela própria deputada.  Salvo se mudou de posição ideológica após ser barrada como 1º Vice-presidente da Alesc. Mesmo sendo a deputada mais votada nas últimas eleições, talvez tenha percebido que a questão coaduna com as bandeiras que ela própria defende (um tiro estrutural no próprio pé), mas isso é um tema para o divã (dela), porque é pouco provável que essa ficha tenha caído.

Enquanto isso, pautas importantes como o novo Plano Diretor de Florianópolis seguem na mesma caixinha do posicionamento ideológico-partidário, sem a conexão necessária com os aspectos ambientais e de mobilidade que tanto preocupam os movimentos sociais da Capital que, essa semana, levaram a suspensão o que seria a última audiência a sessão na Câmara.

 

Plano Diretor de Florianópolis
Foto: Manifestação popular – Plano Diretor Participativo para Florianópolis / Crédito: divulgação.

E por falar em Plano Diretor, o posicionamento do CDL de Florianópolis é lamentável. Num comunicado publicado como Nota Oficial, o autoritarismo fica evidente quando movimentos populares são tratados como antidemocráticos. O movimento popular é legitimo e está presente no mundo, uma história que vai muito além da percepção da Diretoria que endossou o documento. Antes de atirar pedra nos movimentos populares, legítimos e democráticos, é necessário entender a indignação dessas pessoas que saíram de suas casas e foram até a Câmara de Vereadores para se posicionar.

O que os movimentos populares reivindicam? O direito de participar de forma efetiva do Plano Diretor de Florianópolis. O que contestam? A forma burocrática das audiências públicas que estavam mais focadas mais nos discursos do que em ouvir sugestões. Uma cidade inteligente é aquela que consegue alinhar os avanços tecnológicos com o progresso social e ambiental, e está disposta a ouvir os seus cidadãos e cidadãs e, não apenas defender os cifrões oriundos de uma verticalização desenfreada. Se é para crescer que seja com inteligência e se é para ser participativo que todas as sugestões sejam consideradas – ato de ouvir é uma via de mão dupla:

A Câmara de Vereadores precisa ouvir, os interlocutores da Prefeitura também e a CDL de Florianópolis poderia ser interlocutora na construção de uma cidade sustentável, mas para isso é necessário olhar para o legado que se quer deixar para as futuras gerações e não apenas para o lucro gerado com o caos da verticalização sem a infraestrutura necessária para a mobilidade urbana e os cuidados ambientais.   O que aconteceu na Câmara de vereadores é a prova de que – felizmente – Florianópolis não é a terra de ninguém, mesmo com o tropeço da CDL de Florianópolis e de alguns vereadores da Capital.

 

Os colunistas são responsáveis por seu conteúdo e o texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal Making of.

Compartilhe esses posts nas redes sociais: